"É impossível dizer que a I Liga tem mais nível que o campeonato saudita"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o português Fábio Martins, que tem estado a jogar na Arábia Saudita, fala sobre o antes e depois de Cristiano Ronaldo no país e aborda o futuro da carreira.

DAMMAM, SAUDI ARABIA - AUGUST 17: Fabio Santos Martins from Al Khaleej Club controls the ball during the Saudi Pro League football match between Al-Khaleej and Al-Ahli at Prince Mohamed bin Fahd Stadium on August 17, 2023 in Dammam, Saudi Arabia. (Photo b

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Davide Rodrigues Araújo
14/07/2025 07:52 ‧ há 5 horas por Davide Rodrigues Araújo

Desporto

Exclusivo

Fábio Martins colocou um ponto final no ciclo de três anos no Al Khaleej, não renovando contrato com a equipa da Arábia Saudita, tendo agora o futuro em aberto, mas ainda sem pensar num regresso a Portugal.

 

O jogador luso de 31 anos 'apanhou o gosto' pelo futebol do Médio Oriente, tendo passado praticamente a totalidade dos últimos cinco anos a jogar em campeonatos dessa região. Pelo seu país, representou o FC Porto, o Desportivo das Aves, o Sporting de Braga, o Paços de Ferreira, o Desportivo de Chaves e o Famalicão.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Fábio Martins conta como se adaptou a uma nova realidade e aborda o impacto da chegada de Cristiano Ronaldo ao futebol saudita. Pelo meio, o extremo português revela, ainda, aquilo que deseja para o futuro próximo. 

Com toda a formação feita no FC Porto, era um sonho jogar pela equipa principal dos dragões?

Sim, sem dúvida. Para um jogador que faz toda a formação no FC Porto, é impensável o sonho não ser esse. Infelizmente, não o consegui. Não sei, sinceramente, se ainda vou a tempo ou não, que já vou fazer 32 anos e em Portugal cada vez mais se olha para a idade, mas sim, era um sonho meu desde miúdo. Sou portista, o meu pai jogou no FC Porto, então por toda a envolvência queria muito ter chegado à equipa A, algo que acabou por não acontecer.

Após várias passagens intermédias, acaba por 'explodir' no Desportivo de Chaves. Em 36 jogos faz oito golos e duas assistências, esta foi a primeira época onde foi realmente uma aposta numa equipa sénior. Como lembra essa passagem?

Muito bem. Eu vou para o Desportivo de Chaves depois de uma época no Paços de Ferreira, que foi mais de adaptação, e essa época em Chaves tive o mesmo treinador que no Paços de Ferreira, que era o Jorge Simão e me levou com ele para lá. Sentia a confiança dele. As pessoas da cidade vivem mesmo o clube, acho que é um clube muito familiar, sentimo-nos em casa ali. Tudo isso ajudou a que as coisas corressem muito bem.

Tínhamos uma equipa engraçada, fomos à meia final da Taça de Portugal em que não vamos à final porque falhamos uma grande penalidade no final do jogo da 2.ª mão. Foi uma época positiva também a nível individual, conta sempre, porque olha-se muito para os números de um avançado e correu mesmo bem. A forma como as pessoas sentem o clube também ajudou, porque tu vais na rua e as pessoas abraçam-te e falam-te. Isso foi muito importante para mim.

Sente que se tivesse chegado à equipa principal do FC Porto não teria sentido esse ambiente familiar dos adeptos como aconteceu em Chaves?

Não sei, é diferente. Eu sou portista desde criança, fui habituado a ver os jogos e a ser apanha-bolas no Estádio do Dragão, por isso também me sinto em casa. O Desportivo de Chaves acabou por ser diferente, é um clube mais pequeno, a cidade também, tudo muito mais próximo e familiar. No FC Porto também me sentiria bem, porque foi onde cresci e as caras iriam ser muito conhecidas para mim e ia ser como casa também. Foram 12 anos ali.

Depois regressa ao Sporting de Braga, onde se afirma na equipa principal e acaba por se estrear nas competições europeias através da Liga Europa. Qual foi o sentimento?

