A britânico-israelita Emily Damari, ex-refém do Hamas, afirmou que o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer "não está do lado certo da história" depois de ter anunciado que irá reconhecer o Estado da Palestina em setembro, caso o governo de Israel não tome medidas para acabar com a "situação terrível" no Médio Oriente.
Através de uma publicação no Instagram, citada pela BBC, a jovem de 29 anos questionou: "O primeiro-ministro Starmer não está do lado certo da história. Se estivesse no poder durante a II Guerra Mundial teria defendido o reconhecimento do controlo nazi de países ocupados como os Países Baixos, França ou Polónia?"
"Isto não é diplomacia, é um fracasso moral. Devia ter vergonha, primeiro-ministro", continuou.
E acrescentou: "Como cidadã com dupla nacionalidade - britânica e israelita - que sobreviveu a 471 dias no cativeiro do Hamas, estou profundamente triste pela decisão do primeiro-ministro Starmer em reconhecer o Estado da Palestina. Isto não confirma que o Reino Unido promoverá a paz, corre o risco de recompensar o terrorismo".
A antiga refém sublinhou ainda que reconhecer o Estado da Palestina "envia uma mensagem perigosa, que a violência ganha legitimidade". Referiu ainda que "o primeiro-ministro não está a promover uma solução", mas "a prolongar o conflito".
As a Dual British-Israeli citizen who survived 471 days in Hamas captivity, I am deeply saddened by your decision @Keir_Starmer to recognise Palestinian statehood. This move does not advance peace—it risks rewarding terror. It sends a dangerous message: that violence earns… https://t.co/G4DF5AWgjT
— Emily Damari (@EmilyDamari1) July 30, 2025
Emily Damari foi baleada na perna e na mão quando foi sequestrada de sua casa, no kibbutz Kfar Aza, a 7 de outubro de 2023. A jovem foi raptada juntamente com dois amigos gêmeos, Ziv e Gali Berman. Os irmãos ainda se encontram detidos na Faixa de Gaza.
Desde que foi libertada, em janeiro deste ano, Emily tem participado em várias campanhas que promovem a libertação de cerca de 20 reféns, que ainda se acredita que estejam vivo, e pelos corpos dos reféns mortos para que sejam devolvidos às famílias.
Depois da publicação da jovem, os advogados que representam as famílias britânicas com parentes que foram ou ainda são reféns do Hamas expressaram preocupação em relação à declaração de Keir Starmer.
"As famílias estão profundamente preocupadas que a abordagem do Reino Unido possa desencorajar o Hamas de libertar os reféns [...]. Eles imploram ao primeiro-ministro que esclareça e confirme que o Hamas não será recompensado e que o Reino Unido não tomará quaisquer medidas substanciais até que todos os reféns sejam libertados", salientaram os representantes.
De recordar que Emily Damari, Doron Steinbrecher, e Romi Gonen foram as primeiras reféns a ficar em liberdade no âmbito de um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas durante seis semanas.
O que esta em causa?
Na terça-feira, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, anunciou que o Reino Unido vai reconhecer o Estado da Palestina em setembro, caso o governo de Israel não tome medidas para acabar com a "situação terrível" no Médio Oriente.
De acordo com um documento, citado pela BBC, o Reino Unido irá reconhecer o Estado da Palestina "a menos que o governo israelita tome medidas substanciais para acabar com a situação terrível em Gaza, chegue a um cessar-fogo, deixe claro que não haverá anexação na Cisjordânia e se comprometa com um processo de paz de longo prazo que proporcione uma solução de dois Estados".
Note-se que o Reino Unido não é caso único. Na sexta-feira passada, dia 25 de julho, o presidente francês, Emmanuel Macron, revelou que a França iria reconhecer o Estado da Palestina, também em setembro.
Já esta quarta-feira, Portugal admitiu reconhecer o Estado da Palestina e declarou-se empenhado em trabalhar no "dia seguinte" em Gaza, numa declaração conjunta assinada no final da conferência (com 15 países) sobre a solução dos dois Estados, nas Nações Unidas.
Sublinhe-se que Israel opõe-se ao reconhecimento internacional do Estado palestiniano e o atual governo ameaçou que, se potências como o Reino Unido e a França o fizerem, anexará territórios da Cisjordânia.
Entre os países europeus, Eslovénia, Espanha, Irlanda e Noruega foram pioneiros no reconhecimento do Estado palestiniano, em 2024.
Numa "declaração conjunta" divulgada em maio, os quatro países apelaram ao reconhecimento por todo o mundo e defenderam a entrada da Palestina nas Nações Unidas como membro de pleno direito da organização, a par "do apoio a um acordo entre as partes, com o reconhecimento mútuo entre a Palestina e Israel".
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