Líderes de ambos os grupos étnicos reuniram-se numa Cimeira da Imigração em Little Haiti (Pequena Haiti), em Miami, para alertar para os efeitos das medidas de Trump, como o fim do TPS e da liberdade condicional humanitária que protegeu mais de meio milhão de cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos da deportação, conhecida como CHNV (Parole for Cubans, Haitians, Nicaraguans, and Venezuelans).
"Eles estão neste país há anos. Acabar com esses programas seria uma tragédia humanitária e uma traição aos valores americanos, é hora de protegê-los permanentemente com uma reforma de imigração justa e abrangente", disse Marleine Bastien, Comissária do Distrito 2 do Condado de Miami-Dade.
A Cimeira da Imigração, que surge no meio do receio dos migrantes de serem deportados pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla inglesa), abordará o efeito desproporcionado das medidas de Trump na Florida, onde mais de um em cada cinco residentes são estrangeiros, disse Paul Christian Namphy, diretor de políticas da Family Action Network (FAMN).
Além disso, os titulares de TPS no Estado contribuem com mais de 2,3 mil milhões de dólares em impostos federais e 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 1,2 mil milhões de euros) em impostos estatais e locais por ano, pelo que a sua deportação afetaria a economia do Estado, afirmou.
Às medidas de Trump, que incluem restrições às viagens de Cuba, Haiti e Venezuela, juntam-se as da Florida, cujo governo é considerado um "líder" na implementação da política federal de imigração, já que o governador, Ron DeSantis, promoveu acordos que obrigam as autoridades locais dos 67 condados a cooperar com o ICE.
Um dos temas centrais da cimeira é o "acordo 287(g)" aprovado na terça-feira pela cidade de Miami, a cidade com a maior população estrangeira do país, para que o Departamento de Polícia de Miami coopere com o ICE na detenção de imigrantes.
Neste contexto, "qualquer família que tenha uma pessoa imigrante não está imune a propostas como os novos acordos entre a polícia e o ICE", disse Yareliz Mendez-Zamora, coordenadora política do American Friends Service Committee (AFSC).
"Este não é o momento de pensar que as políticas anti-imigração a nível local e nacional não vão afetar as nossas famílias", alertou.
Ativistas como a cubano-americana Natalia Menocal reconheceram que muitos na comunidade latina votaram em Trump pensando que as suas políticas de imigração não os afetariam.
Contudo, Mendez-Zamora apelou à compreensão de que estas medidas irão prejudicar todas as comunidades, independentemente do seu estatuto de imigração.
"Este é o momento de nos educarmos, de levantarmos as nossas vozes e de dizermos: basta. Para aqueles que, como eu, são cidadãos, filhos de imigrantes, este é o momento de defender a nossa comunidade, esta é também a nossa luta", acrescentou.
Os grupos estão agora a tentar lutar contra a prisão de imigrantes "Alcatraz Lizard" ou "Alligator Alcatraz", num aeroporto abandonado rodeado de jacarés e pitões na zona selvagem de Everglades, proposta esta semana pelo Procurador-Geral James Uthmeier.
Na próxima quinta-feira vão também protestar no condado de Miami-Dade, que vai votar um outro acordo que permitirá ao ICE pagar 50 dólares para deter um migrante durante 48 horas numa prisão local.
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