Kigali, 08 jun 2025 (Lusa) -- O Ruanda anunciou hoje a saída da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), bloco que reúne 11 países, ao denunciar a "instrumentalização" da organização por parte da República Democrática do Congo (RDCongo).
A decisão foi tomada no âmbito da 26.ª cimeira ordinária realizada sábado na Guiné Equatorial.
No comunicado divulgado às primeiras horas de hoje, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ruandês afirmou que a "instrumentalização" da CEEAC pela RDCongo, "com o apoio de certos Estados-membros", viola os direitos do Ruanda "garantidos pelos textos constitutivos" da organização.
"Consequentemente, o Ruanda não vê qualquer justificação para permanecer numa organização cujo funcionamento atual contraria os seus princípios fundacionais e o seu objetivo original", sublinharam as autoridades de Kigali.
O anúncio foi feito após a reunião dos chefes de Estado e de Governo da África Central em Malabo, onde os líderes regionais procuraram definir as principais orientações políticas, de segurança e de cooperação marítima para a região.
De acordo com a denúncia de Kigali, a CEEAC "ignorou deliberadamente" o direito do Ruanda a assumir a presidência rotativa do organismo, "com o objetivo de impor a vontade da RDCongo".
Kigali e Kinshasa mantêm há semanas negociações com vista a alcançar uma solução pacífica para o conflito no leste da RDCongo, onde o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda, intensificou a ofensiva no início deste ano, tendo tomado as capitais das províncias do Kivu do Norte e da vizinha Kivu do Sul.
As perspetivas de uma saída negociada para o conflito foram reavivadas a 25 de abril, quando Ruanda e a RDCongo assinaram em Washington, com a mediação dos Estados Unidos, um acordo para o início de negociações de paz.
Além disso, o Governo congolês e o M23 retomaram no início de maio o diálogo em Doha, sob a mediação do Qatar.
A atividade armada do M23 -- grupo composto maioritariamente por tutsis, comunidade que foi alvo do genocídio ruandês de 1994 -- foi retomada no Kivu do Norte em novembro de 2021, com ataques relâmpago contra o exército congolês.
O leste da RDCongo está mergulhado, desde 1998, num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelas forças armadas, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas (Monusco).
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