Familiares despedem-se de grávida mantida viva devido à lei antiaborto

Adriana ficou em morte cerebral e permaneceu ligada às máquinas até ao nascimento prematuro do bebé, através de uma cesariana de emergência, a 13 de junho. A 17 de junho, dias depois do nascimento de Chance, que pesava cerca de 822 gramas, as máquinas que mantinham a jovem viva foram desligadas.

Adriana Smith

© Reprodução/11Alive

Daniela Filipe
29/06/2025 10:20 ‧ há 6 horas por Daniela Filipe

Mundo

EUA

Os familiares de Adriana Smith, que foi mantida viva até ao nascimento do segundo filho devido à lei antiaborto do estado norte-americano da Geórgia, despediram-se oficialmente da jovem, no sábado. As cerimónias fúnebres decorreram na Igreja Batista de Fairfield, em Lithonia, um subúrbio de Atlanta, e atraíram uma multidão que incluiu não só colegas de profissão da enfermeira, mas também desconhecidos.

 

"Estou grata por tudo o que ela me ensinou. O seu amor, a sua bondade, a sua sabedoria. A família era tudo para ela. Por isso, espero poder seguir as suas pisadas", confessou Naya, irmã de Adriana, durante a cerimónia.

Já a Guarda de Honra de Enfermagem Metropolitana de Atlanta ofereceu uma rosa branca à jovem e dirigiu-lhe uma “última chamada de dever”.

“Ela serviu de forma altruísta e deu para o bem dos outros”, apontou um membro daquele organismo.

A deputada estadual Park Cannon também compareceu no funeral, onde sustentou uma solução para proteger os direitos médicos durante a gravidez.

“Acreditamos que a autonomia deve ser defendida no estado da Geórgia através da promulgação da ‘Lei Adriana’. A ‘Lei Adriana’ afirmaria que os indivíduos manteriam o controlo sobre os seus corpos e as suas decisões médicas, mesmo sob regimes restritivos de proteção do feto”, disse.

Recorde-se que Adriana Smith, que completaria 31 anos este mês, começou a sentir dores de cabeça intensas no início de fevereiro, quando estava grávida de nove semanas do seu segundo filho, noticiou a filial da NBC News WXIA-TV, na altura.

A jovem foi observada no Northside Hospital, que lhe terá dado alta sem realizar exames. No dia seguinte, o namorado de Adriana encontrou-a ofegante e a gargarejar. A grávida foi transportada de urgência para o Hospital Emory Decatur, e transferida para o Emory University Hospital, onde uma tomografia computadorizada revelou que tinha vários coágulos de sangue no cérebro.

Adriana ficou em morte cerebral e permaneceu ligada às máquinas até ao nascimento prematuro do bebé, através de uma cesariana de emergência, a 13 de junho. A 17 de junho, dias depois do nascimento de Chance, que pesava cerca de 822 gramas, as máquinas que mantinham a jovem viva foram desligadas. O recém-nascido, por seu turno, continua hospitalizado na unidade de cuidados intensivos neonatais.

De acordo com a mãe de Adriana, April Newkirk, Chance “deverá ficar bem”. “Ele está a lutar. Só queremos orações por ele. Continuem a rezar. Ele está aqui agora”, disse.

EUA. Grávida em morte cerebral mantida viva sob lei que proíbe aborto

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Os profissionais de saúde planeiam manter Adriana viva até às 32 semanas de gestação. Contudo, informaram a família que o feto tem líquido no cérebro e que estão preocupados.

Daniela Filipe | 08:10 - 16/05/2025

Saliente-se que o governador republicano Brian Kemp legislou a proibição quase total do aborto em 2019, que só entrou em vigor com a reversão de Roe v. Wade, em 2022.

A lei estabelece, assim, que a interrupção da gravidez é ilegal após as seis semanas, ainda que algumas das exceções incluam a proteção da vida e da saúde da mulher, casos de violação e de incesto documentados junto das autoridades, e anomalias fetais.

Quando o caso veio à tona, April detalhou que a família não teve voto na matéria.

“É uma tortura para mim. Vejo a minha filha a respirar, mas ela não está lá”, confessou.

E complementou: “Ela está grávida do meu neto. Mas ele pode ser cego, pode não ser capaz de andar, pode não sobreviver quando nascer. […] A decisão deveria de ter sido da família. Não estou a dizer que teríamos optado por interromper a gravidez, mas deveríamos ter tido oportunidade de escolha.”

Leia Também: Três anos depois, direito ao aborto nos EUA depende de onde se mora

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