Esta semana 'fecha' com um anúncio que já era há muito pedido por alguns partidos, e que gerou muitas reações: Portugal admitiu reconhecer o Estado da Palestina, numa declaração com 15 países, assinada na sede da Organização Das Nações Unidades (ONU), em Nova Iorque, Estados Unidos.
Na quinta-feira, foram muitas as reações que chegaram, desde Belém até São Bento. Após o anúncio por parte do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, falou sobre o assunto, garantindo que neste âmbito estava a ser feito um "percurso paulatino, seguro, consistente".
"Não quero chegar amanhã e levar uma medalha porque o Governo português reconheceu o Estado da Palestina. Não, eu quero é paz no Médio Oriente, eu quero paz entre Israel e a Palestina e quero a salvaguarda dos direitos humanos", afirmou o chefe de Governo.
Antes de o reconhecimento do Estado da Palestina, o Governo vai ouvir tanto o Presidente da República como os partidos sobre o assunto, mas não será apenas nessa ocasião que os partidos têm alguma coisa a dizer, dadas as reações que se seguiram na quinta-feira.
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O presidente do Chega, André Ventura, considerou que esta é uma "questão complexa" e que, a seu ver, deve ter uma "resposta o mais consensual possível" a nível europeu, e que Portugal deve aguardar por esse consenso entre os vários países para avançar.
"Temos uma Palestina na Cisjordânia e temos uma outra Palestina na Faixa de Gaza. É importante compreender que Palestina é esta. Nós não podemos, em caso algum, reconhecer um Estado que é dominado por forças terroristas. Eu acho que isso não devemos fazer", salientou o líder da oposição.
Por outro lado, o Partido Socialista defendeu que o reconhecimento do Estado da Palestina era fundamental, e que o Governo iniciava "tardiamente este processo".
"Aquilo que o Governo está a reconhecer, iniciando este processo, é de que falhou na sua avaliação da importância e da urgência deste passo", apontou o deputado Pedro Delgado Alves.
A Iniciativa Liberal (IL) por seu turno, sublinhou a importância do reconhecimento do Estado da Palestina ser feito num movimento multilateral, explicando que Portugal fazê-lo individualmente não faria diferença.
"A IL não vê uma mudança, um virar de agulha, seja por parte do Governo, seja também por parte da própria Iniciativa Liberal. A posição que a Iniciativa Liberal tem, neste caso do conflito israelo-palestiniano, tem coincidido com a posição do Estado português, não apenas deste Governo, mas também já do anterior", afirmou o deputado Rodrigo Saraiva.
A opinião sobre uma decisão 'em atraso' é transversal à Esquerda, com o Livre a considerar que para além de tardia, esta decisão acontece acontece "quase mais por pressão exterior" e dos cidadãos do que por vontade do próprio Executivo.
"É uma boa decisão, mas é certamente tardia. Não faltaram oportunidades, diga-se também a governos anteriores, para avançar com este reconhecimento", afirmou o deputado Jorge Pinto.
Já o Partido Comunista Português disse que o Estado da Palestina é urgente e já deveria ter acontecido, considerando que a decisão do Governo "é inseparável da pressão da opinião pública" e não pode ter um "arrastamento no tempo".
"Face ao anúncio de contactos por parte do Governo sobre um eventual reconhecimento do Estado da Palestina, remetendo para setembro eventual decisão, o PCP reitera que tal decisão urge e já deveria ter sido concretizada, como o PCP propôs reiteradamente na Assembleia da República", pode ler-se num comunicado enviado pelo partido liderado por Paulo Raimundo.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, considerou que o Governo toma esta decisão agora porque "os ventos estão a mudar" com a posição de outros países.
"O Governo vem tarde neste reconhecimento que tem que ser feito imediatamente. Essa é a posição que o Bloco de Esquerda tem vindo a defender e é isso que diremos ao Governo, ao primeiro-ministro, quando auscultados sobre esta matéria", adiantou Mortágua.
Também o PAN lamentou que "só agora" Portugal assuma que reconhecer o Estado da Palestina é essencial, defendendo que sejam aplicadas sanções económicas a Israel perante uma "catástrofe humanitária inaceitável".
O partido liderado por Inês Sousa Real apontou ainda que "já expressou publicamente a condenação deste genocídio" e reforçou "a importância de serem aplicadas sanções económicas a Israel tal como fizeram com a Rússia".
O deputado único do JPP considerou a intenção do Governo de avançar com o reconhecimento do Estado da Palestina constitui um "passo relevante", mas alertou que não pode ser apenas um gesto simbólico.
"Trata-se de um passo relevante, que vai ao encontro de um princípio básico de justiça internacional e de respeito pela autodeterminação dos povos", adiantou o deputado Filipe Sousa numa reação escrita envida à agência Lusa.
E por Belém?
Numa primeira reação, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha considerado que "tem havido da parte do Governo um processo muito prudente e muito sensato e sempre vivido em conjunto com parceiros europeus e outros". O chefe de Estado apontou ainda que o Executivo não está "alheio" do que se passa no mundo, assim como sublinhou a "prudência" que foi tomada neste âmbito.
Para além de Marcelo sublinhar a "prudência" do Executivo neste âmbito, afirmou ainda não ter "poderes divinatórios" quando questionado sobre se Portugal vai avançar neste reconhecimento em esperar, por exemplo, pelos países signatários de uma declaração conjunta assinada da ONU.
"Não posso imaginar o que é que os governos de mais não sei quantos países vão fazer, vão meditar, vão decidir em termos de conteúdo e em termos de tempo. Cada um deles é soberano. Portanto, eles ajustaram, assinaram uma declaração. Reservaram-se depois o tempo de efetivarem, eventualmente, no futuro", acrescentou.
Para além de Marcelo, também os candidatos ao seu lugar falaram sobre o assunto. António Filipe exigiu o reconhecimento imediato do Estado da Palestina pelo Governo, defendendo que há muito que Portugal "devia ter saído da lista da vergonha" dos países que ainda não o fizeram.
Luís Marques Mendes, por sua vez, congratulou-se com o anúncio, apontando: "Era uma decisão inevitável. O importante agora é debelar a crise humanitária chocante que se mantém em Gaza."
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