O panorama dos festivais de música em Portugal não só continua vivo, como se diversifica de ano para ano: em 2025, 13 novos festivais animaram os palcos do país e cinco foram descontinuados.
Porém, numa altura em que se vive um momento de reinvenção, de formatos, públicos e no tipo de experiências proporcionadas, as marcas que apostam nos festivais estão a repensar as suas estratégias.
A Licor Beirão tem sido uma das marcas que se tem destacado, marcando presença em mais do que um festival de verão, ano após ano.
"Marcada por um legado familiar de noventa anos, a Casa Redondo encarna o espírito de inovação e qualidade das bebidas espirituosas e vinhos portugueses. Como distribuidora do Licor Beirão e de 50 outras marcas de renome, a empresa opera em mais de 70 países, comprometida em estabelecer padrões globais enquanto promove parcerias internacionais que enriquecem o seu distinto legado", pode ler-se no site da empresa.
O Lifestyle ao Minuto entrevistou Daniel Redondo, CEO da Casa Redondo, para perceber de que forma a marca Licor Beirão se tem transformado e adaptado aos festivais de verão.
Daniel Redondo, CEO da Casa Redondo© Sara Matos
Para começar, pode contextualizar a relação da Licor Beirão com os festivais de verão em Portugal? Quando e como começou essa ligação?
Curiosamente - e com algum orgulho familiar à mistura - fui eu próprio, já enquanto terceira geração da família, que dei o pontapé de saída nesta aventura 'festivalística' do Licor Beirão. E o nosso "primeiro festival" não foi propriamente o palco principal do NOS Alive, mas sim as lendárias Queimas das Fitas de Coimbra nos anos 2000.
Na altura, aparecer com cocktails como o Caipirão ou o Morangão foi quase um ato revolucionário. O gelo ainda era picado à mão, com mais vontade do que equipamento - mas o resultado foi mágico. Bastava um gole e víamos logo o sorriso no rosto dos estudantes. Percebemos ali o poder que uma boa bebida pode ter quando se cruza com um bom momento.
A partir daí, tornou-se claro: os festivais são um território natural para o Beirão e desde 2011 temos passado pelos sucessivos festivais de grandes dimensões, como o Rock in Rio, Nos Alive, Marés Vivas ou outros mais regionais, como o Vilar de Mouros ou Expofacic. Não só para dar a conhecer os nossos cocktails, mas porque acreditamos que uma boa experiência acompanhada de uma boa bebida cria memórias que duram para a vida. E essa é, no fundo, a essência da nossa marca desde os tempos do meu avô - fazer parte dos melhores momentos da vida das pessoas. Com humor, com autenticidade e com sabor!
Fomos afinando a presença para proporcionar não só uma bebida, mas uma experiência completa - sempre fiel ao nosso espírito: descomplicado, divertido e 100% português
Como é que a abordagem da marca aos festivais mudou ao longo dos anos?
Hoje estamos nos festivais de forma muito mais impactante e preparada. As nossas estruturas evoluíram bastante - são mais robustas, visualmente apelativas e pensadas para garantir um serviço rápido e eficiente, mesmo nas horas de maior afluência.
Também ganhámos mais espaço para criar uma verdadeira ligação com o público: com ativações de marca criativas, conteúdos partilháveis e momentos que reforçam a identidade bem-humorada e próxima do Beirão.
No fundo, fomos afinando a presença para proporcionar não só uma bebida, mas uma experiência completa - sempre fiel ao nosso espírito: descomplicado, divertido e 100% português.
Quais foram os maiores marcos ou viragens nesta evolução?
O primeiro grande marco foi, precisamente, o primeiro evento. É nesse momento que percebemos o que significa, na prática, servir centenas de pessoas num curto espaço de tempo - e tudo o que isso exige em termos de estrutura, equipas, fluxo de serviço e gestão de produção. Foi o início de uma curva de aprendizagem muito prática, que moldou tudo o que veio a seguir.
Depois, o passo seguinte foi decisivo: entrar nos grandes palcos nacionais, como o Rock in Rio ou o NOS Alive. Aí deixamos de falar em centenas para falar em milhares de consumidores - e isso muda tudo. Tivemos de repensar e otimizar todo o processo de produção e serviço de cocktails, do início ao fim, para garantir qualidade, consistência e rapidez, sem comprometer a experiência.
Pela primeira vez, todos os nossos festivais passaram a utilizar o sistema EcoTote, uma solução de distribuição de bebidas reutilizável, que nos permite eliminar o desperdício de embalagens de uso único
Mais recentemente, os desafios multiplicaram-se: por um lado, a necessidade de nos destacarmos no meio do ruído - com tantas marcas a ativar, é essencial encontrar abordagens diferenciadoras, criativas e alinhadas com o espírito do Beirão. Por outro lado, há uma preocupação crescente em garantir que todo o serviço seja também mais sustentável.
