"Já não estamos a caminhar em direção à crise - estamos a correr em direção a ela", alertou António Guterres perante os últimos acontecimentos, numa intervenção durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para abordar o conflito israelo-iraniano.
"Há momentos em que as escolhas que temos diante de nós não são apenas consequentes, são definidoras. Momentos em que a direção tomada irá moldar não só o destino das nações, mas potencialmente o nosso futuro coletivo. Este é um desses momentos", sublinhou.
Observando que a questão central deste conflito é a nuclear e admitindo que existe "um fosso de confiança" face às declarações do Irão de que não procura desenvolver armas nucleares, Guterres defendeu que a única forma de colmatar essa lacuna é através da diplomacia e instou Teerão a permitir o acesso total aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica.
"O Tratado de Não Proliferação Nuclear é uma pedra basilar da segurança internacional. O Irão deve respeitá-lo. (...) A única forma de colmatar esta lacuna [de confiança] é através da diplomacia, para estabelecer uma solução fiável, abrangente e verificável --- incluindo o acesso total aos inspetores da AIEA", instou.
O ex-primeiro-ministro português dirigiu-se às partes em conflito e igualmente "às potenciais partes em conflito" -- numa referência velada aos Estados Unidos, que equacionam intervir -, e apelou a que seja dada "uma oportunidade à paz" e à diplomacia.
"A expansão deste conflito pode desencadear um fogo que ninguém consegue controlar. Não podemos deixar que isso aconteça", reforçou.
"A única coisa previsível é que as consequências da continuação deste conflito são imprevisíveis. Não olhemos para trás, para este momento decisivo, com pesar. Vamos agir de forma responsável e em conjunto para salvar a região e o nosso mundo do abismo", concluiu Guterres.
O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se hoje de emergência para abordar o conflito em curso entre o Irão e Israel.
A reunião foi solicitada pelo Irão e apoiada pela Argélia, China, Paquistão e Rússia.
No encontro esteve também a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, Rosemary DiCarlo, que indicou que, até quinta-feira, 224 pessoas foram mortas e mais de 2.500 ficaram feridas em ataques israelitas no Irão.
O Ministério da Saúde iraniano, citado por DiCarlo, acrescentou que 90% das vítimas eram civis.
Já em Israel, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que, no mesmo período, os ataques do Irão mataram 24 pessoas e feriram outras 915, a grande maioria civis.
"Estamos à beira de um conflito generalizado e de uma crise humanitária. (...) O imperativo da diplomacia raramente foi tão grande", frisou DiCarlo, avaliando que uma maior expansão do conflito poderá ter consequências enormes para a região e para a paz e segurança internacionais em geral.
Israel lançou um ataque contra o Irão na madrugada de 13 de junho, alegando ter informações de que Teerão se aproximava do "ponto de não retorno" para obter uma bomba atómica.
A acusação é refutada por Teerão, que insiste nos fins pacíficos do seu programa nuclear, e que tem lançado vários ataques aéreos em retaliação contra Israel.
[Notícia atualizada às 16h58]
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