Primeiro ministro da Saúde vê "melhoria extraordinária" em Moçambique

O primeiro ministro da Saúde moçambicano, Hélder Martins, afirmou à Lusa que o setor conheceu uma "melhoria extraordinária" em 50 anos de independência, após encontrar, em 1975, uma "herança colonial péssima".

ENTREVISTA: Independências: Primeiro ministro da Saúde vê "melhoria extraordinária" em Moçambique após "herança colonial péssima"

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Lusa
21/06/2025 06:08 ‧ há 4 horas por Lusa

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Moçambique

"Nós constatámos que a herança colonial era péssima, era pior de tudo o que a gente podia ter imaginado. Ora, primeiro, era um sistema altamente discriminatório (...) a zona rural não tinha praticamente nada, não tinha assistência nenhuma, era medicina tradicional", disse Hélder Martins em entrevista à Lusa, quando o país prepara as comemorações dos 50 anos de independência.

 

O médico, que visitou todo o país antes da independência enquanto presidente de uma comissão de reestruturação do serviço de saúde, relata discriminação racial, socioeconómica, geográfica e por classes nos serviços de saúde coloniais que encontrou.

"Isto era um sistema péssimo no ponto de vista político, mas no ponto de vista técnico era já um sistema arcaico, antiquado, desapropriado, sem nenhum nível científico, era uma coisa de facto do pior que se pode imaginar tecnicamente", disse o antigo ministro, acrescentado que era um sistema "puramente curativo e não havia nada de preventivo".

Já sob liderança moçambicana, após a proclamação da independência do país em 25 de junho de 1975, Martins conta que o setor teve "muito sucesso" e foi reconhecido como o "melhor sistema de saúde em África e um dos melhores do mundo" pela Organização Mundial da Saúde.

Foram estabelecidos então alguns pilares pelo Governo moçambicano, entre os quais a participação comunitária para a saúde, ciência na governação da saúde, adoção da política de cuidados de saúde primários e gestão e formação de recursos humanos.

"Nós criámos centros de saúde em todos os bairros, nós levámos os cuidados de saúde à população, [em vez de] trazer a população aos hospitais", disse Hélder Martins.

Em 03 de fevereiro de 1976, Moçambique registou o número mínimo de médicos em todo o país, com um total de 75 profissionais, após a saída dos portugueses, e foi nesse dia que chegaram outros 22 médicos estrangeiros para apoiar o país.

"A partir daí o número começou a subir e depois vieram [profissionais] de outras nacionalidades (...). Nós chegámos a ter 52 nacionalidades só na saúde", referiu o antigo ministro, destacando o papel e a contribuição dos profissionais de saúde estrangeiros para a melhoria dos serviços de saúde de Moçambique.

"[A] entrada é às 07:30 da manhã, saída quando acabar os doentes", respondia Martins aos profissionais de saúde estrangeiros, sobretudo os soviéticos, quando questionavam o horário de funcionamento dos hospitais.

A linha de orientação era também a "promoção da saúde da comunidade pela própria comunidade", em que o próprio chefe de família promovia a saúde de todos.

Os esforços nacionais e internacionais conjugados levaram a que Moçambique registasse uma "melhoria extraordinária" dos indicadores de saúde da população nos primeiros cinco anos de independência, conta Hélder Martins.

"Os nossos indicadores de saúde tinham sido medidos no recenseamento geral da população em 1970, voltaram a ser medidos no recenseamento geral da população em 1980 (...). Quando você vai comparar o resultado de 1980, com o de 1970, vai ver a melhoria extraordinária no estado de saúde (...). Não foi ao longo dos 10 anos, foi naqueles cinco últimos anos em que houve essas transformações profundas e isso é que altera o estado de saúde da população", acrescenta.

Quando se assinalam 50 anos da proclamação da independência moçambicana, Martins pede uma reflexão sobre o passado do setor de saúde, para que se possa fazer uma projeção melhor do futuro.

"O que eu penso que é importante nesta altura que nós estamos a celebrar 50 anos de independência é fazer uma análise do que é que foi fundamental para o sucesso porque, a partir daí, eu acho que se podiam tirar lições para o presente. Sabe, quando a gente não analisa o passado, tem muita dificuldade em analisar o presente e tem muito mais dificuldade de prever o futuro", conclui o também histórico da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

Leia Também: Moçambique faz estratégia para resolver desnutrição crónica infantil

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