Esta recomendação ao Governo surge no âmbito da consulta pública, que decorre até à próxima terça-feira, sobre a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania (ENEC), na qual o novo guião da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento dá menos atenção a temas como a sexualidade ou bem-estar animal e mais à literacia financeira ou ao empreendedorismo.
"O Oceanário de Lisboa considera fundamental a integração da literacia do oceano na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, reconhecendo-a como uma ferramenta essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e concretizar a Agenda 2030", salienta o diretor de Educação do Oceanário de Lisboa, Diogo Geraldes, numa resposta escrita enviada à Lusa.
De acordo com a entidade pública, que se dedica à pesquisa sobre biologia marinha e oceanografia, o mar deve ser incluído "de forma transversal" em todas as áreas da Educação para a Cidadania, promovendo "uma visão holística e interligada da realidade".
"A proteção de ecossistemas marinhos saudáveis deve ser reconhecida como um direito fundamental, transversal a todas as gerações", refere, realçando que "é crucial incentivar a participação cívica e informada no debate democrático sobre os grandes desafios ambientais, sociais e económicos -- sendo o oceano um dos temas centrais dessa reflexão".
Diogo Geraldes indica que a valorização do capital natural azul deve ser uma oportunidade educativa para explorar soluções inovadoras de bioeconomia, aliando sustentabilidade ambiental ao desenvolvimento económico e social, recordando que a "importância do oceano para o bem-estar humano é inegável", quer seja na regulação climática quer no impacto da poluição marinha.
"A compreensão da função dos ecossistemas marinhos na mitigação de catástrofes naturais e alterações climáticas pode ser integrada na educação para o risco. O oceano une geografias e culturas, sendo um elemento estruturante para desenvolver competências de cidadania local e global", observa.
O Oceanário de Lisboa reforçou que promover a literacia do oceano também "significa fomentar o pensamento crítico e a capacidade de decisão informada, pilares da participação democrática e da mobilização juvenil em prol do ambiente".
Para o organismo, a integração do oceano na educação formal vai contribuir para formar "uma geração mais informada, consciente e preparada para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação".
"Com mais de 27 anos de experiência na promoção da literacia do oceano em Portugal e a nível europeu, o Oceanário sublinha que a abordagem multidisciplinar dos temas marinhos permite desenvolver competências que atravessam várias áreas do currículo, estimulando a autonomia, o pensamento crítico e o compromisso com a sustentabilidade", sublinha.
Os contributos do Oceanário de Lisboa passaram ainda pela "identificação de lacunas" nas aprendizagens, propondo a inclusão de conteúdos ligados ao oceano que possam enriquecer o percurso educativo dos alunos e responder aos atuais desafios.
"Além das propostas pedagógicas, o Oceanário [de Lisboa] tem assumido um papel de liderança na mobilização de parceiros educativos, instituições e sociedade civil, incentivando a participação ativa na consulta pública e a promovendo a consciencialização sobre a importância de integrar o oceano como um dos pilares da Educação para a Cidadania", recorda.
Segundo o Oceanário de Lisboa, é um compromisso para a "construção de um futuro mais sustentável", através da "formação de cidadãos informados, comprometidos e participativos --- a chamada Geração Azul".
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