"A nossa mais-valia é a natureza. É impossível continuar a fazer as atividades. Ardeu tudo, está tudo negro. O que as pessoas vêm ver e desfrutar desapareceu. Mais de metade da faturação do ano desapareceu. O impacto é gigante. Estamos muito preocupados, não só com a temporada, mas com os empregos que ficam em causa", descreveu à Lusa Joel Pereira, sócio de uma empresa de 'canyoning' (descida de rios e ribeiros de montanha com desníveis) com 20 anos e sede na freguesia de Entre-Ambos-os-Rios, em Ponte da Barca, distrito de Viana do Castelo.
Joel só hoje subiu até à Serra Amarela, na zona da Ermida: "Estava tudo negro. Dói-me a alma", resumiu, questionando "quais vão ser os próximos passos" e "o que as entidades vão fazer, em conjunto com a comunidade, para que não se repita" o cenário.
De acordo com o responsável pela empresa que acolhe três mil clientes por ano e uma equipa de cinco pessoas a tempo inteiro e cerca de 20 'freelancers', na região vive-se "um drama", com "impacto local muito grande na economia".
"A natureza tornou-se triste. Tornou-se uma montanha preta, de cinzas. Antes, era verde. Agora, mete pena", descreveu Nuno Rodrigues, responsável por um restaurante e alojamento no Lindoso.
No domingo teve de fechar o estabelecimento mais cedo, para ajudar uma funcionária que "viu a casa ameaçada" em Parada.
"As pessoas perderam animais, perderam tubagens que levavam a água para suas casas. Os trilhos foram destruídos, perderam a beleza. A nossa propriedade não foi afetada mas já tive cancelamentos. De um momento para o outro, ficámos sem clientela", explicou.
Nuno Rodrigues descreve que, "de momento, cheira muito a fumo" e dois trilhos "muito populares, entre Lindoso e Ermida e entre Ermida e Germil, estão queimados".
"Ninguém vai querer passear no meio das cinzas. Vai demorar anos a recuperar isto. Isso vai ter um impacto para nós", lamentou.
Anna Altshul, proprietária de um parque de campismo em Entre-Ambos-os-Rios, observa que o espaço se situa "numa Península entre Ponte da Barca e o Lindoso", porque está "rodeado pela água dos rios" e "não há hipótese de o fogo lá chegar".
Na segunda-feira tinha 150 clientes, hoje tem 23 e há pessoas "a desmarcar reservas até ao fim de agosto".
"A nossa única possibilidade de fazer negócio para passar o inverno é agora", disse.
Anna diz que "o pior já passou" e sublinha que o PNPG abrange cinco concelhos, pelo que há zonas que não foram afetadas, que "não têm fumo e estão bonitas".
"Estou quase a chorar com o que se está a passar. Passei duas horas durante a manhã a tentar explicar às pessoas que ligam a cancelar que aqui está tudo bem. Nem sei se vou conseguir manter o negócio e as equipas. Precisamos de fazer negócio agora, na época alta", justificou.
Caminhadas e trilhos são atividades que não aconselham, mas "perto da água o perigo não existe" e continuam a realizar-se passeios de moto 4 ou de jipe.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) foi criado em 1971 e é gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Ocupa uma área com cerca de 70 mil hectares, distribuídos por cinco concelhos: Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca (Viana do Castelo), Terras de Bouro (Braga) e Montalegre (Vila Real).
De acordo com o 'site' da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), pelas 15:00 de hoje o fogo que deflagrou no sábado mobilizava 387 operacionais, apoiados por 127 viaturas e quatro meios aéreos.
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