Numa carta dirigida a Macron, o embaixador dos Estados Unidos há algumas semanas em funções em Paris, Charles Kushner, pai de Jared Kushner, genro do presidente, Donald Trump, expressou "profunda preocupação com o aumento do antissemitismo em França e com a ação insuficiente do governo para combatê-lo", juntando-se às recentes críticas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
"Acusações inaceitáveis" e que violam o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de um Estado, segundo o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) francês, que as "refuta veementemente".
O Departamento de Estado norte-americano reagiu afirmando "apoiar as declarações" do seu embaixador.
"O embaixador Kushner é o representante do governo dos Estados Unidos em França e está a fazer um trabalho notável ao promover os nossos interesses nacionais nesse cargo", afirmou o porta-voz adjunto, Tommy Pigott, num comunicado citado pela agência francesa AFP.
Hoje contactados, nem o MNE francês nem a embaixada dos EUA confirmaram até agora se o diplomata foi recebido.
As críticas de Kushner surgem dias após Netanyahu acusar o presidente francês de "alimentar o fogo antissemita" ao apelar para o reconhecimento internacional do Estado da Palestina.
Uma análise "errada, abjeta e [que] não ficará sem resposta", já tinha respondido a presidência francesa.
Na sua carta, o embaixador norte-americano retoma os argumentos de Netanyahu, sustentando que "declarações que difamam Israel e gestos de reconhecimento de um Estado palestiniano encorajam os extremistas, fomentam a violência e põem em perigo a identidade judaica em França".
"Não se passa um dia em França sem que judeus sejam agredidos nas ruas e sinagogas, escolas sejam vandalizadas e empresas pertencentes a judeus sejam destruídas", insistiu.
Os atos antissemitas estão em clara ascensão em França desde 07 de outubro de 2023, data do ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas em Israel e do início da guerra israelita na Faixa de Gaza.
Entre janeiro e junho de 2025, foram registados 646 atos antissemitas em França, menos 27% que no mesmo período de 2024 - de acordo com números hoje divulgados pelo Ministério do Interior francês -, mas mais do dobro dos 304 atos do período homólogo de 2023.
O antissemitismo atingiu "níveis intoleráveis", reconheceu hoje a ministra francesa responsável pela luta contra a discriminação, Aurore Bergé.
Mas "o combate do governo francês ao antissemitismo é inequívoco", assegurou, considerando "a questão demasiado grave (...) para ser abordada ao nível diplomático".
Uma opinião partilhada por Patrick Klugman, advogado de várias vítimas francesas do 07 de outubro de 2023 e representante do Memorial de Yad Vashem em França.
"Independentemente das posições, por vezes contestáveis, de França em relação a Israel, as autoridades públicas conduzem uma ação constante, incontestável e resoluta contra o antissemitismo", atestou, numa mensagem dirigida a Charles Kushner na rede social X.
"Há seis anos que não se comete um homicídio antissemita em França, enquanto nos Estados Unidos, infelizmente, ocorreram vários", observou Klugman, instando o embaixador a ser um "intermediário útil" na "luta contra o ódio 'online'".
"Ajude-nos a convencer as grandes plataformas - todas norte-americanas - a deixarem de fornecer espaço ao ódio antissemita e de permitir a sua exportação para fora das vossas fronteiras", exortou.
No final de julho, Macron anunciou que França vai reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia-Geral da ONU em setembro e, em seguida, mais de dez países ocidentais, entre os quais Austrália e Canadá, instaram outros países do mundo a fazerem o mesmo.
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