O responsável pela Europa e Médio Oriente da Amnistia Internacional de Espanha, Carlos de las Heras, explicou que, embora a organização não se oponha à assinatura deste acordo, receia que este se torne um instrumento para apresentar a República Democrática do Congo (RDCongo) como um país reformista, sendo que "a realidade dos direitos humanos neste país é tremendamente complicada".
Carlos de las Heras recordou que este tipo de situação "não é nova" e que esta estratégia de visibilidade internacional tem sido adotada nos últimos anos pelo Ruanda (país que faz fronteira com a RDCongo), que conseguiu patrocínios com clubes de futebol como o Arsenal, o Paris Saint-Germain, o Bayern de Munique e o Atlético de Madrid.
As tentativas de alguns países para "limpar a sua imagem" através do futebol não foram bem sucedidas, assegurou o responsável da Amnistia Internacional, dando o exemplo do Campeonato do Mundo do Qatar.
No âmbito do acordo, pelo qual o clube espanhol receberá cerca de 44 milhões de euros, todas as equipas profissionais do Barcelona exibirão o emblema "RD Congo-Coeur de Afrique" (RD Congo-coração de África) nas costas das suas camisolas de treino durante as próximas quatro épocas. O clube de futebol também promoverá um programa de atividades desportivas na RDCongo destinado às crianças.
De las Heras reconheceu que o acordo inclui "questões positivas" no domínio desportivo, mas apelou a que este tipo de aliança fosse "mais longe" e incluísse compromissos em matéria de direitos humanos.
"Nem tudo é válido por razões económicas, mas as questões que vão para além do dinheiro também devem ser tidas em conta", denunciou.
O responsável da AI detalhou a situação dos direitos humanos na RDCongo, mergulhada num contexto de violência devido ao conflito entre o grupo rebelde Movimento 23 de março (M23) e as autoridades governamentais, que causou milhares de mortos e mais de um milhão de deslocados, acrescentando ainda que existem outras preocupações mais gerais, como a repressão da comunidade LGBTI e a violência sexual contra as mulheres, que foram também agravadas pelo conflito.
Carlos de las Heras considerou que o acordo com o Barcelona pode dever-se ao facto de as autoridades da RDCongo terem visto como o Ruanda "os derrotou" e terem decidido que "também vão jogar este jogo".
O responsável considera ainda "curioso" que dois países que estiveram em conflito durante anos, "com uma rivalidade muito amarga", tenham levado o conflito armado a uma corrida através de uma "branqueamento desportivo".
A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar o M23 na sua ofensiva no leste do país. No entanto, a 27 de junho, os dois países assinaram em Washington um acordo a nível ministerial para tentar pôr fim a mais de três décadas de tensões bilaterais.
Leia Também: ONU alerta que epidemia de cólera fez 950 mortos desde janeiro na RDCongo