Amnistia teme que RDCongo use acordo com Barcelona para limpar imagem

A Amnistia Internacional (AI) teme que o acordo entre a República Democrática do Congo e o F.C. Barcelona ajude o país africano a limpar a sua imagem e a apresentar-se ao mundo como "aberto e moderno".

The statue of Laszlo Kubala outside the Nou Camp.

© Getty Images

Lusa
01/08/2025 16:28 ‧ ontem por Lusa

Mundo

F.C. Barcelona

O responsável pela Europa e Médio Oriente da Amnistia Internacional de Espanha, Carlos de las Heras, explicou que, embora a organização não se oponha à assinatura deste acordo, receia que este se torne um instrumento para apresentar a República Democrática do Congo (RDCongo) como um país reformista, sendo que "a realidade dos direitos humanos neste país é tremendamente complicada".

 

Carlos de las Heras recordou que este tipo de situação "não é nova" e que esta estratégia de visibilidade internacional tem sido adotada nos últimos anos pelo Ruanda (país que faz fronteira com a RDCongo), que conseguiu patrocínios com clubes de futebol como o Arsenal, o Paris Saint-Germain, o Bayern de Munique e o Atlético de Madrid.

As tentativas de alguns países para "limpar a sua imagem" através do futebol não foram bem sucedidas, assegurou o responsável da Amnistia Internacional, dando o exemplo do Campeonato do Mundo do Qatar.

No âmbito do acordo, pelo qual o clube espanhol receberá cerca de 44 milhões de euros, todas as equipas profissionais do Barcelona exibirão o emblema "RD Congo-Coeur de Afrique" (RD Congo-coração de África) nas costas das suas camisolas de treino durante as próximas quatro épocas. O clube de futebol também promoverá um programa de atividades desportivas na RDCongo destinado às crianças.

De las Heras reconheceu que o acordo inclui "questões positivas" no domínio desportivo, mas apelou a que este tipo de aliança fosse "mais longe" e incluísse compromissos em matéria de direitos humanos.

"Nem tudo é válido por razões económicas, mas as questões que vão para além do dinheiro também devem ser tidas em conta", denunciou.

O responsável da AI detalhou a situação dos direitos humanos na RDCongo, mergulhada num contexto de violência devido ao conflito entre o grupo rebelde Movimento 23 de março (M23) e as autoridades governamentais, que causou milhares de mortos e mais de um milhão de deslocados, acrescentando ainda que existem outras preocupações mais gerais, como a repressão da comunidade LGBTI e a violência sexual contra as mulheres, que foram também agravadas pelo conflito.

Carlos de las Heras considerou que o acordo com o Barcelona pode dever-se ao facto de as autoridades da RDCongo terem visto como o Ruanda "os derrotou" e terem decidido que "também vão jogar este jogo".

O responsável considera ainda "curioso" que dois países que estiveram em conflito durante anos, "com uma rivalidade muito amarga", tenham levado o conflito armado a uma corrida através de uma "branqueamento desportivo".

A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar o M23 na sua ofensiva no leste do país. No entanto, a 27 de junho, os dois países assinaram em Washington um acordo a nível ministerial para tentar pôr fim a mais de três décadas de tensões bilaterais.

Leia Também: ONU alerta que epidemia de cólera fez 950 mortos desde janeiro na RDCongo

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