Adolescentes expulsos de um avião em Valência "por cantarem em hebraico"

A companhia aérea rejeita as acusações de antissemitismo e garante que o grupo de quase 50 jovens estava a comprometer a segurança do voo.

voo valenciaVídeo

© @AmichaiChikli

Carolina Pereira Soares com Lusa
24/07/2025 15:48 ‧ há 2 dias por Carolina Pereira Soares com Lusa

Mundo

Valência

Cerca de cinquenta adolescentes judaicos e os seus acompanhantes foram expulsos do aeroporto de Valência, em Espanha, esta quarta-feira, alegadamente, por “má conduta”.

 

O grupo regressava a Paris, depois de frequentarem um acampamento de férias em Espanha. Foi já dentro do avião, que se preparava para descolar, que os 47 adolescentes e os quatro acompanhantes foram abordados pela tripulação, que ameaçou chamar a polícia.

O que aconteceu dentro do avião?

A mãe de um dos adolescentes envolvidos no incidente disse, em declarações a um meio de comunicação israelita, que um dos jovens “cantou uma música em hebraico”, o que terá alertado a tripulação.

Inicialmente, conta a mãe, houve uma primeira intervenção em que pediram ao jovem em questão para ficar mais quieta, mas que a ação seguinte “sem qualquer outra intervenção” foi chamar a polícia. 

Depois de serem expulsos do avião pelas autoridades, uma outra mãe conta que ficaram num quarto durante duas horas, altura em que “tiveram de agarras nas malas” e foram expulsos do próprio aeroporto.

Esta mãe contou ao Le Parisien o seu filho não relatou nada de problemático que tenha acontecido no avião. “Parece que uma criança gritou uma vez em hebraico e a situação piorou a partir daí”, acrescentou.

Ela própria terá contactado o consulado francês em Valência, que respondeu que não podia fazer nada.

Segundo esta mãe, alguns jovens decidiram comprar novos bilhetes de avião para regressar a França, enquanto outras escolheram passar a noite em Valência.

Confirmou ainda que o acampamento de férias em que os jovens estiveram era destinados a judeus, apesar de não ser reservado aos mesmos.

Uma outra  mãe, em entrevista à AFP, garantiu que no avião, "não estavam 50 a cantar", contestando "a imagem estereotipada de um regresso de colónia com 50 miúdos descontrolados".

"Não gosto de dizer que é antissemitismo à primeira vista", declarou, "mas neste caso, sinceramente, não vejo o que poderá ter justificado tudo isto".

"Foram desembarcados como cães", afirmou ainda, referindo que os mais novos "eram crianças de 12 ou 13 anos".

Um dos adultos foi detido pelas autoridades

Circula nas redes sociais um vídeo, alegadamente do incidente. Será de um dos adultos que acompanhava os quase  adolescentes a ser imobilizada no chão e algemada pelas autoridades.

A companhia aérea, a Vueling, afirma que já de volta ao terminal “o comportamento agressivo do grupo continuou”. E acrescenta: “alguns indivíduos adotaram uma atitude violenta em relação às autoridades, o que levou à sua prisão”.

Contactada pela AFP, uma porta-voz da Guarda Civil confirmou a versão apresentada pela Vueling, garantindo que o grupo, composto por 47 adolescentes e quatro monitores, não acatou as instruções repetidas da tripulação.

A monitora foi detida "por se recusar a sair do avião e a obedecer aos agentes", acrescentou a mesma porta-voz, sublinhando que a jovem foi libertada pouco depois.

Contactada pela AFP, a mãe de um dos jovem, sob anonimato, afirmou que a monitora, de 21 anos, foi "atirada ao chão e levada" pela Guarda Civil depois de tentar impedir a apreensão dos telemóveis dos adolescentes.

Pode ver o vídeo na nossa galeria acima.

A versão da Vueling

A companhia aérea em que o grupo seguia afirma que os “47 adolescentes e quatro acompanhantes foram expulsos não por cantarem, mas por má conduta a bordo do avião com destino a Paris”.

Ao Le Parisien, a Vueling contradiz a versão contada acima e diz que o grupo foi avisado “várias vezes, mas não se sentaram e ignoraram as instruções da tripulação, colocando assim em risco a segurança do voo”. E garante que a “intervenção da tripulação foi motivada exclusivamente” por isto. 

O grupo terá manuseado “incorretamente os equipamentos de segurança e interrompeu ativamente a demonstração obrigatória de segurança, ignorando repetidamente as instruções da tripulação”.

O relato de testemunhas

Um outro passageiro, conta ao Le Parisien que estava no voo com a filha de três anos, a cerca de dez filas à frente do grupo. Damien relata que não ouviu “nenhum barulho ou grito”. E acrescenta que durante a apresentação de procedimentos de segurança, a companhia “disse que ia chamar a polícia por motivos de segurança. Ninguém entendeu o que estava a acontecer."

O passageiro diz que todos os membros pareciam calmos.

O acampamento apresentou queixa

Em comunicado, o advogado a organização em causa, a Club Kineret, anunciou que apresentou uma “denúncia contra a empresa Vueling pelo tratamento infligido ao nosso grupo de crianças e aos seus instrutores”.

O advogado acrescenta que os jovens “estavam sentados e respeitaram as regras e a tripulação. Nenhum incidente, nenhuma ameaça, nenhum comportamento inadequado foi relatado”.

Diz a organização que “o único elemento comum entre todo o grupo era a visibilidade religiosa”, dado que alguns jovens usavam um kipá (pequeno chapéu usado por homens judaicos) ou a estrela de Davi.

No comunicado é ainda questionada a “natureza profundamente discriminatória e potencialmente antissemita deste ato coletivo de religião e humilhação pública”.

Ministro da Diáspora de Israel critica o incidente

Na rede social X, o ministro da diáspora israelita denuncia a situação como “ um incidente antissemita grave”. E acrescenta: “A tripulação da companhia aérea Vueling disse que Israel é um estado terrorista e expulsou as crianças do avião; estão agora em Valência, à espera para regressarem a França”.

As autoridades policiais e a Vueling negam qualquer abuso ou que a expulsão do grupo tenha sido motivada pela fé dos passageiros.

Leia Também: Media internacionais pedem a Israel mais acesso a Gaza para jornalistas

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