Foi mais um patamar a que cheguei. Fiquei feliz, como é óbvio. Lembro-me que houve jogos ali no Vélodrome, em Marselha... Jogos bonitos de se jogar. Sentia que a minha carreira estava numa fase ascendente e num patamar bom em Portugal, como é o Sporting de Braga, uma montra grande. Essa primeira época a tempo inteiro no Sporting Braga foi muito boa para mim, apesar de não ser um titular indiscutível. Ia entrando... Depois tive uma conversa no final da época com o mister Abel. Ele disse-me claramente que os meus números eram de jogador titular, e que era quase como um 12.º jogador, que entrava mais vezes desde o banco e sentia-me bem. Acreditava que as coisas poderiam ter corrido melhor...

Na época seguinte, não tem tantos minutos no Sporting de Braga e acaba por ser emprestado em 2019/20 ao Famalicão, onde faz uma das melhores épocas da carreira. O que mudou?

O sentimento enquanto clube e cidade foi muito semelhante a Chaves. As pessoas também vivem muito o clube, apesar de existirem outros clubes na periferia, algo que não acontece em Chaves. Gostei muito de trabalhar no Famalicão porque sentia logo desde o início que havia uma ideia e uma visão no clube e que as coisas, mais cedo ou mais tarde, iriam acabar por correr bem para o clube. Sentia-se que as pessoas trabalhavam e eram muito competentes e o clube iria ter um crescimento sustentado, que é o que está a acontecer agora. As infraestruturas têm melhorado a olhos vistos.

Foi uma época muito boa e talvez a maior diferença de Chaves para Famalicão era a minha maturidade, já tinha um 'nome' na I Liga e, se calhar, as pessoas depois já olhavam para mim de outra maneira e felizmente as coisas correram bem.

Na época seguinte, o Fábio acaba por seguir para a primeira experiência no estrangeiro, no Al Shabab da Arábia Saudita, numa altura em que o campeonato não era tão mediático como é hoje. Como foi esta mudança?

Eu falo muito com a minha esposa e brincamos muito sobre isto, porque dizemos que fui o pioneiro e que fomos abrir a porta aos portugueses para a Arábia Saudita porque ainda não havia muitas pessoas lá. Foi muito natural. Quando acaba a época no Famalicão, tinha a ideia muito clara de ir para um 'grande', porque sentia que tinha qualidade para isso acontecer. Ou então, não acontecendo, porque tinha contrato com o Sporting de Braga e tinha uma cláusula de rescisão muito alta, e já sabemos como aquele presidente é a negociar, queria sair e experimentar outra coisa, algo diferente. É aí que aparece a oportunidade Al Shabab.

Ao início fiquei um pouco reticente, porque não conhecia, não sabia muito bem ao que ia, mas acabei por aceitar, principalmente pela parte financeira. Nunca o escondi que era muito mais vantajosa do que aquilo que tinha em Portugal e decidi arriscar.

Qual foi o primeiro choque de culturas que sentiu na Arábia Saudita?

Há vários, mas o que senti mais foi o horário de treino. Na Europa normalmente treinamos logo cedinho, de manhã, quando estamos logo fresquinhos para treinar. Lá senti que acordava e o treino estava muito distante ainda, porque treinamos ao final da tarde por causa do calor e acabam por ser muitas horas acordado. Os primeiros dias foram de constante adaptação. De resto, não tive grandes dificuldades em adaptar-me, porque a nível de alimentação eu e a minha esposa cozinhávamos em casa, e mesmo os restaurantes têm comida internacional em Riade. Os horários foram o mais difícil e depois é aquele choque de chegar ao aeroporto e ver as pessoas tapadas, que não estamos habituados, assim como as rezas no balneário.

O calor não foi um problema?

Foi, claro. Por isso é que também se treina mais tarde e o que se nota mais é que na altura do outono já não é tão alta a temperatura. Há calor, mas não é tão extremo, que acaba por aparecer a partir de abril até início de setembro. É muito difícil. Eu falava disso com colegas meus. Podem passar cinco a dez anos na tua carreira e é algo que o corpo não se consegue habituar.

Regressa novamente a Braga e faz a mudança em definitivo para outro país do Médio Oriente, para rumar ao Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos. A adaptação foi fácil, ou é um país que não tem nada a ver com a Arábia Saudita?