O ano de 2025 marcou um novo capítulo nesse sentido: pela primeira vez, todos os nossos festivais passaram a utilizar o sistema EcoTote, uma solução de distribuição de bebidas reutilizável, que nos permite eliminar o desperdício de embalagens de uso único. Esta inovação vai permitir evitar o desperdício de mais de 20.000 garrafas durante os festivais de verão — uma mudança com impacto real na redução de resíduos e da pegada de carbono. É a prova de que se pode brindar à festa e ao futuro ao mesmo tempo.
A tecnologia permite-nos hoje criar experiências imersivas, personalizadas e memoráveis
Que papel tem a inovação tecnológica nas ativações da vossa marca?
A inovação é uma das formas de mantermos viva a irreverência do nosso fundador. Ele já fazia publicidade fora da caixa nos anos 40 e 50 - algo verdadeiramente pioneiro à época. Mas esse espírito criativo e provocador não se ficou por aí: foi continuado pelo seu filho, e hoje permanece bem vivo na terceira geração da família, que lidera a marca com o mesmo entusiasmo por desafiar o esperado.
A tecnologia permite-nos hoje criar experiências imersivas, personalizadas e memoráveis. Seja através de apps e ativações digitais que surpreendem e fazem sorrir, seja com a implementação do novo sistema EcoTote, que nos permite ter um papel ativo na promoção da economia circular, usamos a tecnologia sempre com um propósito claro: reforçar a ligação emocional com o nosso público e tornar a experiência com a marca mais relevante e memorável.
Conseguimos amplificar digitalmente essa presença: através de conteúdos estratégicos nas redes sociais, desafios criativos, interações com influenciadores e um storytelling que tornou o Maracujão emblemático, com vida própria e fãs à sua volta.
Mascote Maracujão da Licor Beirão© Casa Redondo
Têm algum exemplo recente de ativação digital ou tecnológica que tenha tido um impacto especial no público?
Sem dúvida que um dos exemplos mais marcantes nos últimos anos tem sido o sucesso das nossas mascotes de cocktails, em particular a do Maracujão. Tornou-se praticamente uma estrela dos festivais - todos querem uma foto com ela. E isso não acontece por acaso!
Muito do impacto veio da forma como conseguimos amplificar digitalmente essa presença: através de conteúdos estratégicos nas redes sociais, desafios criativos, interações com influenciadores e um storytelling que tornou o Maracujão emblemático, com vida própria e fãs à sua volta.
É um ótimo exemplo de como a integração entre o físico e o digital pode criar algo memorável, que se vive no momento, mas continua a existir e a ser partilhado muito depois do festival acabar.
Como definem atualmente a experiência de marca num festival? O que procuram proporcionar aos festivaleiros?
Queremos ser o primeiro brinde do festival - aquele momento leve, inesperado e divertido que marca o arranque de tudo. A experiência Beirão num festival é sinónimo de boa disposição, riso, criatividade e um espírito acolhedor. Procuramos criar espaços onde as pessoas se sintam bem, se divirtam genuinamente e levem uma boa história para contar.
Acreditamos que é possível continuar a proporcionar uma experiência divertida e inesquecível, cuidando ao mesmo tempo do ambiente - e, honestamente, acreditamos que até sabe melhor assim
A sustentabilidade tem sido um tema crescente. Como é que a vossa marca integra práticas sustentáveis nos festivais?
Temos cada vez mais consciência do nosso papel e impacto enquanto marca presente em grandes eventos. Por isso, a sustentabilidade tem vindo a ganhar espaço nas nossas decisões - não como tendência, mas como responsabilidade real.
Este ano, como já referi, demos um passo importante ao introduzir, pela primeira vez em todos os festivais onde estivemos presentes, o sistema EcoTote: uma solução inovadora e reutilizável para transporte e serviço de bebidas, estamos a falar de eliminar provavelmente mais de 20.000 garrafas de vidro de utilização única representando um avanço significativo na redução da nossa pegada ecológica.
Além disso, continuamos a apostar em copos reutilizáveis e em estruturas que privilegiam materiais sustentáveis. Acreditamos que é possível continuar a proporcionar uma experiência divertida e inesquecível, cuidando ao mesmo tempo do ambiente - e, honestamente, acreditamos que até sabe melhor assim.
Para nós, cada bebida servida representa um novo consumidor conquistado. Isso é construir valor real: uma marca mais forte, mais relevante e mais rejuvenescida, com impacto direto no futuro
Como medem o retorno da presença em festivais? É apenas mediatismo ou também há conversão real em valor de marca?
Cada festivaleiro é um potencial futuro consumidor da marca - e o que temos de garantir é que prova. Porque, para nós, cada bebida servida representa (e normalmente confirma-se) um novo consumidor conquistado. Isso é construir valor real: uma marca mais forte, mais relevante e mais rejuvenescida, com impacto direto no futuro.
