O diretor-geral da organização não-governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Thibaut Bruttin, considerou hoje um insulto que Israel chame "terroristas" aos jornalistas que mata na Faixa de Gaza e classificou alegadas provas apresentadas pelo exército como "totalmente absurdas".
Numa entrevista dada à agência de notícias espanhola EFE, hoje publicada, o líder da ONG de defesa dos jornalistas de todo o mundo adiantou ter analisado algumas das provas que foram fornecidas por Israel, considerando que não fazem sentido.
Segundo Bruttin, embora o exército israelita tente repetidamente "apresentá-los como terroristas", muitos dos repórteres mortos em Gaza foram visados só por serem jornalistas.
Dos mais de 200 jornalistas mortos no enclave palestiniano desde o início da guerra, em outubro de 2023, a RSF acredita que "cerca de 50 casos" foram propositados.
"Os jornalistas são civis", sublinhou o diretor-geral da RSF, lembrando que não são vítimas colaterais do conflito.
Thibaut Bruttin denunciou ainda a dificuldade para retirar da região os jornalistas feridos e a necessitar de cuidados médicos.
Embora observe uma mudança nos meios de comunicação social em relação à responsabilidade das tropas israelitas em ataques a civis, lamenta que o exército israelita dissemine agora que a informação prestada pelos jornalistas é "propaganda total", enquanto antes, em geral, tentava envolver-se com a imprensa internacional de forma "muito responsável".
Sobre os efeitos do recente confronto entre Israel e o Irão, Bruttin destacou que em ambos os países há "muito pouco espaço" para a liberdade de imprensa, embora a níveis diferentes.
O diretor-geral da RSF condenou o ataque à sede da televisão estatal iraniana, mas também sublinhou que este canal "não é de todo um serviço público", mas sim uma fonte de propaganda.
"Estamos do lado do jornalismo que importa, realizado de acordo com os princípios da honestidade e da realidade, e não é o caso da televisão estatal iraniana", disse.
Por isso, afirmou na mesma entrevista que a sua principal prioridade no Irão é "garantir que a informação sai do país e garantir a segurança dos jornalistas atualmente detidos", lembrando que Israel bombardeou a prisão de Evin, onde estão detidos ativistas políticos e jornalistas.
No caso de Israel, Bruttin alertou para o endurecimento da regulamentação dos 'media' que está a ser desenvolvida pelo atual Governo, liderado por Benjamin Netanyahu.
De acordo com o responsável da RSF, muitos órgãos de comunicação social israelitas seguem as ordens das autoridades militares e implementam a censura, restando muito poucos independentes a desafiar "corajosamente" esta postura.
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