O Sporting foi lesto a selar a contratação do substituto de Franco Israel. A caminho dos italianos do Torino a título definitivo, o internacional pelo Uruguai foi rendido por João Virgínia, que está de regresso a um clube que bem conhece.
O guarda-redes português, de 25 anos, abandona o Everton a 'custo zero' e regressa a uma casa que já conhece da anterior passagem pelo clube (2021/22). Na altura, o jovem fez oito jogos de leão ao peito.
Ricardo Pereira, treinador de guarda-redes do LASK Linz, da Áustria, conhece bem João Virgínia dos tempos em que o orientou nos escalões de formação do Benfica. Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o técnico, de 51 anos, considera que esta foi uma aposta certeira por parte dos verde e brancos, considerando que o Sporting ficará bem servido com dois guardiões portugueses.
"O Sporting aproveitou muito bem esta oportunidade de mercado. O João era um dos guarda-redes disponíveis no mercado mais interessante não só pela sua idade, mas também pelo seu potencial e qualidade, pese, nos últimos anos, ser um guarda-redes que jogou pouco. Os anos de maior utilização do João acabaram por ser quando foi emprestado a um clube nos Países Baixos e o ano em que teve no Sporting, onde teve a oportunidade de somar alguns minutos", começou por dizer Ricardo Pereira, elogiando as qualidades do jovem português que é natural da cidade algarvia de Faro e também de Rui Silva.
"Neste momento da carreira do João, pese esta pouca utilização nos últimos anos, eu acho que ele pode dar garantias de que a baliza do Sporting está muito bem servida com dois guarda-redes portugueses e com histórias de formação completamente diferentes. Como sabemos, o Rui não passou por nenhum dos grandes em Portugal durante a sua juventude e durante a sua afirmação como guarda-redes. Ele começou nas ilhas, como sabemos, e depois rumou a Espanha. Mas eu acho que o Sporting fica muito bem servido com os dois guarda-redes que tem", argumentou Ricardo Pereira, antecipando uma rivalidade saudável entre Rui Silva e João Virgínia.
"Não considero que o João possa ser visto unicamente como um suplente, pode ser visto como um segundo guarda-redes que vai estar continuamente a desafiar o primeiro. Na minha opinião, o primeiro, por toda a consistência que trouxe à baliza do Sporting desde que chegou, merece iniciar a época como titular e provavelmente terá maior tempo de utilização. Mas acho que o João vai ser um bom desafio, vai ser um número dois a desafiar continuamente o número um. Os clubes normalmente querem isso, ou pelo menos eu, como treinador de guarda-redes, gosto muito disso. E que estará pronto para jogar quando for chamado, tenho a certeza, pela forma competitiva como o João treina, pela mentalidade do João, como cuida da sua condição física. E o Sporting, a trabalhar com ele, saberá dar-lhe também toda a dimensão técnica e tática que ele precisa para estar a postos quando for chamado", ressaltou o treinador natural de Lisboa.
Desde que saiu do Sporting no final da temporada 2021/22, João Virgínia somou apenas 26 jogos, entre os neerlandeses do Cambuur e o Everton. Apesar disso, Ricardo Pereira frisa que o guarda-redes português pode 'roubar' a titularidade de Rui Silva a médio prazo.
"Não considero que para já o João possa ser uma ameaça ao estatuto de titular do Rui Silva. É preciso olhar para o que foi a realidade dele em Inglaterra. O João foi durante muitos anos suplente do titular da seleção inglesa e de um símbolo do Everton. E nós temos situações como a do João à volta da Europa. Olhe-se para um Atlético de Madrid, onde está o Oblak que não deixa jogar mais ninguém. Portanto, quem vai, vai no sentido de desafiar, vai no sentido de ser concorrência, mas não é realmente fácil", afirmou o treinador luso.
