No rescaldo do acordo estabelecido na noite de domingo entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE), que prevê a aplicação de tarifas aduaneiras de 15% sobre as exportações, a partir do dia 1 de agosto, foram vários os líderes europeus que saudaram o pacote que, na sua ótica, protege os "interesses fundamentais" do bloco europeu. Por cá, o secretário-geral do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro, apelou a que o Governo de Luís Montenegro estime "os impactos desta tarifa" na economia portuguesa "o mais rapidamente possível".
"Foi uma negociação muito interessante. Penso que será ótimo para ambas as partes", apontou o presidente norte-americano, Donald Trump, no final da reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Na mesma linha, o secretário do Comércio norte-americano, Howard Lutnick, defendeu que o acordo alcançado com Bruxelas "fortalecerá a relação" com a UE.
"O presidente (Donald) Trump acaba de abrir as portas a uma das maiores economias do mundo. A UE abrirá o seu mercado de 20 biliões de dólares e aceitará integralmente os nossos padrões automóveis e industriais pela primeira vez na sua história. […] É um dia histórico para o comércio americano e vai reforçar a nossa relação com a União Europeia durante décadas", escreveu, na rede social X (antigo Twitter).
Por seu turno, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, elogiou o trabalho da presidente da Comissão Europeia, que conseguiu alcançar um acordo que protege os "interesses fundamentais" da UE.
"A determinação e a unidade pavimentaram o caminho para um acordo negociado com os Estados Unidos, que prioriza a cooperação, protege os interesses fundamentais da UE e oferece às empresas a certeza de que precisam", destacou Costa.
Também o chanceler alemão, Friedrich Merz, saudou o acordo comercial entre os Estados Unidos e a UE, tendo apontado que o pacote permite "evitar uma escalada desnecessária nas relações comerciais transatlânticas".
"Assim, conseguimos preservar os nossos interesses fundamentais, embora desejasse mais reduções no comércio transatlântico", disse, em comunicado.
Por cá, o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, admitiu que o acordo comercial que prevê tarifas aduaneiras de 15% sobre os produtos europeus que entrem nos Estados Unidos não é o ideal, mas é o possível.
Para José Luís Carneiro, o Governo português "tem o mais rapidamente possível de estimar os impactos desta tarifa, no conjunto dos setores portugueses que exportam para os Estados Unidos", como o vestuário, calçado e metalomecânica, mas também no setor da saúde.
"É importante realizar uma avaliação, tão extensa quanto possível, sobre o impacto dessas tarifas na nossa economia. É também muito importante estimar que o impacto destas tarifas no quadro da economia da UE, sendo que nós vendemos mais de 70% para a Europa, e estimar todos os seus impactos económicos, que também são nocivos para economia nacional", alertou, em declarações à agência Lusa.
O Japão, por sua vez, disse que acompanhará de perto as consequências do acordo comercial entre a UE e os Estados Unidos, embora tenha considerado que "reduz a incerteza" gerada em torno da política tarifária norte-americana.
"Os acordos [dos Estados Unidos] com o Japão e com a União Europeia reduzem os riscos para a economia japonesa e mundial", afirmou à imprensa Yoshimasa Hayashi, porta-voz do Governo japonês.
Mas o que contempla o acordo?
O acordo bilateral inclui uma tarifa fixa e máxima de 15% das exportações europeias nos Estados Unidos, em vez dos 30% que Washington ameaçava aplicar a partir de 1 de agosto, caso não houvesse consenso, informou Von der Leyen após a sua reunião com o presidente norte-americano, no seu complexo de golfe em Turnberry, a oeste da Escócia.
Esses 15% serão aplicados "à maior parte dos setores, como automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos", precisou a chefe do Executivo comunitário.
A informação contradiz o que foi dito anteriormente pelo próprio Donald Trump, que afirmara que os produtos farmacêuticos estavam excluídos da negociação.
Von der Leyen anunciou ainda que foram acordadas "tarifas zero", por ambas as partes, numa série de "produtos estratégicos", incluindo nos do setor aeroespacial e os seus componentes, certos químicos, produtos agrícolas, recursos naturais e matérias-primas. A chefe do Executivo comunitário adiantou que continuarão a trabalhar para adicionar mais elementos a esta lista.
Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu incentivou a que se aproveite "este resultado para continuar a fortalecer a competitividade da UE e a ampliar a nossa rede comercial global".
Nesse sentido, Von der Leyen destacou que a UE está a criar novas alianças comerciais por todo o mundo, ampliando as 76 que já possui.
"Concluímos negociações nos últimos meses com o Mercosul, o México e a Indonésia. Num mundo instável, a Europa é um parceiro confiável. E continuaremos a oferecer acordos que ajudem a salvaguardar a nossa prosperidade", sublinhou.
O pacto inclui um compromisso da UE de comprar energia dos Estados Unidos no valor de 750 mil milhões de dólares e investir 600 mil milhões de dólares adicionais naquele país, além de aumentar as suas aquisições de equipamento militar americano, conforme explicou anteriormente Trump.
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