Angola devia "recuar para melhor avançar" disse Bonga

O músico Bonga, que receberá este ano uma condecoração oficial, considera que Angola devia "recuar para melhor avançar" e, nesse caminho, não contar "com os mesmos", mas "com outros que tenham têmpera" e que recuperem "o angolano de ontem".

Entrevista ao músico angolano Bonga

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Lusa
25/07/2025 15:52 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Angola

Em entrevista à Lusa na cidade alentejana de Sines, onde esteve para atuar no Festival Músicas do Mundo, o músico de quase 83 anos partilhou que Angola gostava de ver, 50 anos depois da independência.

 

"Como nós começámos mal, temos que dizer que vamos recuar para melhor avançar. E melhor avançar não é contar com os mesmos que já nos fizeram mal. Têm que contar com outros que tenham têmpera", vincou.

"Estamo-nos a acobardar demais, (...) tem que haver aquele angolano de ontem, ousado, perspicaz, respeitoso, verdadeiro. Angolano, sem complexos. A gravata não é o mais importante. Os cursos tirados também não são importantes, senhor doutor, senhor engenheiro...", criticou.

O importante -- questiona -- é "saber o que é que ele faz, de que é que ele vive, como é que ele vive com a família dele, respeita quem, [se] saúda o povo na rua, [se] ajuda as pessoas".

À beira de completar 83 anos, José Adelino Barceló de Carvalho -- mais conhecido como Bonga -- vai ser condecorado no âmbito das celebrações dos 50 anos da independência de Angola pelo Presidente da República angolano, João Lourenço, que hoje iniciou uma visita oficial de dois dias a Portugal.

A programação paralela do Festival Músicas do Mundo -- que decorre em Sines até sábado (com concertos que se estendem pela madrugada de domingo) -- inclui a exposição coletiva "Balumuka! -- Narrativa poética da liberação... ou ainda, Rebelião Poética Kaluanda".

Bonga visitou a exposição antes de deixar Sines, para ver a capa do seu disco icónico "Angola 72" na parede do Centro de Artes.

À Lusa, elogiou "o contributo" dos artistas-ativistas angolanos que integram a exposição, com curadoria de Kiluanji Kia Henda e André Cunha, com um olhar sobre a música enquanto veículo de preservação da história.

"Angola precisa de muitos mais" como Zezé Gamboa, António Ole ou Luaty Beirão. "Do jeito que está... [precisa de] muitos mais. Porque nós, da nossa geração, nunca ninguém pensou que ia ficar como está ficando", lamentou, lembrando que o país tem petróleo, diamante, ouro.

"Ai, espera aí, então, com tudo isso, não é para a gente ser feliz?", atira, perguntando onde está "a solidariedade" com "aqueles que comem em contentores e que estão na rua, desgraçados" e lembrando a "escola [que] não há, os hospitais [que] estão com problema".

O facto de viver fora há mais de 40 anos não lhe diminuiu o amor por Angola. "O país é o país. Agora, os homens é outra louça, (...) contra eles é que a gente se deve insurgir", sublinhou.

No caso dele, fá-lo "cantando, que é a melhor maneira" que encontra para dar "recados positivos para ajudar" o "grande povo" angolano.

Leia Também: Músicas do Mundo instala-se em Sines para maratona de 39 concertos

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