Um professor de dança, natural do Porto, está a ser acusado por dezenas de ex-alunas de assédio sexual, nas redes sociais.
Os primeiros testemunhos começaram a surgir há cerca de uma semana em diversas páginas do Instagram como 'Não Tenhas Medo', 'Mais Um Casting' e através de ativistas como Francisca de Magalhães Barros e Inês Marinho.
São dezenas as publicações de conversas em que o professor em questão, hoje também fisioterapeuta, trata as jovens, algumas das quais menores, por "meu anjo", "anjo diabólico", "meu amor" e diz-se "completamente apaixonado".
Algumas das mensagens enviadas pelo professor surgem acompanhadas por fotos em tronco nu e vídeos a dançar, a mandar beijos e a falar de uma forma 'melosa'.
Mas há mais: "Apetecia-me tanto abraçar-te", "'bora dar uns beijos?", "vou-te mandar um beijinho feito agora para ti", "foste muito marcante", "quando é que terminas como o teu namorado para te pedir em casamento?", "Queres que confesse uma coisa ou é melhor estar calado?", "anda mas é ter com o teu futuro namorado" e "estou completamente apaixonado por ti" são apenas alguns dos exemplos de conversas que J. mandava às alunas e que estas decidiram agora tornar público, apesar de manterem o anonimato.
A maioria das vezes, como é possível ver nas capturas de ecrã das conversas, partilhadas nas redes sociais, as palavras do professor não têm nenhuma resposta. Mas ele continua. Vezes e vezes sem conta. Insiste, apesar de só obter silêncio de parte das vítimas.
A persistência é tanta que, em alguns casos, provocam "ataques de ansiedade", como conta uma das jovens. "Manda-me mensagens absolutamente horripilantes que me provocam, muitas vezes, ataques de ansiedade", lê-se numa publicação. Outra queixosa garante que J. "respondia e responde" a todos os 'stories' que coloca nas redes sociais.
Numa outra publicação, feita há cinco dias, uma outra jovem conta que tinha 14 anos quando o professor em questão começou com os "comentários inapropriados". "Porque é que não usas calções para as minhas aulas? Umas pernas assim merecem ser vistas", questionava-lhe, alegadamente J, enquanto a olhava de uma forma "invasiva", assim como a "outras colegas da turma".
"Assediada" quando tinha apenas 13 anos
Nas mesmas contas de denuncia outros dois testemunhos chocantes. Uma ex-aluna de J. que diz que começou a ser "assediada" quando tinha apenas 13 anos e outra aos "14/15 anos". "A maneira como ele exemplificava os exercícios era extremamente desconfortável, a tocar-nos, a fazer comentários, era tudo muito estranho", assegura.
Ao Notícias ao Minuto, a responsável pela conta 'Não Tenhas Medo' revelou que "inúmeras raparigas expuseram a sua situação com o J." às escolas que frequentavam. Mas a resposta é que ele era um pouco "trengo, mas boa pessoa".
Já às autoridades, "por medo de não conseguirem trabalho ou ficarem mal vistas no mundo da Arte", as vítimas não apresentaram, pelo menos para já, queixa contra o professor.
Afastado pela direção da ACE Escola de Artes
Entretanto, com a divulgação dos 'prints' das conversas enviadas pelo professor de dança às alunas, a ACE Escola de Artes emitiu um comunicado nas suas redes sociais, garantindo que o docente em causa "por decisão da direção, cessou o seu vínculo com a escola em abril de 2025".
"Na ACE estão implementados vários mecanismos de despiste e prevenção de situações de abuso, assédio e discriminação, tais como a Comissão de Ética e o Canal de Denúncia. Assim, a ACE assume, de forma inequívoca, o respeito pelas pessoas da sua comunidade escolar, agindo de forma clara e decisiva, perante qualquer informação ou denúncia. Reafirmamos o nosso compromisso com o rigoroso cumprimento dos princípios e valores que definem o nosso Projeto Educativo e que tem merecido a confiança de milhares de alunas e alunos ao longo de quase quatro décadas da nossa história", realça a escola na mesma nota.
Ao que tudo indica, J. terá sido não só expulso da ACE Escola de Artes após várias queixas de assédio sexual, como de outro estabelecimento de ensino.
O Notícias ao Minuto já contactou também o Centro Dança Porto para confirmar se J. ainda continua a dar aulas neste espaço e se alguma vez receberam queixas relacionadas com o comportamento do professor. No entanto, até ao momento, não obteve qualquer resposta.
Já J., apesar de estar a ser amplamente mencionado e até marcado nas redes sociais, ainda não reagiu às acusações.
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