"Estamos preocupados com o fato de que o conflito na região de Hiran interrompeu os serviços que salvam vidas de crianças, incluindo crianças que estavam a ser tratadas de desnutrição e que foram forçadas a fugir dos centros de saúde com as suas famílias", refere em comunicado Mohamud Mohamed Hassan, diretor da Save the Children na Somália.
Segundo a Organização Não-Governamental (ONG), os confrontos entre milícias locais, forças governamentais e grupos armados não estatais em Hiran, que deixaram milhares de pessoas isoladas e sem acesso a serviços básicos, intensificaram-se nos últimos dois meses, com uma escalada significativa em 27 de julho, que provocou o deslocamento de mais de 22.800 pessoas apenas na cidade de Mahas.
De acordo com a Save the Children, os deslocados refugiam-se em aldeias próximas em famílias de acolhimento, em condições de superlotação, ou ao ar livre, sem acesso a serviços essenciais.
A avaliação da organização revelou, segundo o diretor da ONG na Somália, que as famílias deslocadas estão a enfrentar condições humanitárias severas, com muitas delas a chegarem sem comida, abrigo ou suprimentos básicos.
A ONG comunicou, ainda, que já teve que suspender as suas atividades em 21 centros de saúde, devido ao conflito, incluindo um centro de estabilização para crianças com desnutrição aguda severa.
Além disso, alertou que o conflito danificou fontes de água, bloqueou rotas de acesso e agravou a insegurança alimentar, ao impedir que as famílias acedessem a pastagens, mercados e água potável.
Mulheres, crianças e outros grupos vulneráveis não têm abrigo adequado e sofrem de um forte stress psicológico, alertou a Save the Children, que manifestou a sua "profunda preocupação" pelo aumento dos relatos sobre o recrutamento de menores por atores armados de ambos os lados.
No total, o conflito já deslocou cerca de 100.000 pessoas nas regiões de Hiran e Gedo (sul) nos últimos dois meses, de acordo com parceiros humanitários e autoridades locais, o que aumenta a pressão sobre recursos já limitados como abrigo, alimentos, água potável e cuidados de saúde.
A ONG lembrou, ainda, que este novo deslocamento soma-se a uma crise anterior em comunidades já atingidas por uma grave seca, que provocou um aumento significativo da desnutrição infantil, agravado pelos cortes na ajuda humanitária.
No início deste ano, 32 centros de saúde apoiados pela Save the Children na região de Hiran foram fechados devido à falta de financiamento.
"Até à data, não foi entregue ajuda humanitária significativa, o que sublinha a necessidade urgente de uma resposta humanitária coordenada e sem restrições para atender às necessidades vitais", disse Hassan.
Leia Também: Estado semi-autónomo da Somália vai libertar navio com armamento turco