Se já ouviu pessoas com uma idade avançada falarem de cores e brilho ao relembrarem o passado, saiba que não são só as memórias que são mais vibrantes.
De acordo com uma pesquisa do Science Museum Group do Reino Unido, houve um aumento acentuado de objetos cinzentos no dia a dia desde meados do século XX, noticia o Guardian.
Mas essa monotonia pode ir além da predominância moderna de tons monocromáticos nos edifícios e carros um pouco por todo o lado.
Cientistas acreditam que a própria percepção das cores pode desvanecer-se, alterando a forma como vemos o mundo. Dependendo de como os nossos olhos, e cérebro, envelhecem, as cores que víamos em criança podem não ser tão brilhantes e vívidas se as virmos mais perto do fim da vida.
Alterações na percepção das cores podem ocorrer por várias razões. Um dos principais fatores são as alterações estruturais no olho. Por exemplo, uma catarata - condição que turva o cristalino do olho - pode gradualmente tingir a visão com uma tonalidade amarelo-acastanhada.
Nos EUA, são realizadas cerca de quatro milhões de cirurgias a cataratas por ano, revela a mesma publicação.
Alterações na percepção das cores também podem ser causadas por glaucoma ou degeneração macular. O oftalmologista Andrew Iwach, da Academia Americana de Oftalmologia, recomenda exames oftalmológicos de rotina e diz que, se notar esse tipo de alteração, deve consultar um especialista.
Um estudo científico de 2024 descobriu que até 15% dos casos globais de demência podem estar relacionados a problemas com a percepção das cores, o que significa que um exame oftalmológico pode ser um passo importante na detecção e mitigação da doença.
Alguns medicamentos também podem afetar a percepção das cores, diz Iwach, nomeadamente o Viagra e alguns tipos de medicamentos para o coração e para a tuberculose.
No entanto, estudos sugerem que, mesmo na ausência de doenças oculares ou uso de medicamentos, a percepção das cores pode mudar ao longo da vida.
Janneke van Leeuwen, neurocientista social e investigadora honorária do Queen Square Institute of Neurology da University College London, observou uma tendência subtil em estudos comportamentais das últimas três décadas: os idosos classificavam consistentemente as cores como mais opacas do que os participantes mais jovens.
O seu estudo de 2023 envolveu 17 jovens adultos e 20 idosos numa "experiência de rastreamento ocular" com 26 cores, que variavam em luminosidade (o quão clara ou escura uma cor parece ser) e saturação (o quão pura e intensa uma cor parece ser).
Usando uma câmara que registava o diâmetro da pupila 1000 vezes por segundo, a equipa de Van Leeuwen observou como as pupilas dos participantes reagiam a cada cor. Os investigadores descobriram uma redução na forma como as pupilas dos idosos respondiam a cores mais saturadas, mesmo quando corrigiam o tamanho reduzido da pupila que acompanha a idade.
Assim, parece que alguns idosos podem realmente perceber o mundo como menos colorido. A questão, explica Van Leeuwen citada pelo Guardian, "não tem necessariamente origem nos olhos, mas no cérebro".
As respostas da pupila são controladas pelo núcleo de Edinger-Westphal, uma estrutura do mesencéfalo que recebe informações da retina e do córtex visual. Isto significa que as reações pupilares refletem tanto o que os olhos detectam como a forma como o cérebro processa essa informação.
Assim, o cérebro torna-se menos sensível à saturação e à vivacidade das cores, não porque os olhos deixam de registá-las, mas porque o córtex visual pode deixar de interpretá-las com a mesma intensidade.
"Os idosos parecem ser particularmente menos sensíveis à intensidade das cores na via magenta-verde", indica, referindo-se às estruturas anatómicas do olho que ajudam a processar as cores.
São necessários mais estudos para entender o motivo, mas a causa provavelmente está na forma como os cones dos nossos olhos interagem com as vias de processamento de cores no cérebro.
Leia Também: Melhore a visão e proteja os olhos com estes sete alimentos