Israel ameaça banir organizações internacionais de enviar ajuda a Gaza

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou hoje que Israel ameaçou proibir a atuação das principais organizações de ajuda humanitária nos territórios palestinianos, numa altura em que se agrava a fome na Faixa de Gaza.

Ajuda humanitária na fronteira de Rafah, em Gaza

© IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS

Lusa
14/08/2025 06:28 ‧ há 1 hora por Lusa

Mundo

Israel/Palestina

A denúncia consta numa nova declaração assinada por 102 organizações não-governamentais (ONG) de todo o mundo, entre elas uma portuguesa, em que se expressa "alerta e repúdio" face à ameaça feita por Israel de banir as grandes organizações internacionais de ajuda humanitária de Gaza, ao mesmo tempo que a fome se agrava no enclave palestiniano.

 

Na declaração, assinada também pela Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), refere-se que, apesar das afirmações das autoridades israelitas de que não existe qualquer limite à entrada de ajuda humanitária em Gaza, "a maioria das grandes organizações não-governamentais internacionais não conseguiu entregar um único camião com bens vitais desde 2 de março".

"Em vez de desbloquear o crescente volume de bens acumulados, as autoridades israelitas rejeitaram pedidos de dezenas de ONG para enviar material de primeira necessidade, alegando que estas organizações 'não estão autorizadas a fornecer ajuda'", lê-se no documento divulgado pela organização MSF.

Só em julho, acrescentou a organização, mais de 60 pedidos foram recusados com esta justificação.

Esta obstrução deixou bens avaliados em vários milhões de dólares, incluindo alimentos, medicamentos, água e artigos para abrigo, retidos em armazéns na Jordânia e no Egito, enquanto a população palestiniana enfrenta a fome, alerta a ONG.

"A American Near East Refugee Aid (ANERA) tem mais de sete milhões de dólares em bens vitais impedidos de entrar em Gaza, incluindo 744 paletes de arroz, suficientes para seis milhões de refeições, bloqueadas em Ashdod, a poucos quilómetros de distância", afirmou Sean Carroll, presidente e diretor executivo da organização, citado na declaração conjunta.

Muitas das ONG agora consideradas "não autorizadas" a fornecer ajuda trabalham em Gaza há décadas, são reconhecidas pelas comunidades e têm experiência em entregar assistência de forma segura, deixando hospitais sem fornecimentos básicos e provocando a morte de crianças, pessoas com deficiência e idosos por fome e doenças evitáveis, enquanto trabalhadores humanitários vão para o trabalho com fome.

Nesse sentido, as 102 organizações signatárias apelam a todos os Estados e doadores para pressionarem Israel a acabar com a instrumentalização da ajuda, incluindo através de obstáculos burocráticos como os procedimentos de registo das ONG.

"Ajudem a garantir que as ONG não são forçadas a partilhar informações pessoais sensíveis, em violação do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), nem a comprometer a segurança ou independência do seu pessoal como condição para prestar ajuda", acrescentam as organizações.

Por fim, exigem a "abertura imediata e incondicional" de todas as passagens terrestres e condições para a entrega de ajuda humanitária vital.

A ofensiva israelita em Gaza começou depois dos ataques do Hamas, no poder no enclave desde 2007, a 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e perto de 250 foram feitas reféns.

Desde então, a operação militar israelita causou já mais de 61 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas, perante acusações de genocídio por vários países e organizações.

A ONU tem alertado para uma situação de fome generalizada no enclave, onde Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária desde há meses e que retomou recentemente, apesar de a União Europeia (UE) e organizações humanitárias reclamarem que a quantidade é insuficiente para suprir as necessidades da população de mais de dois milhões de pessoas.

As autoridades locais da Faixa de Gaza, controladas pelo Hamas, relatam mais de 200 mortes, das quais cerca de metade eram crianças, por fome e subnutrição.

 

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