"A AEP manifesta a sua preocupação perante o novo acordo comercial", reagiu a associação comercial à Lusa, sobre as implicações do entendimento alcançado no domingo, 27 de julho, entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA).
Para a AEP, embora o resultado não seja o esperado, a existência de um entendimento entre as duas partes vem dar "estabilidade e previsibilidade" aos agentes económicos.
"Importa realçar que a tarifa definida para a União Europeia, embora igual à aplicada ao Japão, é superior à concedida ao Reino Unido. O que reforça a ideia de que este acordo é o possível, mas longe de ser o desejável", afirma a AEP.
"Este novo paradigma comercial, aliado a outros fatores relevantes, como a apreciação do euro face ao dólar americano, coloca enormes desafios à competitividade das exportações portuguesas de bens neste mercado", nota a associação empresarial, tendo em consideração que os Estados Unidos absorvem "cerca de 6,7% das exportações portuguesas de bens" e são "o quarto principal cliente de bens e o primeiro não europeu".
Sobre o impacto dos direitos aduaneiros nas empresas portuguesas, a AEP refere que "tenderão a ser maiores nos setores com maior grau de exposição aos EUA, destacando-se vários setores de elevada especialização produtiva da economia portuguesa, como os bens alimentares, os têxteis e o calçado, bem como os produtos das indústrias química, metalomecânica e de equipamentos, entre muitos outros".
Além dos impactos diretos que resultam da relação comercial entre Portugal e os Estados Unidos, a AEP vinca que o acordo trará impactos indiretos, porque outros países da UE poderão diminuir as suas compras a Portugal se passarem a exportar menos para o mercado norte-americano.
Para a AEP, "uma vez que esta tarifa se aplica aos restantes 26 países da União Europeia - destino de mais de 70% das exportações portuguesas de bens" -, é "expectável" que os parceiros europeus "importem menos bens de Portugal", sendo os setores automóvel e têxtil os mais afetados.
Tendo em consideração que haverá um "novo enquadramento comercial" com a maior economia mundial, a AEP reclama "medidas de apoio às empresas, de forma a mitigar os impactos negativos nas exportações nacionais e preservar a competitividade das empresas portuguesas nos mercados internacionais". No entanto, não especifica quais devem ser tomadas.
O acordo comercial entre a UE e os Estados Unidos, alcançado no domingo, fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
O acordo prevê também o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros) -- visando nomeadamente substituir o gás russo -, o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros) e um aumento das aquisições de material militar.
Os EUA e os países da UE trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços.
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