Avelino Lima, responsável pelo Grupo de Acompanhamento Permanente e Apoio para os Fogos Florestais da Polícia Judiciária (PJ), revelou que a maior parte dos incendiários são homens, embora se tenha verificado, no último ano, um aumento do número de mulheres detidas, com "baixa literacia" e "problemas de consumo", sobretudo de álcool.
Numa entrevista à CNN Portugal, o também diretor da PJ do Centro explicou que, desde 2015, já foram estudados cerca de 700 autores de incêndios, o que já permite um "conhecimento técnico bastante firme" no que diz respeito ao seu perfil.
"Estamos a falar, essencialmente, de homens - embora, por exemplo, houve uma alteração no ultimo ano, em que cerca de 20% já era do género feminino -, de pessoas com baixa literacia, com problemas de consumos, essencialmente de álcool, e algumas disfuncionalidades familiares", disse.
"Ou seja, estamos a falar, efetivamente, do grosso modo, de indivíduos que não têm formação", concretizou.
No que diz respeito à intenção, Avelino Lima indicou que "não se consegue atribuir uma causa minimamente compreensível desta realidade".
"Temos indivíduos que simplesmente lhes apeteceu naquele dia fazer qualquer coisa, outros que acham o espetáculo que se cria à volta do combate algo que os estimula, indivíduos que passaram pela mata e fazem a ignição e não sabem sequer indicar a causa para esse feito", explicou. "Não é possível, neste momento, de forma concreta e objetiva, atribuir uma causa para esse tipo de comportamento", apontou.
Por outro lado, o responsável indicou que a PJ não tem "elementos que corroborem" a existência de crime organizado por detrás de algumas destas ocorrências.
"Temos indivíduos suspeitos de autoria de incêndios com mais competência na prática deste crime, mas daí a chegarmos a crime organizado neste tipo de ilícito ainda não temos elementos para poder afirmar isso", declarou.
Incêndios já consumiram quase 42 mil hectares
Note-se que os incêndios florestais já consumiram este ano quase 42 mil hectares, oito vezes mais que no mesmo período de 2024 e o valor mais elevado desde 2022, de acordo com dados do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR) destacados pela agência Lusa.
Os dados revelam que desde 01 de janeiro registaram-se 5.211 incêndios, que provocaram 41.644 hectares de área ardida. Além disso, 72% da área ardida e 53% dos fogos deste ano verificaram-se na região Norte, onde os incêndios têm ocorrido com mais intensidade na última semana, especificamente nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Porto.
Mais de metade da área foi consumida pelas chamas desde 26 de julho.
Em comparação com o mesmo período do ano passado, o número de incêndios quase duplicou este ano e a área ardida é oito vezes maior. Em 2024, até ao dia 05 de agosto, tinham ardido 4.671 hectares e este ano ardeu 41.644 hectares.
Apesar de a maioria dos fogos ainda estarem a ser investigados, os dados indicam que 19% das ocorrências de incêndio tiveram como causa o uso do fogo e 14% o incendiarismo.
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