Numa carta ao procurador-geral do exército, a ACRI justifica o pedido de investigação com comentários e ações, que considera constituírem punição coletiva dos palestinianos, por parte do general comandante da Região Militar Central de Israel.
"Pedimos-lhe que ordene a abertura de uma investigação contra o major-general Bluth por suspeita de crimes de guerra", escreveu a ACRI no ofício, datado de domingo.
Os 'media' israelitas divulgaram nos últimos dias um vídeo no qual Bluth ordenou o recolher obrigatório e o cerco de aldeias palestinianas no território palestiniano, ocupado por Israel desde 1967.
No vídeo, Bluth refere-se à detenção de um palestiniano da aldeia de al-Mughayyir, na Cisjordânia central, acusado pelo exército de ter levado a cabo um "ataque terrorista".
"Cada aldeia [palestiniana] e cada inimigo (...) pagarão um preço elevado", disse o oficial, acrescentando que as aldeias dos agressores palestinianos poderão ser cercadas, sujeitas a recolher obrigatório ou passar por operações de "remodelação paisagística" nos seus terrenos.
Protegidas pelos soldados, as escavadoras israelitas arrancaram no domingo centenas de árvores, incluindo muitas oliveiras, em al-Mughayyir.
Contactado pela AFP, o exército explicou que tinha "limpado" parte do terreno após uma "série de ataques terroristas com origem nesta aldeia", acrescentando que a vegetação "impediu a identificação de movimentos inimigos".
A ACRI acusa o exército de cortar as árvores para impor "punição coletiva" aos palestinianos de al-Mughayyir.
"Durante meses, todos os limites foram ultrapassados na Cisjordânia, e os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade tornaram-se uma ocorrência diária. Por vezes, o exército está ciente deles e outras vezes participa, mas não é todos os dias que reconhece publicamente a sua participação e se gaba disso", escreveu a organização na sua carta.
O procurador-geral militar, Yifat Tomer-Yerushalmi, não confirmou à AFP a receção da carta.
Bluth vinha sendo criticado nos últimos meses por grupos de colonos radicais pela sua condenação dos actos de violência cometidos por estes últimos.
Natural de um colonato judaico na Cisjordânia, Bluth serviu anteriormente como adido militar do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
Na quinta-feira, 21 Estados, incluindo Portugal, e a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros apelaram para o abandono urgente do projeto de construção de novos colonatos israelitas que dividirão a Cisjordânia ocupada.
Na sua declaração, as duas dezenas de ministros dos Negócios Estrangeiros e a chefe da diplomacia europeia consideraram o plano de construir novos colonatos junto de Jerusalém inaceitável e instaram Israel, "nos termos mais veementes", a revertê-lo de imediato.
Em resposta, a diplomacia israelita considerou inaceitável que governos estrangeiros falem "em nome do bem comum" e reivindicou o "direito histórico dos judeus de viver em qualquer lugar da Terra de Israel".
A posição do Governo de Benjamin Netanyahu surge cerca de um mês antes da Assembleia-Geral das Nações Unidas, na qual alguns países, incluindo França, Reino Unido, Canadá e Portugal, pretendem reconhecer o Estado da Palestina.
O projeto prevê mais de três mil casas em território palestiniano ocupado e é ilegal à luz do Direito internacional.
Ao aprovar esta construção, Israel procura ligar o colonato de Ma'ale Adumim --- fundado há cerca de 30 anos e onde vivem atualmente cerca de 40 mil colonos -- a Jerusalém, dividindo a Cisjordânia e dificultando ainda mais a viabilidade de um futuro Estado palestiniano.
Os planos para estes colonatos estavam suspensos há duas décadas devido à forte oposição dos Estados Unidos e da comunidade internacional.
Leia Também: Israel rejeita "Estado terrorista jihadista" na Cisjordânia