Num comunicado assinado por 111 organizações e divulgado hoje pela imprensa internacional, os grupos alertam que a fome em massa se está a espalhar pelo enclave, apesar de haver toneladas de alimentos, água potável, material médico e outros artigos intocados nos arredores de Gaza.
A situação, adiantam as organizações - entre as quais se contam a Mercy Corps, o Conselho Norueguês para os Refugiados e a Refugees International -, é causada pela proibição de aceder ou entregar ajuda humanitária que foi imposta por Israel.
Os grupos de defesa dos direitos humanos pedem aos governos que exijam o levantamento de todas as restrições burocráticas e administrativas, a abertura de todas as passagens terrestres, a garantia do acesso a todos em Gaza, a rejeição da distribuição controlada pelos militares e o restabelecimento de uma "resposta humanitária baseada em princípios e liderada pela ONU".
"Enquanto o cerco do Governo israelita mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários juntam-se agora às mesmas filas de alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas para alimentar as suas famílias", afirmam as organizações num comunicado citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press.
"Com os mantimentos completamente esgotados, as organizações humanitárias estão a testemunhar os seus próprios colegas e parceiros a definhar diante dos seus olhos", alertam.
"As restrições, os atrasos e a fragmentação do Governo de Israel sob o seu total cerco criaram o caos, a fome e a morte", explicam no comunicado, acrescentando que "os Estados devem adotar medidas concretas para pôr fim ao cerco, como a interrupção da transferência de armas e munições".
Israel, que controla todos os mantimentos que entram em Gaza, nega ser responsável pela escassez de alimentos.
Na terça-feira, o diretor do hospital Al-Shifa, um dos maiores da Faixa de Gaza, denunciou que, nas últimas 72 horas, morreram 21 crianças por subnutrição e avisou que há 900 mil menores com fome na região.
No mesmo dia, o Ministério da Saúde de Gaza deu conta da morte de outras 15 pessoas em Gaza por fome e subnutrição.
Isto eleva o total de mortes para 101, segundo o ministério, incluindo 80 crianças.
A organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) avisou, na última sexta-feira, que a subnutrição aguda em Gaza atingiu "níveis históricos", sublinhando que grande parte dos afetados são crianças ou grávidas e lactantes.
A organização sublinhou que uma grande parte dos doentes atendidos nas suas clínicas ainda operacionais no enclave são crianças, especificando que um em cada três tem entre 6 meses e 2 anos de idade.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 59 mil mortos e incluiu a imposição de um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível.
Apesar de ter recentemente permitido a distribuição de ajuda humanitária, a assistência é dada apenas que uma entidade controlada pelo país, e apoiada pelos Estados Unidos, e é considerada por várias ONG e pela ONU como insuficiente.
Leia Também: Guterres denuncia "horror que se vive" em Gaza