Naturalmente, o retorno vai muito além do mediatismo. Monitorizamos indicadores operacionais, como o número de bebidas servidas em proporção com o público presente - um KPI que analisamos de forma muito concreta e tentamos sempre melhorar, festival após festival. Mas olhamos também para indicadores de performance de marca, como o impacto na notoriedade e na consideração, medido através de dados digitais, alcance orgânico, número de partilhas, crescimento de seguidores e 'engagement' gerado ao longo do período dos festivais.
No entanto, trata-se de um investimento elevado - e com riscos muito concretos. Desde a instabilidade do tempo, à concorrência de dezenas de marcas com ativações cada vez mais impactantes, passando por burocracias exigentes que facilmente implicam custos adicionais na ordem das dezenas de milhares de euros. São apostas que exigem planeamento rigoroso e nervos de aço, porque o risco de não gerar impacto nem retorno esperado é real - e cada vez mais elevado.
A vossa presença nos festivais influencia decisões estratégicas futuras da marca?
Sim, sem dúvida. Os festivais são laboratórios vivos. Observamos comportamentos, testamos ideias, recebemos feedback direto. Isso alimenta a nossa criatividade e ajuda-nos a tomar decisões mais certeiras, mais humanas. Muitas campanhas nasceram dessa ligação direta com o público.
Licor Beirão no NOS Alive© Casa Redondo
Como é a vossa relação com os promotores dos festivais?
É uma relação de confiança e cocriação. Não somos um patrocinador qualquer - somos um parceiro que contribui para a experiência do festival. Trabalhamos lado a lado com os promotores para criar ativações que tenham impacto real e que reflitam os valores de ambos.
Que desafios enfrentam ao ativar a marca nestes contextos?
Há sempre desafios logísticos, especialmente quando o tempo decide pregar partidas - algo que está fora do nosso controlo, mas tem impacto direto na operação. Além disso, há uma série de exigências técnicas e legais que precisam de ser cumpridas ao detalhe. Inspeções da ASAE, da ACT e de outras entidades reguladoras fazem parte da realidade destes eventos, e apesar da boa cooperação que temos com os promotores dos festivais, são processos que exigem rigor, disponibilidade e, muitas vezes, capacidade de resposta imediata.
Mas também há o desafio da relevância. De continuar a surpreender, a criar ligações genuínas e a falar a linguagem de públicos que estão em constante mudança. O que hoje emociona ou diverte, amanhã pode já não ter o mesmo efeito. E é aí que a nossa história nos dá vantagem: com quase 100 anos de prática em adaptação e reinvenção, aprendemos que a consistência só se constrói com criatividade e coragem!
As marcas que souberem ser humanas, consistentes e criativas vão destacar-se. E as que conseguirem fazer rir - como o Beirão sempre fez - vão ficar no coração do público
Quais são as próximas tendências que preveem para o branding em festivais de verão?
Mais integração entre o físico e o digital, mais personalização e, acima de tudo, mais autenticidade. As marcas que souberem ser humanas, consistentes e criativas vão destacar-se. E as que conseguirem fazer rir - como o Beirão sempre fez - vão ficar no coração do público.
A vossa marca está a explorar novos formatos, como festivais digitais, NFTs, gamificação ou festivais fora de Portugal?
Sim, temos vindo a explorar novas formas de presença e expansão - e um dos focos recentes tem sido precisamente a internacionalização da marca através de festivais fora de Portugal, já há muitos anos que fazemos eventos em França, Suíça ou Luxemburgo.
Um dos exemplos mais emblemáticos desta estratégia é o nosso icónico elétrico de Lisboa, totalmente personalizado com a identidade Licor Beirão, que percorre os festivais holandeses como símbolo de uma marca nacional com espírito global
Começámos a dar os primeiros passos, fora da comunidade da saudade, na Holanda, onde lançámos a marca há cerca de dois anos. Este verão, marcamos presença em cinco festivais holandeses, com estruturas de grande impacto visual e emocional, que puxam fortemente pela portugalidade - um dos exemplos mais emblemáticos desta estratégia é o nosso icónico elétrico de Lisboa, totalmente personalizado com a identidade Licor Beirão, que percorre os festivais holandeses como símbolo de uma marca nacional com espírito global. A reação do público tem sido extremamente positiva — há curiosidade, entusiasmo e uma forte ligação emocional ao imaginário português.
Que mensagem deixaria ao público que vê a vossa marca presente num festival?
Queremos que, ao ver o Beirão, sintam que "a festa chegou". Que sintam orgulho em algo tão nosso, tão português, mas tão atual. Que riam, que dancem, que vivam. E que levem consigo a certeza de que, com Beirão, os bons momentos sabem ainda melhor.
Clique na galeria acima para ver a presença da Licor Beirão nos eventos de verão.
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