Português esteve sete temporadas ligado ao Everton© Getty Images
"Eu considero que no curto prazo ele não vai ameaçar a titularidade, mas vai desafiá-la todos os dias em cada um dos treinos. Acredito que no médio prazo, e sendo igualmente um guarda-redes com uma idade interessante para uma futura venda, as coisas podem mudar. Neste momento, a realidade do João Virgínia muda dentro do Sporting. Deixa de ser um guarda-redes emprestado que não traria dividendos financeiros, só traria dividendos desportivos quando veio. Há três anos, ele veio numa situação em que o Sporting também precisava de um número 2, mas em que tínhamos um Adán em bom nível, e tínhamos o Franco Israel também a jogar com alguma qualidade", ressaltou o técnico, destacando a mudança que João Virgínia vai ter no estatuto neste regresso ao Sporting
"Agora o paradigma muda um bocadinho. O Sporting está a contratar um guarda-redes de 25 anos, com um contrato longo e com potencial ainda do Sporting poder tirar dividendos financeiros e também desportivos. Num curto prazo não, a médio prazo eu acredito que o João, se as coisas lhe correrem bem em treino e nas oportunidades que provavelmente terá de jogar nas várias Taças, se este for o entendimento do Rui Borges e do Sporting, acredito que o João pode vir a desafiar no médio prazo a titularidade do Rui Silva", atirou, antevendo uma boa resposta de Virgínia caso este tenha de render Rui Silva no onze titular.
João Virgínia foi utilizado em oito jogos na primeira passagem pelo Sporting© Getty Images
"O João vem de uma realidade competitiva muito desafiante, sem jogar no campeonato, mas fazendo alguns jogos nas Taças, jogando a bom nível. Há três anos, no empréstimo, era bem mais jovem e não senti que tenha tremido. Conhecendo o que é a personalidade do João, a maturidade dele também, acredito que ele não terá qualquer problema em substituir o Rui Silva e em jogar a muito bom nível", referiu Ricardo Pereira.
Conhecedor de João Virgínia desde os tempos em que ambos estavam no Benfica, o técnico elencou algumas das qualidades do guarda-redes português.
"É um guarda-redes, daquilo que eu pude observar mesmo pelos jogos que fez pelo Everton, com maturidade suficiente para, mesmo num país onde se exige tantos guarda-redes em termos de jogo aéreo, tomar ótimas decisões naquilo que é o mais difícil para um guarda-redes que não joga, que é decidir quando sai ou quando não sai para controlar uma bola em profundidade, quando sair ou não num cruzamento. Eu vi o João quase sempre a tomar boas decisões nestas circunstâncias e depois a continuar muito forte naquilo que já tinha, que é na defesa da baliza. O João continua a possuir todas as suas qualidades inatas ao nível da velocidade e da agilidade, que são pontos muito importantes para um guarda-redes", destacou o treinador de guarda-redes dos austríacos do LASK Linz.
Ricardo Pereira destaca ainda que João Virgínia no futuro poderá estar no radar da seleção nacional caso agarre a titularidade da baliza leonina, lembrando ainda o passado que o jovem tem nas camadas jovens portuguesas.
"Na cabeça do João já estará aquilo que deve ser a carreira de um jovem guarda-redes, que é no passo a passo, ou dito em bom português, não pôr a carroça à frente dos bois. Portugal, por muito que se ache o contrário, está, no seu mais alto nível, bem servido de guarda-redes. Nós olhamos para o nível do José Sá, mesmo às vezes perdendo a titularidade no Wolverhampton, e vê-mo-lo a jogar num muito bom nível. O Rui Silva mostrou muita qualidade no Sporting no ano passado, e temos o Diogo Costa com o talento que todos sabemos que temos", vincou.
"O João, na minha opinião, primeiro, vai ter de somar minutos no Sporting, nas oportunidades que lhe derem, e fazê-lo de forma consistente. Posteriormente se conseguir ganhar a titularidade, acredito que o João ainda vai muito a tempo de ser colocado no radar da seleção nacional. Tem história nas nossas seleções juvenis. Por que não voltar a este lote restrito dos bons guarda-redes para servir a nossa seleção?", deixou escapar.
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