"Estamos na fase de tomada de decisões. Cheguei hoje à Divisão de Gaza para aprovar os planos que as Forças de Defesa me apresentaram e ao ministro da Defesa para tomar a Cidade de Gaza e derrotar o Hamas", afirmou o chefe do Governo durante a sua visita àquela unidade do Exército israelita.
Ao mesmo tempo, Netanyahu revelou que deu ordens para "o início imediato das negociações para a libertação de todos os reféns" em posse das milícias palestinianas e para "o fim da guerra em termos aceitáveis" na perspetiva de Israel.
"Estes dois objetivos --- derrotar o Hamas e libertar todos os nossos reféns --- andam de mãos dadas", declarou num vídeo divulgado pelo seu gabinete.
O primeiro-ministro israelita não fez, porém, qualquer referência concreta à mais recente proposta dos mediadores internacionais - Egito, Qatar e Estados Unidos -, que prevê uma trégua de 60 dias, combinada com a libertação em duas fases dos reféns na Faixa de Gaza, e já aceite pelo Hamas.
Num comunicado contundente, a diplomacia do Egito acusou hoje Israel de ignorar a proposta dos mediadores, alertando para um "erro de cálculo" com a ocupação da Cidade de Gaza, que levará a uma "escalada da guerra na região".
A operação em curso "reflete a total indiferença de Israel aos esforços dos mediadores e ao acordo proposto para alcançar um cessar-fogo, a libertação de reféns e prisioneiros e o fluxo de ajuda humanitária", advertiu o Egito.
Há quase duas semanas, o Gabinete de Segurança de Israel aprovou o plano de ocupação da Cidade de Gaza, a expansão das operações militares a campos de refugiados na costa central do território, gerando uma vaga de críticas internacionais e dentro do país.
As instruções hoje divulgadas pelo chefe do executivo israelita seguem-se a ordens transmitidas na quarta-feira às forças armadas para acelerarem o calendário da ocupação da Cidade de Gaza, um objetivo que envolverá um recrutamento adicional de até 60 mil reservistas.
No mesmo dia, os militares israelitas indicaram que já tinham o controlo das entradas da principal cidade do enclave palestiniano.
Fontes no território citadas pela agência espanhola EFE relataram que os bombardeamentos foram intensificados em redor da Cidade de Gaza, a par da demolição de edifícios.
Segundo a agência norte-americana Associated Press (AP), o Exército israelita começou a contactar as autoridades médicas e as organizações internacionais do norte do enclave, no sentido de se transferirem para o sul da região, uma medida que deverá envolver centenas de milhares de habitantes da Cidade de Gaza, muitos dos quais já na condição de deslocados.
Até à data, descreve a AP, têm sido poucos os sinais de palestinianos a fugir em massa, como ocorreu quando Israel realizou uma ofensiva anterior na Cidade de Gaza, nas primeiras semanas da guerra.
O principal motivo deverá estar relacionado com a reivindicação dos militares israelitas do controlo de cerca de 75% do território e os habitantes alegam que já não sobra nenhum local seguro.
O plano de Israel terá como objetivo alcançar zonas do Hamas onde as tropas terrestres ainda não atuaram, eliminar as últimas bolsas de resistência dos combatentes palestinianos e libertar os cerca de 50 reféns que se estima permanecerem na sua posse, dos quais 20 estarão vivos.
Esta estratégia mereceu objeções iniciais do comandante das forças israelitas, Eyal Zamir, que receia colocar as vidas dos últimos reféns em perigo à aproximação das suas tropas, como já sucedeu no passado, mas entretanto sinalizou que vai cumprir as ordens do Governo.
De acordo com o trio de mediadores internacionais, o novo plano estipula uma pausa de 60 dias nos combates, durante a qual o Hamas libertará dez reféns vivos e 18 mortos em troca de vários prisioneiros palestinianos.
Durante este período, o grupo islamita congela as suas atividades militares e Israel recua as suas tropas de modo a permitir a entrada e distribuição de ajuda humanitária, enquanto as negociações prosseguem para um acordo que ponha fim ao conflito.
Segundo a ONU, a Faixa de Gaza enfrenta uma "situação de fome catastrófica", que foi agravada desde março, quando Israel rompeu o último cessar-fogo com o Hamas e impediu as atividades das agências das Nações Unidas e de organizações não-governamentais no território.
O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 62 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
[Notícia atualizada às 20h16]
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