O processo da Operação Marquês, que tem como principal arguido José Sócrates, foi interrompido devido às férias judiciais, mas nem nesta ‘pausa’ o antigo primeiro-ministro deixa de criticar a atuação da Justiça.
Em entrevista à CNN Portugal, no domingo, José Sócrates acabou por reiterar o que já tinha dito, noutros momentos -, como por exemplo, à porta do tribunal, no Campus da Justiça, em Lisboa, onde já decorreram várias sessões do mediático julgamento.
Para o antigo governante socialista a atuação da Justiça portuguesa na Operação Marquês é um "abuso", um "arbítrio", uma "injustiça" e uma "violência". José Sócrates continua a dizer que foi "considerado inocente" – apesar de nunca ter sido considerado ilibado da totalidade dos crimes – e, depois, alvo de uma "acusação feita à traição e de surpresa".
Então, para José Sócrates a solução encontrada pelo Ministério Público (MP) para o levar novamente a julgamento foi simples. "Houve um lapso de escrita, muda-se o crime e 'se não foste tu, foi o teu pai'", atirou.
"Em 2017, acuso-te de uma coisa, sete anos depois, acuso-te de outra, venceste à primeira, mas aqui tens uma acusação surpresa", atirou, garantindo que "em 2024, três juízes disseram-lhe: "'Não senhor, agora mudámos a acusação porque houve um lapso de escrita'".
"Mas qual lapso de escrita? Sete procuradores enganaram-se todos ao mesmo tempo?", questionou, tal como já tinha feito durante todas as sessões de julgamento que já ocorreram.
O arguido entende, por isso, que não houve qualquer lapso de escrita e classifica a manobra como "uma golpada judicial" criada para o obrigar a ir a um segundo julgamento. Com que objetivo? "Não se conformaram com o primeiro, porque eu fui considerado inocente de todas as acusações no tribunal de instrução e agora, para me levarem a julgamento", garantiu, salientando que "estamos há 10 anos nisto".
"Acham que têm o direito de fazerem o que fazem? Eu acho que essa é a verdadeira pergunta", destacou, sem responder a algumas das perguntas do jornalista da CNN Portugal.
Recorde-se que José Sócrates foi detido no Aeroporto de Lisboa e acusado pelo Ministério Público (MP), em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, a 9 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar o antigo governante de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento apenas por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos.
Porém, em janeiro de 2024, uma decisão da Relação recuperou quase na totalidade a acusação do MP.
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