Kilmar Abrego Garcia, o salvadorenho que foi deportado dos Estados Unidos "por engano", afirmou que foi alvo de agressões violentas, privação de sono e tortura psicológica, durante os três meses que esteve detido na prisão de El Salvador.
Segundo a agência de notícias The Associated Press (AP), que cita documentos judiciais apresentados na quarta-feira no Tribunal Distrital Federal de Maryland, Abrego Garcia disse que foi agredido com tanta frequência quando chegou ao chamado Centro de Confinamento de Terroristas (Cecot) que, no dia seguinte, tinha hematomas e inchaços visíveis no corpo todo.
O salvadorenho denunciou ainda que, juntamente com outros 20 detidos, foi obrigado a ficar de joelhos durante uma noite inteira. Quem caísse de exaustão, era espancado
Os reclusos, revela o The Guardian, "ficavam confinados em beliches de metal sem colchões, numa cela sobrelotada, sem janelas, com luzes brilhantes acesas 24 horas por dia e acesso mínimo a saneamento."
Além disso, os guardas ameaçaram várias vezes que iriam transferir Abrego Garcia para celas com membros de gangues que o "rasgariam" em pedaços. As agressões e tortura fizeram com que o salvadorenho perdesse mais de 13 quilogramas durante as primeiras duas semanas de detenção.
O caso de Abrego García tem sido apontado por políticos e organizações para criticar a campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de deportações em massa. O salvadorenho de 29 anos tinha estatuto legal nos EUA que o protegia da deportação e é casado com uma cidadã americana.
Abrego Garcia, que residia no estado de Maryland, fugiu de El Salvador devido a extorsões e ameaças que ele e a sua família receberam do gangue Barrio 18, de acordo com documentos judiciais apresentados pela sua defesa.
As autoridades norte-americanas admitiram posteriormente que a deportação tinha sido um "erro administrativo", apesar de a administração Trump argumentar que Abrego Garcia, que não tem registo criminal nos EUA que o ligue ao crime organizado, é membro do gangue MS-13 - um grupo que foi recentemente denominado como uma organização terrorista global numa ordem executiva.
O salvadorenho foi devolvido aos Estados Unidos no passado dia 7 de junho para enfrentar acusações de tráfico de seres humanos e, atualmente, encontra-se numa prisão no Estado do Tennessee.
As acusações remontam a um encontro que o arguido teve com agentes da polícia no Tennessee em 2022, quando viajava com vários alegados imigrantes sem documentos.
Abrego Garcia declarou-se inocente na primeira audiência sobre estas acusações, que teve lugar a 13 de junho em Nashville, Tennessee.
Enquanto decorria a audiência, centenas de pessoas protestaram à porta do tribunal para pedir a libertação do arguido e a abolição da agência de imigração ICE (Immigration and Customs Enforcement).
Na semana passada, a juíza Barbara Holmes, de Nashville, decidiu que Abrego Garcia tem o direito de ser libertado enquanto aguarda julgamento, mas decidiu mantê-lo sob custódia pelo menos por mais alguns dias, devido à preocupação de que os funcionários da imigração dos EUA tentassem rapidamente deportá-lo novamente.
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