O diretor da unidade de Dermatologia do Hospital de Santa Maria apresentou demissão, ao final do dia de segunda-feira, 23 de junho, depois de ter sido confrontado com os resultados preliminares do relatório interno solicitado pelo presidente do Conselho de Administração às cirurgias adicionais, avança a CNN Portugal.
De acordo com o canal de televisão, Paulo Filipe, que é também presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia, será agora substituído no maior hospital do país por uma diretora interina.
À agência Lusa, fonte hospitalar confirmou a notícia, revelando que, na segunda-feira à noite, o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria reuniu-se com o diretor da unidade de Dermatologia e confrontou-o com alguns resultados preliminares do relatório interno das auditorias solicitadas na sequência de notícias divulgadas pela TVI/CNN relativamente aos gastos abusivos praticados por dermatologistas daquela unidade hospitalar.
Após ser confrontado com estes dados preliminares, o diretor da unidade de Dermatologia colocou o lugar à disposição, o que foi aceite pelo presidente do Conselho de Administração.
400 mil euros em 10 sábados
Em causa está o alegado aproveitamento do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), que permite fazer cirurgias fora do horário laboral, de modo a reduzir as longas filas de espera nos hospitais.
Só um dos dermatologistas do Santa Maria - Miguel Alpalhão - terá ganho mais de 400 mil euros em 10 sábados, com as chamadas cirurgias adicionais (inclusive aos próprios pais). Mas não será o único.
De acordo com a CNN Portugal, foram vários os dermatologistas desta unidade hospitalar que se aproveitaram das cirurgias adicionais - criadas para diminuir as listas de espera - para faturar milhares de euros.
Dermatologista colocou no seu nome cirurgias feitas por outros médicos
Além do médico Miguel Alpalhão, que, entretanto, garantiu ao jornal Expresso ter operado "quem precisava de ser operado, segundo as regras que foram definidas superiormente", também a dermatologista Rita Travassos terá tirado benefício próprio das operações.
De acordo com a CNN Portugal, a médica registou a realização de cirurgias em seu nome, que foram feitas por médicos internos, enquanto se encontrava num congresso em Itália. Só em 2024, Rita Travassos encaixou 113 mil euros em sete sábados.
Depois da primeira reportagem sobre o escândalo das cirurgias adicionais, em maio, o presidente do Conselho de Administração ordenou a abertura de cinco auditorias internas envolvendo a Dermatologia.
Após ser conhecido o caso de Santa Maria, a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde instruiu os hospitais para que garantam maior racionalidade nos serviços de dermatologia, limitando a realização de cirurgias fora de horário normal a casos oncológicos ou benignos muito prioritários.
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