À saída do tribunal para o intervalo da hora de almoço da segunda sessão do julgamento da Operação Marquês, José Sócrates, acusado de 22 crimes - três de corrupção, 13 de branqueamento e seis de fraude fiscal - exaltou-se com os jornalistas.
"Não me berre aos ouvidos, não precisa de berrar para eu ouvir", atirou a uma jornalista que o tentava questionar sobre as declarações feitas hoje durante a sessão do julgamento.
"Já viu alguma prova do que eles afirmam?", atirou, sem querer responder às perguntas dos jornalistas.
"Não ficou pedra sobre pedra [no julgamento]. Na minha intervenção tive ocasião de dar conta de um despacho, do secretário de Estado, que fixa aquele que foi, desde sempre a posição do Governo, a de neutralidade", atirou acusado os jornalistas de não quererem "noticiar" isso, por estarem "feitos com o sistema".
"Ao longo destes 10 anos, nunca o Ministério Público (MP) apresentou prova nenhuma. Ao Ministério Público basta insultar", atirou, gritando: "A pergunta que os jornalistas deviam estar a fazer a si próprios é como é que foi possível manter uma intrujice destas durante 10 anos. Só foi possível porque vocês, tal como eles são os responsáveis".
Após mandar calar mais uma vez os jornalistas, Sócrates virou as costas e foi almoçar.
Recorde-se que o antigo primeiro-ministro continua a tentar travar o julgamento da Operação Marquês.
Desta vez, Pedro Delille, o advogado de defesa do antigo governante quer que o Tribunal de Justiça da União Europeia se pronuncie sobre a qualificação dos crimes de corrupção, pelos quais o antigo-primeiro-ministro foi pronunciado pelo tribunal da Relação.
José Sócrates já terá apresentado cerca de uma centena recursos, reclamações e incidentes para travar o julgamento.
Até o ano passado, os tribunais aceitaram os sucessivos recursos para a Relação de Lisboa, para o Supremo Tribunal de Justiça e para o Tribunal Constitucional. No entanto, em novembro de 2024, o juiz desembargador Francisco Henriques recusou apreciar uma reclamação de Sócrates, dizendo que, desta forma, pretendia terminar com o "infindável carrossel de recursos".
José Sócrates está acusado de 22 crimes: três de corrupção, 13 de branqueamento e seis de fraude fiscal. Suspeita-se que o antigo primeiro-ministro recebeu 34 milhões de euros em subornos.
Sessões de julgamento marcadas por momentos tensos
Tanto a primeira sessão de julgamento como a segunda foram marcadas por momentos tensos entre José Sócrates e a juíza que preside ao coletivo de juízes, Susana Seca.
Durante a manhã de hoje, o engenheiro decidiu começar a fazer "a sua defesa" com o tema da Portugal Telecom (PT), elaborando uma longa explicação, com algumas declarações irónicas.
A certa altura, a magistrada pediu-lhe para resumir o que estava a querer dizer, uma vez que estava a fazer o tribunal "perder tempo".
Para abreviar, gostava que percebesse a perspectiva dos tribunais [...] Estas pessoas vem cá ou não confirmar o que está a dizer? Se disser que vêm cá, não é preciso estar a dizer o que elas vêm cá fazer".
"As declarações dos arguidos têm regras", continua a magistrada. "Se for ler todos os depoimentos prestados em instrução, não saímos daqui [...]. O senhor José Sócrates está a extremar a forma como os trabalhos estão a ser conduzidos e a perder tempo, essa parte é inútil" porque "está no processo".
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