"Estas organizações servem a propaganda do Hamas, valendo-se do seu número e justificando os seus horrores", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, num comunicado.
"Apelamos a todas as organizações para que deixem de utilizar os argumentos do Hamas", acrescentou a nota informativa da diplomacia israelita.
Segundo argumenta o ministério israelita, cerca de 4.500 camiões com ajuda humanitária terão entrado em Gaza, sendo responsabilidade do "estrangulamento logístico" das Nações Unidas o facto de outros 700 camiões ainda não terem sido distribuídos e estarem retidos na fronteira.
Apesar desta versão, é Israel que neste momento controla e mantém fechadas à entrada intensiva de alimentos as passagens fronteiriças para Gaza, permitindo -- de forma altamente restritiva -- a distribuição de comida apenas em alguns complexos militarizados, justificando-se com a alegação de que o Hamas beneficia da ajuda que chega através dos comboios humanitários da ONU.
Hoje, num comunicado conjunto, 111 ONG, incluindo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), a Save the Children e a Oxfam, alertaram que a fome está a agravar-se em Gaza, referindo mesmo que os próprios trabalhadores humanitários "estão lentamente a morrer".
"Enquanto o cerco imposto pelo Governo israelita condena à fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários juntam-se às filas para receber alimentos, arriscando ser baleados apenas para conseguirem alimentar as suas famílias", denunciaram as organizações.
Os grupos apelaram à negociação imediata de uma trégua, à abertura das fronteiras e ao livre fluxo da ajuda humanitária.
Também hoje, o exército israelita divulgou imagens, sem as datar, onde alegadamente aparecem combatentes do grupo extremista palestiniano Hamas em túneis, a comer fruta, pão e húmus.
Mesmo antes do atual bloqueio, os camiões da ONU já enfrentavam constantes atrasos na distribuição da ajuda, devido a inspeções arbitrárias de Israel em ambos os lados da fronteira e à ausência de rotas seguras facilitadas pelo exército israelita para transportar os bens até aos armazéns.
Nos últimos dias, multiplicaram-se as imagens provenientes da Faixa de Gaza mostrando crianças esqueléticas, bem como testemunhos de médicos que relatam a chegada de pacientes com sinais de subnutrição e exaustos.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 46 crianças morreram por fome e desnutrição desde o início de julho, totalizando mais de uma centena de mortes deste tipo desde outubro de 2023.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 59 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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