Pelo menos duas famílias de cidadãos britânicos que morreram na sequência da queda de um avião em Ahmedabad, na Índia, no passado mês de junho, receberam restos mortais trocados.
O caso veio à tona depois de a médica legista Fiona Wilcox ter procurado verificar as identidades das vítimas repatriadas, comparando o seu ADN com as amostras fornecidas pelas famílias, noticiou o Daily Mail, na terça-feira.
Os familiares de uma das vítimas foram informados de que o caixão que receberam continha o corpo de um passageiro não identificado, pelo que tiveram de colocar as cerimónias fúnebres planeadas de lado.
A uma outra família foram dados os restos mortais “misturados” de mais de uma pessoa, que terão sido colocados por engano no mesmo caixão, de acordo com aquele meio britânico.
Ainda que a maioria das vítimas tenha sido cremada ou sepultada na Índia, pelos menos 12 corpos foram repatriados para o Reino Unido, segundo o advogado que representa as famílias, James Healy-Pratt.
“Tenho estado nas casas destas famílias ao longo do último mês, e o que elas querem é ter os seus entes queridos de volta. Mas algumas delas receberam os restos mortais errados e estão claramente perturbadas com isso. Isto já se arrasta há algumas semanas e acho que estas famílias merecem uma explicação”, considerou o responsável.
Healy-Pratt sublinhou que, apesar de uma das famílias ter conseguido realizar um funeral, a outra ficou “no limbo”.
“Não tem ninguém para enterrar, porque estava a pessoa errada no caixão. E se não é o seu familiar, a questão é: quem está naquele caixão? Presumivelmente, é outro passageiro e os seus familiares receberam os restos mortais errados”, apontou.
O advogado alertou ainda que “a médica legista também tem um problema, porque tem uma pessoa não identificada na sua jurisdição”.
“Com base nas provas conhecidas, a cadeia de custódia destes entes queridos foi inaceitavelmente deficiente. Estamos a investigar as causas destas falhas e a exigir respostas em nome destas famílias que merecem justiça. Aguardamos respostas formais da Air India e dos seus contratantes de emergências”, complementou.
No entanto, Healy-Pratt manifestou esperança de que o primeiro-ministro Keir Starmer aborde a questão no encontro com o homólogo indiano, Narendra Modi, esta semana.
Contactada pelo The Guardian, a Air India escusou-se a tecer comentários. Contudo, um funcionário disse àquele jornal que a companhia aérea não esteve envolvida na identificação dos restos mortais, mas sim os meios hospitalares.
Um alto funcionário do hospital civil de Ahmedabad, por seu turno, assegurou que “tudo foi feito com base em critérios altamente científicos”.
Já o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiro da Índia, Randhir Jaiswal, sublinhou que “as autoridades competentes procederam à identificação das vítimas de acordo com os protocolos e requisitos técnicos estabelecidos”.
Todos os restos mortais foram tratados com o máximo profissionalismo e com o devido respeito pela dignidade dos mortos. Continuamos a trabalhar com as autoridades britânicas para resolver quaisquer questões relacionadas com este assunto”, disse.
Recorde-se que uma investigação preliminar do Gabinete de Investigação de Acidentes com Aeronaves (AAIB) da Índia, publicada no início deste mês, deu conta de que ocorreu uma confusão entre os dois pilotos, com um a perguntar por que razão tinha mexido nos interruptores de combustível e o outro a negar tê-lo feito.
As autoridades norte-americanas acreditam que o comandante, Sumeet Sabharwal, de 56 anos, foi o responsável pelo corte do combustível do avião pouco depois da descolagem, segundo um relatório do Wall Street Journal. Já o copiloto, Clive Kunder, de 32 anos, pilotava o avião, enquanto Sabharwal controlava cada passo.
Mais de 20 famílias intentaram uma ação judicial contra a Air India no Supremo Tribunal, por forma a forçar a divulgação dos ficheiros pessoais dos pilotos e de outros documentos.
Recorde-se que um Boeing 787 Dreamliner caiu minutos depois da descolagem do aeroporto internacional da cidade de Ahmedabad, no noroeste do país, com destino a Londres Gatwick.
O acidente provocou a morte de 268 pessoas, 27 das quais nos edifícios em que embateu antes de se incendiar. No total, avião transportava 230 passageiros - sete portugueses, 169 indianos, 53 britânicos e um canadiano - e 12 tripulantes.
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