Em entrevista à RTP, gravada em Bruxelas, na véspera de um Conselho Europeu, Luís Montenegro reiterou que não fará qualquer "acordo parlamentar permanente" nem com a segunda força política, referindo-se ao Chega, nem com a terceira, dizendo ter sempre rejeitado um bloco central com o PS.
"O povo português quis que a orientação principal da política governativa fosse o nosso programa. Mas o povo também quis que nós fôssemos acertando com as forças políticas da oposição, nomeadamente com as que têm maior representação, o PS e o Chega, os termos em que uma ou outra política deve ser objeto de aproximação. Se possível com os dois", afirmou.
Se tal não for possível, Montenegro admitiu que procurará aproximações "com aquele que estiver mais disponível para poder salvaguardar os compromissos que assumiu com os eleitores".
"Há vários compromissos que são comuns aos três partidos e há outros que são comuns entre a AD e o PS e outros que são comuns entre a AD e o Chega", apontou.
Nas áreas de soberania, como a Defesa, defendeu que o Governo irá procurar "o maior consenso possível", tal como na segurança ou na imigração, onde considerou existir "um relativo consenso na sociedade portuguesa".
O primeiro-ministro defendeu que "houve uma evolução do PS relativamente à imigração" na anterior legislatura, dizendo esperar que este partido "não se coloque de fora" de uma aproximação que considerou estar a ser feita em relação às posições do Governo PSD/CDS-PP.
"É verdade que o Chega tem algumas posições que são mais extremadas do que as nossas, e nós naturalmente não chegaremos a esse ponto, mas não me custa nada reconhecer que é um partido que tem apresentado pontos de vista que, de uma forma genérica, se enquadram em mais regulação e mais capacidade de integração", afirmou.
Montenegro defendeu que, se for possível "uma abrangência maior em sede parlamentar", tal corresponderá "à vontade política do povo português" e "a uma estabilidade nas políticas fundamentais para os próximos anos".
"Quanto maior for o apoio, maior garantia de a política poder ter continuidade", disse.
Questionado sobre vários episódios de agressões associadas a grupos de extrema-direita, o primeiro-ministro disse fazer "uma condenação total a qualquer ato extremista e a qualquer cultura de ódio na nossa sociedade".
"Isso não se enquadra nos valores da nossa democracia, não se enquadra nos valores do respeito dos direitos fundamentais das pessoas, das pessoas que nascem em Portugal e das pessoas que procuram Portugal para trabalhar", afirmou.
O primeiro-ministro acrescentou, contudo, que não se podem "confundir as questões".
"Nós não podemos, só porque há esses fenómenos, achar que as medidas do governo dão cobertura a esse tipo de discurso. Nem de perto, nem de longe. Isso eu não posso aceitar de maneira nenhuma", afirmou.
Na entrevista, o primeiro-ministro reiterou a prioridade aO que tem chamado de "guerra à burocracia".
"Vamos ser implacáveis nessa guerra, quando nós lutamos contra a burocracia, quando nós lutamos contra o excesso de regulamentação, que é um obstáculo ao dinamismo económico, nós também estamos a lutar contra a corrupção", afirmou.
Montenegro admitiu que tem havido promessas sucessivas de reforma do Estado, nem sempre bem-sucedidas, mas disse querer assumir esse risco.
"Estou aqui a liderar este Governo com essa filosofia. A filosofia do risco. Eu não me importo de fixar um objetivo que sei que é muito ambicioso, porque ele é fundamental para o nosso futuro", disse.
[Notícia atualizada às 22h43]
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