Em declarações aos jornalistas à margem de uma concentração hoje em Lisboa de protesto contra a NATO, Paulo Raimundo sustentou que "a postura corajosa e que correspondia aos interesses" de Portugal seria colocar-se de fora de "uma cimeira de guerra", que procura desviar para "as grandes empresas do armamento" recursos que deviam ser dedicados aos salários e pensões.
"O caminho dos povos não é o caminho da guerra, o caminho dos povos não é o caminho da destruição, o caminho dos povos é o caminho da paz", declarou o líder comunista, que marcou presença na concentração "Paz sim, NATO não", convocada pela central sindical CGTP e pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação.
Paulo Raimundo criticou "uma tremenda hipocrisia e um tremendo cinismo que se expressa em várias frentes", citando os ataques nos últimos dias de Israel e dos Estados Unidos no Irão e "a forma como muitos se pronunciaram sobre isso, partindo de pressupostos completamente diferentes" do que tinham feito recentemente sobre outros conflitos no mundo, numa alusão à invasão russa da Ucrânia.
Em causa na Cimeira da NATO, pode estar uma meta de 3,5% do PIB em despesas de defesa tradicionais (forças armadas, equipamento e treino) e outros 1,5% em infraestruturas de dupla utilização (militar e civil), bastante acima do atual compromisso de 02% dos membros da Aliança Atlântica, incluindo Portugal.
Referindo-se também aos planos europeus de mobilizar 800 mil milhões de euros para o setor de defesa, Paulo Raimundo advertiu o Governo no sentido de que "Portugal não é uma província da União Europeia, não é um apêndice da NATO e muito menos é uma base militar dos Estados Unidos".
A propósito da utilização da Base das Lajes pelos Estados Unidos, nos Açores, antecedendo os bombardeamentos da aviação norte-americana na madrugada de domingo contra instalações nucleares iranianas, o dirigente do PCP argumentou que "o território nacional não pode ser utilizado para plataforma da guerra" e que "o Governo tem de à altura da sua soberania, ou então não vale a pena cá estar".
Raimundo dirigiu também fortes críticas ao secretário-geral da NATO, Mark Rutte, que hoje teceu amplos elogios ao "grande sucesso" da operação militar dos Estados Unidos no Irão, através de uma mensagem divulgada pelo líder da Casa Branca, Donald Trump, e confirmada pela organização.
"Uma pessoa [Rutte] que escreve aquilo que escreveu, naquele lamber de botas ao Trump, e da forma como o disse, só pode ser considerado um ex-secretário-geral, não pode iniciar uma Cimeira da NATO naquelas circunstâncias", condenou.
Em alternativa à sua demissão, Raimundo ironizou, referindo que o ex-primeiro-ministro neerlandês "vai ter de suportar, à grande, e se quisermos à francesa", o substancial acréscimo dos gastos que os países europeus deverão adotar em defesa.
O líder partidário questionou esta opção num país que, apontou, teve cinco urgências fechadas no sábado e seis no domingo, assinalando também dois milhões de pessoas na pobreza e 300 mil crianças pobres, além de metade dos trabalhadores com vencimentos ate mil euros e a crise na habitação.
Empenhar 05% do PIB em defesa apenas serve "os interesses do Trump e da indústria militar norte-americana, que é isto, no fundamental, que está em cima da mesa", destacou.
À margem do protesto, que hoje juntou algumas dezenas de pessoas no centro de Lisboa, Paulo Raimundo exigiu ainda que Portugal reconheça o Estado da Palestina, onde Israel lançou uma vasta operação militar na Faixa de Gaza, em resposta aos ataques do grupo islamita Hamas, em 07 de outubro de 2023 em solo israelita.
"Qualquer dia somos os últimos, não temos mais ninguém para estar à espera", lamentou o secretário-geral do PCP, ao admitir que um reconhecimento "não resolve o problema, mas era um sinal importantíssimo, um sinal político para ajudar a travar o genocídio que está em curso".
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