Novos documentos selados obtidos pelo New York Times indicam que, entre 2017 e 2022, a Uber terá verificado situações de assédio ou agressão sexual em 400.181 viagens através da aplicação - o que equivale a uma situação de assédio sexual a cada oito minutos.
A empresa havia revelado apenas 12.522 casos de agressão sexual que considerou sérios, com os dados do New York Times a serem baseados em documentos internos, registos judiciais e ainda entrevistas com trabalhadores atuais e antigos da empresa.
Em reação, a responsável pelo departamento de segurança da Uber nos EUA, Hanna Nilles, afirmou à publicação norte-americana que “não há um nível ‘tolerável’ de agressão sexual”, notando todavioa que 75% das denúncias eram “menos sérias” uma vez que dizem respeito a comentários sobre aparência, conversas impróprias e também linguagem mais explícita.
A Uber anunciou em julho o lançamento de um novo serviço que permitirá a utilizadoras do serviço fazerem viagens apenas com motoristas mulheres - uma opção que estará disponível ao iniciar uma viagem através da Uber.
Um serviço pensado para a segurança das mulheres
No comunicado em que a funcionalidade foi anunciada, a plataforma eletrónica de transporte rodoviário em veículos descaracterizados (TVDE) explica que durante a fase-piloto, na cidade de Lisboa, a disponibilidade do serviço "poderá variar consoante o número de motoristas disponíveis, mas a opção estará acessível todos os dias da semana", sem qualquer custo adicional, sendo posteriormente alargado a outras cidades do país.
Com esta funcionalidade, disponível a partir da próxima semana tanto para passageiras como para motoristas, "a plataforma reforça o compromisso de tornar a experiência de mobilidade mais personalizada, confortável e ajustada às preferências das utilizadoras".
"Queremos que a Uber seja a plataforma mais conveniente e personalizada para todas as mulheres. Esta nova funcionalidade responde a um desejo claro de muitas motoristas e utilizadoras e representa também uma oportunidade para que mais mulheres se sintam motivadas a conduzir com a Uber, reforçando a sua autonomia e liberdade de escolha. Ao permitir que escolham quem as transporta ou quem transportam, estamos a tornar o setor mais inclusivo, representativo da população e atrativo para mulheres," afirmou o diretor geral da Uber em Portugal, Francisco Vilaça, citado na nota.
Na conferência de imprensa de apresentação do ‘Women Drivers’, Francisco Vilaça frisou que a opção "é uma situação de escolha e não de segurança", quando questionado sobre se a opção não passaria a ideia de insegurança no serviço geral.
"Há uma possibilidade de escolha, liberdade de escolha", reiterou.
Segundo a plataforma, a nova valência "vem responder a um desafio estrutural do setor da mobilidade, dado que atualmente apenas 9% dos motoristas de TVDE em Portugal são mulheres".
Para o responsável, apesar do número de motoristas mulheres parecer "ser baixo", a plataforma "quer que este cresça", sublinhando haver "uma base fiável para ter o projeto-piloto em Lisboa" e que poderá haver margem para crescer ao longo de seis meses, apesar de ser "um cronograma difícil de prever".
De acordo Francisco Vilaça, será "100% flexível" a motorista mulher transportar mulheres que tenham selecionado a opção, mas viajem acompanhadas de homens, podendo optar por recusar o pedido.
"O motorista mulher [à semelhança do que acontece atualmente] pode gerir as suas opções de viagem. Pode optar pela opção de transportar mulheres num horário e num outro escolher outro serviço", disse.
O lançamento em Portugal surge, de acordo com a Uber, após a implementação deste produto em mercados europeus como França, Alemanha e Polónia, e ainda na África do Sul, Argentina e Austrália.
A Uber já disponibiliza outras opções, como o ‘Uber Sénior’ e o ‘Uber for Teens’, dando "mais autonomia e liberdade aos mais velhos e aos adolescentes para que se possam deslocar de forma fácil e segura, com toda a confiança e acompanhamento da família".
"Ao criar condições que proporcionem maior liberdade de escolha, a Uber acredita que esta funcionalidade poderá contribuir para atrair mais mulheres para a atividade, tornando a condução numa opção profissional mais apelativa, flexível e ajustada às diferentes necessidades e preferências de cada mulher", lê-se no comunicado.
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