Artistas esperam que Sines mantenha "o amor pela cultura"

A meses de umas eleições autárquicas que podem trazer mudanças políticas para Sines, vários artistas juntaram-se no apelo para que a população da cidade alentejana mantenha "o amor pela cultura" e não deixe morrer o Festival Músicas do Mundo.

Concerto, Música,

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Lusa
26/07/2025 19:58 ‧ há 10 horas por Lusa

Cultura

Músicas do Mundo

Organizado exclusivamente pela câmara municipal há 25 edições, o Festival Músicas do Mundo (FMM) traz anualmente a Sines cerca de 100 mil espectadores, para dezenas de concertos de músicos de várias geografias e géneros.

 

"Cultura não é uma coisa de diversão para quem não tem o que fazer, cultura é direito da população e isso independe de qual é o partido que está no poder", considera a artista brasileira Bia Ferreira, que atuou no FMM pela segunda vez.

"A cultura é o que constrói um povo, um povo sem cultura é um povo morto", realça a cantora de 32 anos, que era criança quando o festival começou, mas sabe que o FMM fez com que Sines "seja conhecida como uma cidade que ama a cultura" e "seria muito triste" se isso desaparecesse.

O socialista Nuno Mascarenhas -- que sucedeu a Manuel Coelho, criador do FMM em 1999, dois anos depois de ser eleito autarca pela CDU -- não se pode recandidatar à câmara de Sines, cidade onde o Chega venceu as legislativas de maio.

"Não ficaria nada bem no currículo de um autarca ser o coveiro deste festival", nota Capicua, que atuou nesta edição, mas também frequenta o festival como espectadora.

"Este é um dos festivais mais interessantes que temos no panorama nacional, desde logo pelo público fiel que tem", aponta a artista portuguesa, considerando a programação "interessantíssima", num contexto cada vez mais ditado pela lei do mercado, e notando que "toda a cidade se mobiliza" para um encontro anual de "celebração da diferença".

Ao mesmo tempo -- destaca --, o FMM preocupa-se com a paridade entre artistas femininos e masculinos "e isso também é uma raridade" no contexto nacional.

"Seria uma perda inestimável não só para Sines, para o país, (...) que se descontinuasse este festival", frisa.

Estreante no "incrível" FMM, a portuguesa Lena d'Água conta que, quando viu o vídeo dos 25 anos do festival, se comoveu "com a riqueza artística" que já passou por Sines -- e também por Porto Covo, onde o festival tem há anos uma extensão.

"É maravilhoso este público, espetacular, a dançar, a sorrir, a cantar, a dizer coisas", descreveu, no final do concerto "à tardinha, [quando] por cima do sol já estava a descer aquela luzinha bonita".

"Se eu não tivesse cadelas velhas, que precisam de mim, ainda vinha para aqui passar uns dias", comentou, esperando que "o festival continue" com o próximo executivo.

No castelo de Sines, Lena d'Água cantou músicas de quando o FMM ainda nem tinha nascido. "A memória para mim sempre foi importante. Um povo sem memória é um povo sem raízes e um povo sem raiz é um povo que não tem suporte, que não está agarrado à terra, que não tem firmeza", vinca.

O FMM "é grande" e Bonga veio fazer a sua parte na "festa da diversidade", num "mundo que está uma porcaria".

Com quase 83 anos, o cantor angolano veio atuar ao FMM como quem já só vai "para aquelas festas que têm de facto muito peso, muita representatividade", e para satisfazer o público que o acompanha há mais de 50 anos.

Outro experiente músico, o moçambicano Roberto Chitsonzo, destaca "a simbologia" de um festival que congrega artistas de vários continentes, num espírito de convivência.

O FMM é um território onde se sente bem e onde a comunidade de língua portuguesa está também representada. "Para fazer a festa, para celebrarmos, para enaltecer as nossas culturas e trazer aquilo que é o mais belo dos nossos países", destaca.

Por exemplo, nesta edição houve espaço para o funaná de Cabo Verde, que tem em Sines uma das maiores comunidades em Portugal.

Transmitido de geração para geração, o funaná está agora nas mãos de Letício Ferreira Vaz e dos irmãos Adelino e António, que formam o trio Fidjus Codé di Dona e que estão já a ensinar filhos e sobrinhos.

"Não vamos parar, assim vai dar continuidade, para não morrer", realça Letício (mais conhecido como Tinho), querendo "abrir cancelas" para mostrar o funaná ao mundo inteiro.

A 25.ª edição do Festival Músicas do Mundo termina hoje, com fogo de artifício e nove concertos, entre os quais os das bandas portuguesas Miss Universo e Bateu Matou.

Leia Também: Festival Músicas do Mundo continuará, "venha quem vier"

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