O antigo primeiro-ministro José Sócrates fez as primeiras declarações após a primeira sessão do julgamento da Operação Marquês, momento no qual acusou o antigo chefe de Governo António Costa de "covardia" e apontou que a sua inocência "já foi provada."
No Campus de Justiça, em Lisboa, Sócrates apontou que a juíza estava "com uma grande hostilidade e manifesta uma grande parcialidade."
Após ser ouvido, Sócrates afirmou tinha tido uma sensação de 'déjà vu'. "Já vi este filme. Isto, afinal de contas, o que se passa aqui foi exatamente o que se passou em três anos de instrução. vamos discutir as mesmas coisas. Aquilo que já foi desmentido. Todas as mentiras, invenções", acusou.
Sublinhando que já "provou a sua inocência", José Sócrates foi ainda questionado sobre por que razão chamou António Costa para ser testemunha: "É altura de António Costa dizer quem é que me apresentou Manuel Pinho. Foi ele que me apresentou. Não foi Ricardo Salgado, nenhuma dessas personalidades. Não tinha nenhum conhecimento com Ricardo Salgado [...]. Convoco António Costa para que a verdade seja clara."
O também antigo secretário-geral do Partido Socialista lamentou que Costa "estivesse calado durante estes anos todos" e acusou que esta é uma situação de "covardia."
"Juíza está a fazer aquilo que a PGR quer: Humilhação pública de alguém para salvar a face do Ministério Público", disse, depois de acusar os juízes de manter o "embuste".
O que diz o Ministério Público?
Já esta quinta-feira, o Ministério Público (MP) defendeu que se "vai bater" por dar como provados os factos que constam da acusação da Operação Marquês, tendo as defesas contrariado nas exposições introdutórias os crimes imputadas e pedido a absolvição dos arguidos.
"Bater-nos-emos para dar como provados os factos da acusação, daremos o nosso melhor", disse o procurador Rómulo Mateus na breve exposição introdutória do Ministério Público, que se declarou ainda vinculado a uma acusação e a um despacho de pronúncia.
Parte dos advogados de defesa prescindiram de declarações iniciais, mas os que falaram rebateram a acusação do MP e alguns pediram a absolvição dos seus clientes.
Pedro Delille, advogado de José Sócrates, disse que o seu cliente "seria favorável" a que fosse deferido o pedido dos canais televisivos CMTV e Now de transmissão integral do julgamento, "sem edições, em simultâneo" com o decurso do julgamento, pelo menos a partir do momento de produção de prova.
Segundo Delille, "a não transmissão do julgamento não satisfaz as necessidades de publicidade do processo", criticando ainda que o julgamento já se tenha feito "na praça pública, com o impulso do MP, desde o dia em que o engenheiro Sócrates veio de Paris".
Onze anos após a detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, arrancou hoje o julgamento da Operação Marquês, que leva a tribunal o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos e conta com mais de 650 testemunhas.
Estão em causa 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, pelos quais serão julgados os 21 arguidos neste processo. Para já, estão marcadas 53 sessões que se estendem até ao final deste ano, devendo no futuro ser feita a marcação das seguintes e, durante este julgamento serão ouvidas 225 testemunhas chamadas pelo Ministério Público e cerca de 20 chamadas pela defesa de cada um dos 21 arguidos.
[Notícia atualizada às 19h01]
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