Mais de 200 venezuelanos que se encontravam detidos em El Salvador por terem sido acusados pela administração do presidente Donald Trump de pertencerem a organizações criminosas regressaram a Caracas, na sexta-feira.
Os cidadãos encontravam-se detidos no Centro de Confinamento de Terroristas (Cecot) desde março, depois de o chefe de Estado norte-americano ter invocado a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para deportar os alegados membros do gangue Tren de Aragua sem passar pelos procedimentos normais de imigração.
Os familiares de muitos dos detidos negaram que tivessem ligações a gangues e denunciaram que não lhes foi dada oportunidade de contestar as acusações em sede judicial.
“Não consigo acreditar. Tenho arrepios pelo corpo todo”, confessou Angie Rios, cidadã norte-americana casada com o venezuelano Jesus Rios, detido no Cecot, em declarações à agência Reuters.
Também o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, celebrou a chegada dos 252 venezuelanos deportados dos Estados Unidos, sublinhando que, em troca, libertou os "terroristas" norte-americanos que o queriam assassinar.
"Acaba de aterrar o primeiro avião com 252 venezuelanos resgatados e libertados dos campos de concentração e tortura de Nayib Bukele em El Salvador. Aí vêm os rapazes sequestrados, desaparecidos e torturados. Foram resgatados, 125 dias depois (...) A Venezuela fez uma troca a um preço elevado, mas eles tinham de ser libertados. Entregámos um grupo de terroristas norte-americanos que tinham chegado à Venezuela", disse.
O presidente da Venezuela insistiu que a troca obedeceu a um compromisso com as suas famílias e que estes cidadãos "não cometeram nenhum crime em El Salvador, foram sequestrados nos EUA, desaparecidos, não tiveram direito a defesa, nem a um processo justo em nenhum aspeto".
Maduro agradeceu ao presidente da Assembleia Nacional (AN, parlamento da Venezuela), Jorge Rodríguez por ter sido o "arquiteto" das negociações com os EUA, assim como a Donald Trump, "por retificar" a situação de injustiça com os venezuelanos, e ao Papa Leão XIV, por "interceder" pela libertação destes migrantes.
"Um deles [venezuelano detido] perdeu um rim em consequência dos espancamentos a que foi submetido. Muitos foram torturados, passaram fome durante dias a fio e deram-lhes comida estragada", denunciou Maduro.
Por outro lado, explicou que estes migrantes vão ser atendidos por uma equipa de médicos e submetidos a um "exame médico completo".
"Migrar não é um crime. Raptar e torturar migrantes é [crime]. Bukele [Nayib, Presidente de El Salvador] deve saber disso e, mais cedo ou mais tarde, vai pagar por isso", frisou.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, anunciou sexta-feira que 10 cidadãos norte-americanos que estavam detidos na Venezuela foram libertados após um acordo entre os dois países e El Salvador.
"Graças à liderança do presidente [Donald Trump], 10 americanos que estavam detidos na Venezuela estão a caminho da liberdade", afirmou o secretário de Estado norte-americano na rede social X.
Rubio adiantou que o acordo, além da libertação de todos os detidos norte-americanos, prevê a libertação de aproximadamente 80 presos políticos venezuelanos. Contudo, o governo da Venezuela deu apenas conta de medidas de detenção “alternativas”.
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