A socialista Ana Gomes analisou, no seu espaço de comentário político das noites de domingo, na SIC Notícias, os tumultos violentos que tiveram lugar, na semana passada, em Torre Pacheco, na região de Múrcia, em Espanha.
A comentadora teme que o que ocorreu no país vizinho possa acontecer em Portugal, uma vez que há cada vez mais episódios de racismo e xenofobia em Portugal.
Questionada sobre o debate do Estado da Nação, Ana Gomes aproveitou para falar do assunto, admitindo que não está a gostar do que está a ver.
"Regressei desta viagem a Timor-Leste e Japão e encontro um clima mauzão, há maldade no ar, no ar e não só. O que se passou em Torre Pacheco, na província de Murcia, milícias organizadas, racistas. Contra imigrantes, essenciais, aliás, para o funcionamento da economia local. E ao mesmo tempo todo um discurso a ser normalizado da extrema-direita. Ainda ontem, aqui na SIC Notícias, uma deputada do Chega a falar da grande substituição, da remigração, da deportação, etc. E depois a ver o Governo de Luís Montenegro a normalizar tudo isto. Incluindo, fazendo aquilo que André Ventura disse ser um acordo de princípio e que, de resto, foi confirmado pelo ministro Abreu Amorim. Um acordo exatamente sobre a imigração e ligado aos temas da nacionalidade", realçou.
Para Ana Gomes, não há dúvidas que o Executivo da Aliança Democrática (AD) e o Chega querem "restringir direitos humanos essenciais" e foi isso que fizeram, nomeadamente com a questão do "agrupamento familiar", que é, defende, "uma condição básica para promover a integração dos imigrantes, como sabemos com os nossos emigrantes".
"Todo este ambiente induz que se esteja a criar condições para haver incidentes tipo Torre Pacheco por cá. É certamente o que está na agenda de muita gente e sem cuidar das implicações sociais, políticas, económicas - há setores que não funcionariam sem imigrantes - e as consequências que este tipo de medidas terão para os nossos emigrantes, porque, com certeza, haverá retaliações por parte de alguns países", assegurou, passando a 'batata quente' para Marcelo Rebelo de Sousa.
"Penso que é mesmo muito importante que o Presidente da República não aceite a alterações à lei da nacionalidade que foram propostas, aliás, sem consulta, sem os pareceres que seriam normais e necessários, e que mande isso para o Tribunal Constitucional", atirou.
Recorde-se que, na última semana, houve uma série de tumultos, relacionados com ações racistas e xenófobas, na Torre Pacheco, em Múrsica, Espanha. Mais de uma dezena de pessoas foram detidas.
Durante esses dias, além de imigrantes, os extremistas perseguiram jornalistas.
Por cá, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, confirmou, em entrevista à rádio Observador que houve um acordo de princípio com o Chega, sobre a lei da nacionalidade.
O governante validou, assim, o que foi dito pelo líder do Chega, André Ventura, e que foi contrariado pelo primeiro-ministro, no debate do Estado da Nação.
Recorde-se que o Governo de Montenegro quer por normas mais rígidas para a concessão de nacionalidade portuguesa, tendo apresentado recentemente propostas de alteração à lei da nacionalidade. E também quer apertar as regras de quem quer viver em Portugal, propondo mudanças à lei dos estrangeiros. Eis aqui algumas das alterações propostas.
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