No Tribunal Central Criminal de Lisboa, a sessão de hoje ficou marcada pelas alegações finais dos assistentes no processo Benfica, Benfica SAD e Benfica Estádio, bem como da representante do ex-presidente do clube Luís Filipe Vieira.
"O arguido é praticamente reincidente, não confessou os factos, não revelou um mínimo de arrependimento, estes factos revelam uma personalidade adversa às normas e regras sociais, há uma motivação fútil das suas ações e tem diversidade de alvos. Ponderando tudo isto, será justa uma pena, por mais de uma centena de crimes, mais próxima de um ano do que do limite máximo de 25 anos?", indagou o advogado Rui Costa Pereira, representante do Benfica, durante a sua intervenção.
Acusando Rui Pinto de procurar "o melhor de dois mundos" e "atirar areia para os olhos do tribunal", apregoando vontade de colaborar com a justiça, mas a "entrar mudo e sair calado" do tribunal, recusando-se a responder aos "ofendidos pelos seus crimes", o advogado do Benfica apontou que o arguido "procurou reinventar" o conceito de denunciante e lamentou não se saber em que processos colaborou.
"Rui Pinto é um justiceiro, e um justiceiro não é um denunciante. Merece proteção reforçada, por força da proximidade que tem, num contexto profissional, com a fonte das informações que acaba por revelar. Tentou comprovadamente extorquir uma das vítimas e apressou-se a montar um esquema que permitisse encobrir as suas motivações", disse, apontando que "tudo faz para fugir à responsabilidade".
Desta forma, constatou, o Benfica procurou a "reparação dos danos de natureza não patrimonial que foram provocados pela conduta criminosa de Rui Pinto", uma vez que os 'encarnados' "gozam de prestígio e reputação que vai além-fronteiras".
"É evidente que a ação do arguido provocou danos sobre esses valores, dado que a ação do arguido quebrou a imagem de integridade e segurança das informações. Seguiu-se insegurança, incredulidade, desconfiança e incerteza. Por maior que a segurança dos sistemas ou a confiança nas pessoas responsáveis seja, não existe pessoa ou instituição que não considere que pode voltar a acontecer", salientou.
A representar a Benfica SAD e a Benfica Estádio, o advogado David Silva Ramalho corroborou as acusações e detalhou o que, no seu entender, são incongruências nos argumentos de Rui Pinto, que "não tem uma boa história" e se apresenta em audiência já condenado a quatro anos de prisão, embora tendo a pena suspensa.
"O arguido já foi amnistiado de vários crimes, teve processos suspensos e, agora, sugere-se que a condenação fique no limiar dos cinco anos. Um 'hacker' já foi condenado a seis anos por 28 crimes informáticos. O arguido cometeu, ao todo, cerca de 500 crimes, está a ser julgado por mais de 200 e, a ser condenado, não deverá nunca ser condenado a menos de cinco anos", realçou ainda o causídico.
Marisa Falcão, representante de Luís Filipe Vieira, o presidente das 'águias' à data dos factos, sublinhou que Rui Pinto "nem ousa alegar, em sede de julgamento, a tese de denunciante", e que devem ser desatendidas as "palavras plasmadas na contestação", porque "não saíram da boca do arguido" e "não tem valor de prova".
"Luís Filipe Vieira sentiu-se responsável pela gestão dos danos e viu-se abalado profundamente durante meses pelas consequências que isto teve. Gerou imensa desconfiança entre todos e a fuga de segredos afetou parcerias do Benfica. Teve consequências também na esfera da vida privada. A sua mulher foi incomodada na rua e ele esteve quase um ano deslocado no Seixal para ter sossego", reforçou.
Rui Pinto responde em julgamento por um total de 241 crimes: 201 de acesso ilegítimo qualificado, 22 de violação de correspondência agravados e 18 de dano informático.
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