Hospital de Maputo é "Arca de Noé" de médicos estrangeiros há 50 anos

O antigo diretor do Hospital Central de Maputo Fernando Vaz assinala a "expansão da rede sanitária" como um marco da independência, recordando que em 1975 a unidade transformou-se numa "Arca de Noé", pelas "tantas nacionalidades" dos médicos.

Independências: Hospital Central de Maputo é uma "Arca de Noé" de médicos estrangeiros há 50 anos

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Lusa
16/06/2025 07:03 ‧ há 6 horas por Lusa

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Moçambique

"Aqui, no hospital, tínhamos cerca de 30 a 35 médicos e então vieram muitos médicos africanos, soviéticos, da Guiné-Conacri, da Zâmbia, vieram vários médicos apoiar. Eu costumava dizer que o hospital parecia uma 'Arca de Noé'. Tinha tantas nacionalidades que lhe chamavam a 'Arca de Noé'", disse à Lusa, em entrevista, Fernando Vaz, o primeiro diretor do Hospital Central de Maputo (HCM) pós-independência.

 

Este ano assinalam-se os 50 anos da independência de Moçambique, proclamada em 25 de junho de 1975 por Samora Machel, primeiro presidente moçambicano.

O antigo diretor do então Hospital Central de Lourenço Marques e vice-ministro da Saúde (1980), cumulativamente, recorda uma "fase muito difícil" para a maior unidade de saúde moçambicana, que recebia cerca de 1.000 doentes por dia, mas sem profissionais para responder à procura.

Ao hospital, que também se chamou Miguel Bombarda antes da independência, chegavam doenças de "tudo o que se possa imaginar", conta Fernando Vaz, referindo que a já então maior unidade do país dispunha de todos os serviços de saúde e "era tudo gratuito", embora poucos façam ideia de "como é que foi difícil".

"Eu, como diretor, fazia escalas de cirurgia e dava aulas e fazia as reuniões", recorda o também cirurgião, enaltecendo o papel dos enfermeiros, responsáveis pela formação de todos os outros profissionais de saúde, além de servirem de "elo entre os médicos e o povo".

"Felizmente a enfermagem garantia o funcionamento do hospital central. Eram os enfermeiros que garantiam, por isso é que eu fundei a Anemo, que é a Associação de Enfermagem de Moçambique, e criei a Ordem dos Enfermeiros, porque eu achava que a enfermagem é o elemento essencial para um Serviço Nacional de Saúde funcionar", disse Vaz, que foi também, mais tarde, ministro da Saúde e médico da família de Samora Machel.

Nascido em 06 de dezembro de 1928, em Maputo, Fernando Vaz é também membro fundador da Ordem dos Médicos de Moçambique, da Clínica Especial de Maputo, do Instituto Superior de Ciências de Saúde de Maputo e sócio fundador e honorário da Cruz Vermelha de Moçambique.

Vaz frequentou o ensino superior na Faculdade de Medicina na Universidade Clássica de Lisboa e especializou-se em cirurgia geral nos hospitais civis de Lisboa e em medicina tropical e foi o único cirurgião de Timor-Leste (1963-1969), tendo regressado, finalmente, a Moçambique 20 anos depois e passado para cirurgião do hospital, além de assistente de cirurgia na universidade de medicina.

Já na liderança da "Arca de Noé", Vaz conta que o Governo definiu no período pós-independência cinco prioridades para o setor de saúde: A expansão da rede sanitária em todo o país, o investimento em medicina preventiva, saneamento do meio, abastecimento de água e lixos, habitação e vacinações e formação intensiva dos trabalhadores de saúde.

"O doutor Hélder Martins [primeiro ministro da Saúde pós-independência] defendeu a estratégia dos cuidados de saúde primários, que prevê o posto de saúde, o centro de saúde, hospital rural, provincial e central (...). Felizmente apareceu isso", disse o cirurgião.

Passados 50 anos de independência, Fernando Vaz afirma que o setor de saúde "evoluiu de uma forma muito positiva", destacando o aumento de unidades.

"Primeiro, acabou-se com o racismo e acabou-se com discriminação. Todos os doentes são tratados da mesma maneira, isto foi uma (...) enorme. Segundo, criaram-se as carreiras técnico-profissionais de saúde", disse o cirurgião, apelando para a "promoção da saúde da comunidade pela própria comunidade".

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