O debate em relação ao impacto da Inteligência Artificial tem tido dois lados diferentes. Se por um lado há quem acredite que não terá efeitos nocivos no mercado do trabalho e ajudará a criar empregos mais recompensadores para os trabalhadores, há quem considere que só servirá para despedir pessoas para as substituir por ferramentas de Inteligência Artificial.
O antigo ‘Chief Business Officer’ da Google X, Mo Gawdat, parece pertencer ao segundo grupo de pessoas uma vez que acha que até os CEOs de empresa têm o cargo que ocupam em risco.
Gawdat marcou presença num dos mais recentes episódios do podcast ‘The Diary of a CEO’ e, questionado se a Inteligência Artificial significará uma “era dourada” para a humanidade, o antigo executivo da Google mostrou-se cético.
“Acredito que isso é 100% treta. Os melhores em qualquer trabalho vão ficar. O melhor programador de software, o que percebe realmente de arquitetura, que percebe de tecnologia e por aí adiante vão ficar - por algum tempo”, afirmou Gawdat.
O antigo executivo da Google explicou que os CEOs e executivos de grandes empresas já se encontram neste momento a despedir pessoas e a substituí-las por Inteligência Artificial, aproveitando assim para criticar a ganância que (acredita) vai acabar por substituí-los a eles próprios.
“Os CEOs estão a celebrar que podem livrar-se das pessoas, ter ganhos de produtividade e reduções de custos porque a Inteligência Artificial consegue fazer esses trabalhos”, notou Gawdat. “A única coisa em que não pensam é que a Inteligência Artificial também os vai substituir. A Inteligência Artificial Generalista será melhor do que os humanos em tudo, incluindo ser um CEO. Tens de imaginar que chegará a uma altura em que a maioria dos CEOs incompetentes serão substituídos”.
Gawdat aproveitou para explicitar que “não há nada de errado com a Inteligência Artificial” enquanto tecnologia. “Há muita coisa mal com o sistema de valores na era da ascensão das máquinas. E o principal valor da humanidade hoje em diaé o capitalismo. E, afinal, o que é o capitalismo? Arbitragem laboral”, notou o executivo.
Os despedimentos já chegaram à Altice Portugal
A Bloomberg avançou esta quarta-feira, dia 6, com a notícia de que a Altice Portugal está a liminar cerca de mil empregos - o equivalente a 16% da força laboral - à medida que implementa Inteligência Artificial em funções consideradas redundantes.
De acordo com a agência financeira, cerca de 800 trabalhadores aderiram a um programa de rescisão contratual em julho, que cita o presidente do sindicato dos trabalhadores da Altice Portugal, Jorge Félix, somando-se aos 200 que já tinham acordado em sair.
A Bloomberg refere que contactou fonte oficial da dona da Meo, que declinou comentar os cortes de empregos em Portugal.
"Não podemos negar que a Altice precisa de se adaptar ao aumento da automação e da IA", salientou o responsável sindical em entrevista telefónica à Bloomberg.
"Também é verdade que a Altice precisa cortar custos e reduzir dívidas, e que essas medidas também tornam a empresa mais atraente para um possível comprador", acrescentou.
Em 29 de agosto do ano passado, o administrador financeiro (CFO) do grupo Altice, Malo Corbin, afastou a venda da dona da Meo, mas admitiu que o grupo continuaria a analisar oportunidades, nomeadamente a venda de alguns ativos da Altice Portugal.
A operadora de telecomunicações tem investido em IA, num mercado que cada vez mais aposta na tecnologia e mais concorrencial com a entrada da Digi, que tem ofertas de baixo custo.
[Notícia atualizada às 12:25]
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