"Além de pôr em risco vidas, casas e bens, esta onda de incêndios está a levar pela frente territórios ricos em biodiversidade e um exemplo são as áreas críticas para o urso pardo que estão a ser calcinadas" nas regiões de serra e montanha de Anllares del Sil e no Parque Natural da Montanha Palentina, na região de Castela e Leão, alertou a ONG, numa publicação nas redes sociais.
A organização ambientalista apelou a que após o fim dos fogos haja uma reflexão sobre "o acentuado desequilíbrio" entre investimento público destinado à extinção de incêndios e o destinado à prevenção, que é, neste último caso, "menor e insuficiente".
Cerca de 370 ursos pardos vivem em regiões do norte de Espanha, segundo um censo divulgado em 2023, que concluiu o aumento do número destes animais na Península Ibérica, onde estiveram perto da extinção na década de 1980.
Os ursos vivem na cordilheira cantábrica, que se estende por mais de 400 quilómetros pelo norte de Espanha, entre a Galiza e o País Basco.
A espécie vive em territórios onde incêndios como os que estão a atingir Espanha são "muito difíceis de apagar", sublinhou o presidente da Fundação Urso Pardo, Guillermo Palomero, que insistiu na necessidade de investir mais na prevenção de fogos na cordilheira cantábrica, para a tornar "mais resistente e resiliente" às chamas.
"Investe-se muito em extinção, isso é bom e haverá que investir mais, mas muito pouco em prevenção e é preciso equilibrar", disse Guillermo Palomero, em declarações à agência de notícias espanhola EFE.
O presidente da ONG afirmou que os fogos das últimas semanas queimaram "extensões muito amplas" de territórios importantes para o urso pardo, tanto como para refúgio como para alimentação.
A avaliação do impacto na população de ursos terá de ser feita posteriormente, após acabarem os fogos, mas é já certo que houve uma "perda importante de habitat" que "condicionará os movimentos" dos animais, afirmou.
A fundação considera, porém, que dificilmente morrerão ursos nos incêndios, por serem animais "com muita capacidade para fugir" de ameaças como um fogo.
Para além do urso pardo, na Península Ibérica há ainda ursos nos Pirenéus, na fronteira de Espanha com França, com uma população estimada de 70 animais. Neste caso, os ursos estiveram também próximos a extinção e a sua conservação teve de ser feita com a reintrodução de animais trazidos de outras regiões em meados da década de 1990.
Espanha enfrenta há semanas uma vaga de grandes incêndios no noroeste e no oeste do país com a área ardida este ano a aproximar-se dos 400 mil hectares, um recorde anual, segundo os dados, ainda provisórios, do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).
Na segunda-feira, a organização ambientalista SEO/Birdlife tinha já alertado também que os fogos estão a afetar áreas protegidas da Rede Natura 2000 onde habitam espécies animais da Península Ibérica ameaçadas como o urso ou o tetraz.
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