São dois países completamente diferentes. A Arábia é um país mais fechado e os Emirados são completamente diferentes. Viver em Abu Dhabi, perto do Dubai, é um país à parte. As pessoas acham que eu exagero quando falo assim, mas para mim é dos melhores países para se viver. A segurança, a qualidade de vida... Tens tudo lá.

Quando voltei ao Sporting de Braga tive aquela questão dos impostos e, apesar de ter havido a possibilidade de ficar lá, com essa condicionante dos impostos disse logo que era impossível ficar. Aliás, é difícil colocar na cabeça de um jogador que vai para fora receber 10 ou 11 vezes mais do que estava a receber em Braga, voltar para receber muito menos... Ainda cheguei a jogar, mas estava sempre a falar com o presidente e com o míster Carlos Carvalhal que tinha de sair.

Em 2022/23, volta à Arábia, para o Al Khaleej, numa altura em que Cristiano Ronaldo também ruma a esse campeonato. Sentiu diferenças depois da primeira passagem pela Liga saudita?

Sim, foi uma diferença brutal. Chego no mesmo ano em que o Cristiano Ronaldo vai para lá e não tem comparação. O impacto que ele teve, com todos os jogadores que foram depois dele, é um campeonato completamente diferente.

Depois de Cristiano Ronaldo chegar à Arábia, houve diferenças em termos de segurança?

Não, continuou tudo muito igual, porque já há segurança. Os países do Médio Oriente são muito seguros. Há algo que eu não posso dizer de Portugal, que é, lá, deixas um telemóvel na mesa ou perdes o telemóvel, ele vai estar no mesmo sítio que o deixaste horas depois e isso não acontece em Portugal. Aquilo que mudou foi precisamente a maneira como a Liga aumentou a visibilidade, o marketing porque imensos craques do futebol mundial chegaram e tiveram de melhorar um pouco em tudo, nomeadamente em infraestruturas.

Como foi a primeira vez que jogou contra o Cristiano? Já o conhecia pessoalmente?

Não o conhecia pessoalmente, mas foi um sonho realizado, porque é um exemplo para todos os jogadores portugueses, pelo que fez, por tudo o que deu e continua a dar ao futebol, e foi muito especial para mim. A primeira vez é sempre especial, mas depois acaba por se tornar normal, mas é sempre especial jogar contra o Cristiano.

Pediu-lhe alguma vez a camisola?

Sim, foi logo no primeiro jogo e cheguei até ele pelo Diogo Dalo. Pedi-lhe antecipadamente porque se esperasse pela altura do jogo ia ter muitos colegas a pedir-lhe. Então tentei ir dias antes para conseguir e felizmente acabei por conseguir.

Como compara a Liga saudita e a I Liga? Uma é mais fácil que a outra?

A intensidade acaba por não ser tão grande na Arábia Saudita por causa do calor, mas tudo o resto, e agora com os jogadores que lá estão, é impossível dizer que a I Liga é melhor que a saudita. Lá num jogo estás a defrontar Cristiano e Sadio Mané, no outro jogas contra Benzema, Fabinho e Kanté e a seguir contra o Firmino e o Mahrez... É impossível dizer que a I Liga tem mais nível que a saudita. Eu já passei pelas duas e não consigo dizer isso. A Liga saudita é melhor que a I Liga, na minha opinião.

Terminou contrato com o Al Khaleej. Já há planos para o futuro?

Tenho algumas abordagens, mas a verdade é que ainda não me decidi. Estou a ver se aparece mais alguma coisa interessante, mas até ao fim desta semana quero ter isso definido. A ideia é ficar na Arábia Saudita, mas vamos ver. Quero voltar a Portugal, sem dúvida, acabar a carreira no meu país, mas sinto que ainda não é o momento certo para isso.

O campeonato mais apetecível no Médio Oriente é o da Arábia Saudita, não só pela parte financeira, mas por tudo o que envolve a Liga em si. Há algumas abordagens também dos Emirados, tenho a curiosidade de experimentar o Qatar por nunca lá ter estado, mas a minha vontade seria ficar pela Arábia Saudita.

Leia Também: Cristiano Ronaldo revela motivo para jogar até 2027: "Vou ser campeão"

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