Num ano em que se realizam as eleições presidenciais no Benfica, a apresentação de um novo projeto e de vários reforços pode ser vista como uma manobra de sufrágio por parte de Rui Costa, quando se aproxima a data de os sócios das águias irem a votos.
Em declarações exclusivas ao Desporto ao Minuto, Gaspar Ramos, antigo diretor desportivo do Benfica analisa o "Benfica District" apresentado por Rui Costa a três meses das eleições, assim como os reforços que têm sido apresentados, até ao momento.
"Benfica District é uma perfeita loucura"
Rui Costa informou, esta terça-feira, que a direção do Benfica já tem em marcha um plano para aumentar a lotação do Estádio da Luz para 80 mil lugares, já depois da subida de 65 mil para 68.100 espectadores, na presente temporada.
As ideias passam pela construção de uma piscina comunitária, um campo de futebol ao ar livre, novos pavilhões e melhorias no exterior do estádio. Além dos restantes candidatos à presidência, também Gaspar Ramos considera que isto não passará de uma manobra eleitoral por parte do presidente encarnado, apontando para os custos do projeto.
"É evidente que as pessoas que têm bom senso e são equilibradas reconhecem que isto é meramente um ato eleitoral que foi preparado logo, porque, hoje, fazer projetos é fácil, nem é preciso ser arquiteto para fazer estas coisas, desde que tenha imaginação. Com a digitalização, tudo é possível", começou por dizer o ex-dirigente encarnado.
"Tudo isto é campanha eleitoral. Não é possível, e falar nisto até é ofensivo, quando todos sabemos das limitações económicas e financeiras que o Benfica tem, sobretudo financeiras, estar a pensar fazer uma obra destas agora. Nós ainda nem tivemos o retorno do investimento que foi feito nesta área toda que circunda o Estádio da Luz e já estamos a pensar noutro, numa altura em que não temos dinheiro para isso", acrescentou.
"Se isto fosse real, tínhamos de pedir financiamentos e tínhamos de pagar o serviço da dívida caríssimo, pelo que isto é uma perfeita loucura. O Benfica é um clube eterno, não acaba amanhã. Um dia, se calhar, vai ser necessário o Benfica fazer uma obra idêntica à que agora se propõe, neste momento, no sentido de ampliar os seus serviços relativamente aos sócios", continuou Gaspar Ramos.
"Mas, neste momento, em que até o Real Madrid, que é o clube mais rico do mundo, andou anos a adiar as obras para transformar o Santiago Bernabéu, tomar-se isso como exemplo... O Benfica é o Benfica, com as limitações que tem, e temos de olhar para aquilo que é essencial. Para aquilo que é necessário fazer em termos essenciais, nós temos uma infraestrutura excelente. O que é preciso é tomar decisões certas, coerentes, que não sejam feitas pura e simplesmente com o objetivo eleitoralista", atirou.
Bons reforços comprovam-se em campo
Até ao dia de hoje, 24 de julho, foram confirmados cinco reforços para o plantel do Benfica, e não foram reforços quaisquer, uma vez que está a ser feito um investimento forte para a nova temporada, com a chegada de Rafael Obrador, Enzo Barrenechea Amar Dedic e Richard Ríos, não esquecendo a oficialização da permanência de Samuel Dahl, que tinha estado emprestado em 2024/25.
"Rui Costa está a procurar fazer um brilharete até outubro e não olha a meios, portanto, vai por aí fora, porque o objetivo dele é ganhar as eleições. Está a procurar fazer de tudo para conseguir isso, independentemente dos custos", apontou.
"Estes jogadores todos que vêem? A publicidade que é feita sobre eles é boa e até poderemos ter de acreditar que isto possa ser mesmo assim, mas, para mim, só o são quando nós os vemos em campo, a evoluir em conjunto com a própria equipa. A partir daí é que nós vemos e podemos confirmar se são bons reforços ou não", reiterou o antigo diretor das águias.
"O que se está a fazer pode ser muito importante, mas também pode ser um desastre. Não há dúvida nenhuma de que não é só com nomes que se faz uma boa equipa. É preciso um bom balneário, é preciso ter uma série de coisas que faltaram no passado recente, e a estrutura que está lá é a mesma. Isto pode ser um desastre desportivo e financeiro, se as coisas não correm bem", confirmou.
"Deveria haver mais moderação, não dar um passo mais largos que a nossa capacidade, porque pode justificar um clima terrível que depois se vai refletir na imagem no clube e na sua situação económico-financeira", confessou.
"Eliminação da Liga dos Campeões poderia ser ruinosa"
Estar na fase de liga única da Liga dos Campeões é um objetivo claro para as águias e o não cumprimento desse mesmo objetivo poderá ter contornos 'catastróficos' para o clube da Luz a nível económico e desportivo, já que vários reforços se juntaram ao plantel de Bruno Lage com o propósito de disputar a prova milionária.
"Se o Benfica for eliminado da Liga dos Campeões, isso é algo integrado no plano de Rui Costa até outubro. Ele quer fazer um brilharete e aposta tudo, mas o início de uma situação que pode ser ruinosa é exatamente a eliminação da Champions", analisou o ex-dirigente encarnado.
"Depois, há uma série de coisas que podem acontecer a seguir, porque ainda temos a Supertaça, o início da I Liga, que podem, ou não, contribuir para que o Rui Costa se sinta à vontade para ter condições de ganhar as eleições, que é o grande objetivo dele. Não sei porquê, o que está por trás... A obsessão é tão grande que eu preocupo-me muito. Ele, em particular, e não é só de agora, porquê tanta obsessão para ganhar as eleições, correndo em risco de colocar o Benfica em causa desportivamente e economicamente?", concluiu.
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