"Mêda foi subtraída de um enorme potencial florestal, vinícola e agrícola. É preciso que o Governo declare a situação de calamidade para o nosso território e crie mecanismos de apoio diretos aos nossos agricultores, empresários e sociedade civil em geral", defendeu o vice-presidente da Câmara, César Figueiredo, em declarações à Lusa.
O fogo entrou no território do município de Meda na quarta-feira, vindo do concelho de Trancoso.
Lamentando que durante três dias o concelho tenha sido 'esquecido', o autarca defendeu a necessidade compensar rapidamente as pessoas afetadas.
"Investem-se milhões na Proteção Civil e nós ficámos com os tostões, que é o que temos agora", realçou o autarca, que é também proprietário agrícola e produtor vitivinícola, adiantando que a Câmara Municipal já começou a apurar os prejuízos causados pelas chamas para os munícipes serem "rapidamente" compensados, "com apoios objetivos, concretos".
"As pessoas estão fartas de subsídios e os políticos, em Lisboa, têm que perceber que esta gente precisa de ajuda já, porque o futuro avizinha-se dramático para muitos medenses", salientou.
Pois, lamentou, "muita gente perdeu o que amealhou durante toda a vida, ficou absolutamente sem nada, sem vinhas, pastos, olivais, animais, alfaias agrícolas e outros bens".
César Figueiredo adiantou ainda que, também devido aos fogos, a sede do concelho está hoje parcialmente sem energia elétrica.
"Não há eletricidade em vários pontos da cidade e têm ocorrido quebras de energia mais acentuadas em determinadas zonas da Mêda", disse o vice-presidente da Câmara Municipal.
Ainda de acordo com o autarca, o concelho "ardeu todo", com exceção de uma percentagem "muito reduzida", que fica do outro lado do Itinerário Principal (IP) 2, que liga a autoestrada 25 ao Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa, na zona de Barreira.
O balanço destes últimos dias, acrescentou, é "completamente devastador".
Esta noite, as zonas que estão a ser mais fustigadas pelas chamas é em Longroiva, Fonte Longa e junto à sede do concelho, depois de ter ameaçado a aldeia histórica de Marialva.
"Há uma frente ativa em direção à cidade de Mêda, outra, muito grande, na zona de Fonte Longa, que pode continuar para o concelho de Vila Nova de Foz Côa, e mais uma em Longroiva, a zona de maior potencial vinícola do nosso concelho", especificou o autarca.
O incêndio que deflagrou há uma semana em Trancoso (distrito da Guarda) juntou-se depois no território ao fogo que eclodiu na quarta-feira em Sátão (distrito de Viseu) e, na sexta-feira, tornou-se um só, que se alastrou a 11 municípios dos dois distritos.
Os 11 municípios são: Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Penedono e São João da Pesqueira (distrito de Viseu); Aguiar da Beira, Trancoso, Fornos de Algodres, Mêda, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa (distrito da Guarda).
A página oficial na Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) tem os meios distribuídos pelos dois incêndios de origem.
Pelas 23h20, em Sátão estavam mobilizados 753 operacionais, apoiados por 253 veículos, e em Trancoso 433 operacionais, com 144 veículos.
No total, o incêndio mobilizava 1.186 operacionais, apoiados por 397 veículos.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração do estado de alerta, em vigor até domingo.
Os fogos provocaram um morto e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, ao abrigo do qual deverão chegar, na segunda-feira, dois aviões Fire Boss para reforço do combate aos incêndios.
Segundo dados oficiais provisórios, até 16 de agosto arderam 139 mil hectares no país, 17 vezes mais do que no mesmo período de 2024. Quase metade desta área foi consumida em apenas dois dias desta semana.
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