Lagarde encontra-se na capital chinesa para reuniões com o Banco Popular da China (banco central), segundo anunciou na terça-feira, através da rede social X.
A responsável destacou num discurso as crescentes dificuldades à cooperação internacional num cenário de "tensões comerciais" e "complexidade geopolítica".
"Os ajustamentos unilaterais para resolver fricções globais revelaram-se frequentemente insuficientes ao longo da história", afirmou Lagarde, sublinhando que estas medidas podem gerar "consequências imprevisíveis ou onerosas", sobretudo quando substituem políticas estruturais destinadas a lidar com as causas profundas dos desequilíbrios.
A presidente do BCE alertou para o aumento das fricções entre regiões com interesses geopolíticos desalinhados, num contexto em que essas mesmas regiões "estão mais integradas economicamente do que nunca".
"O incentivo à cooperação está a enfraquecer, mas os custos da não-cooperação aumentaram", advertiu.
Num mundo em processo de fragmentação, após décadas de globalização que não garantiu a todos os países as mesmas condições, Lagarde defendeu que a cooperação deve ser preservada.
"Alguns países de baixo rendimento registaram avanços notáveis -- nenhum mais do que a China", salientou. "As economias avançadas também beneficiaram, ainda que de forma desigual", notou, recordando que os consumidores obtiveram preços mais baixos e que muitas empresas europeias colheram ganhos substanciais ao subir na cadeia de valor.
Contudo, Lagarde sublinhou que o cenário atual é marcado por "níveis tarifários inimagináveis há poucos anos", impulsionados por um "realinhamento geopolítico" e pela perceção crescente de "injustiças no comércio internacional".
A presidente do BCE considerou que excedentes e défices não são problemáticos por si só, quando refletem fatores como a vantagem comparativa ou a evolução demográfica. "Tornam-se polémicos quando não são corrigidos ao longo do tempo e se atribuem a decisões políticas", apontou.
"Poucos países estão dispostos a manter dependência de outros", reconheceu, ressalvando que isso "não significa abdicar dos benefícios mais amplos do comércio".
Para Lagarde, o protecionismo não constitui uma solução sustentável: "as políticas comerciais coercivas não resolvem os desequilíbrios estruturais, apenas corroem os alicerces da prosperidade global".
A responsável apelou a soluções "cooperativas", que envolvam ajustamentos das políticas macroeconómicas tanto por parte de países com excedente como dos que registam défices, e defendeu uma transição para uma economia global "mais sustentável e assente em regras comuns -- ou melhoradas".
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