Só no ano passado a Câmara retirou das praias duas mil toneladas de algas (que se desprendem e que são arrojadas à praia pelas ondas e marés) e teve inclusivamente de instalar um guindaste numa delas e colocar uma máquina para fazer a limpeza.
Desde então, nas praias afetadas, com substrato rochoso, a remoção de biomassa é um trabalho diário, disse o responsável à Lusa, admitindo que se as algas não fossem retiradas Cascais podia já não teria praias, porque a biomassa acabaria por se espalhar todo o lado.
A alga foi detetada no final de 2023 e a Câmara começou a recolher o material arrojado nas praias, mas rapidamente percebeu que seria um trabalho sem fim, disse Luís Capão, recordando que a alga, proveniente da zona do Japão, terá chegado à Europa por Gibraltar e sul de França, provavelmente nas águas de lastro dos navios ou na replantação de ostras (a casca, rugosa, pode albergar muitas espécies invasoras).
Depois espalhou-se pelas costas da Andaluzia, norte de Marrocos, ilhas Canárias, Açores e Madeira e no continente, especialmente na zona de Cascais e no Algarve.
"Tem uma capacidade de expansão impressionante e a colonização é assustadora", frisou o diretor municipal de Ambiente, explicando que, além de matar outras espécies de algas, a "Rugulopteryx okamurae" também afeta a fauna marinha. Testes com ouriços-do-mar mostraram que estes deixaram de se reproduzir com a presença da alga, disse.
A Câmara de Cascais tem estado a preparar um plano de ação e quer conhecer melhor o comportamento da alga, para saber como atuar.
Testou a hipótese de retirar as algas no mar, antes do arrojamento nas praias, mas no teste a rede partiu-se com o peso.
Na terça-feira, o Governo aprovou a Estratégia Nacional para a Gestão da Macroalga Invasora "Rugulopteryx okamurae", que está "a alastrar de forma preocupante na costa portuguesa", segundo um comunicado do executivo, e o responsável autárquico espera que a decisão dê um novo alento à luta contra a alga, que tem impacto na pesca, na biodiversidade, no uso das praias e na economia local.
"Em Cascais limpamos as praias todos os dias, na maré baixa. Todos os dias", disse à Lusa, adiantando que também se está a testar soluções para fazer da alga uma matéria-prima e não um resíduo.
Um exemplo é um protocolo entre o Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa, a Câmara de Cascais, e a "startup" OffKelp, na procura de soluções de uso da alga.
Isabel de Sousa, professora do ISA, especialista em ciência alimentar, explicou à Lusa que o protocolo prevê uma "ação em várias frentes" na procura de criar valor na alga, para que não vá encher ainda mais os aterros.
Os especialistas estão a testar a fermentação e a compostagem da alga, procurando entender o comportamento do tóxico que a alga tem.
"A alga tem um tóxico e por isso é que não tem predadores, os peixes não a comem. Mas o tóxico é ainda mal estudado e por isso queremos quantificá-lo com segurança. Pensamos que através da compostagem ou da fermentação conseguimos neutralizar o tóxico", disse a professora, esperando resultados em breve, porque há toneladas de algas acumuladas e é "quase uma emergência".
Nas palavras da responsável, neutralizar o tóxico é o início de outro processo, de usar a matéria-prima de várias formas, sendo que a que mais destaca é como fertilizante, porque a alga tem muitos minerais, importantes para os solos, e também é rica em cálcio.
"Como o tóxico atua a nível celular, se não for neutralizado vamos matar os micro-organismos no solo", avisou.
Outra utilização, que tem estado a ser estudada, é o uso da alga para fabricar "pellets", para queimar. Ou em compostos usados em farmácia ou cosmética, ou para produzir plástico.
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