O político moçambicano e ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane reagiu, nas suas redes sociais, ao episódio que envolveu os humoristas do 'Tons de Comédia', em específico Gilmário Vemba, de quem será amigo.
"Gilmário, meu irmão! Já estás batizado", escreveu no Facebook, no domingo, 20 de julho - dia em que os humoristas foram impedidos de entrar Moçambique.
Mondlane afirmou também hoje à Lusa que a recusa de entrada em Moçambique a um grupo de humoristas, para um espetáculo, incluindo Gilmário Vemba, teve "motivações políticas", por o angolano ser seu "apoiante".
"Eu acredito que sim, porque o Gilmário, para além de ter sido um dos primeiros angolanos que afirmativamente se posicionou em relação à verdade eleitoral de Moçambique, ele também foi, digamos assim, o embaixador da minha marca pessoal que lancei em Portugal", disse em declarações aos jornalistas à chegada ao aeroporto de Maputo.
Note-se que, no início da noite de domingo, o assessor de Venâncio Mondlane, Dinis Tivane, também recorreu ao Facebook para dizer que Gilmário Vemba foi "impedido de entrar em Moçambique por expor as suas opiniões".
No vídeo partilhado pelos humoristas, no domingo, onde explicavam a situação que viviam no aeroporto, é possível ver que alguns dos internautas associaram este episódio ao facto de Venâncio Mondlane e Gilmário Vemba terem partilhado um vídeo juntos no início do mês (8 de julho), após um encontro em Lisboa.
Nesse vídeo, Mondlane e Vemba exaltaram 'Anamalala', que em língua macua, falada no norte de Moçambique, significa "vai acabar" ou "acabou" - expressão usada pelo político durante a campanha para as eleições gerais e que se popularizou nos protestos convocados pelo ex-candidato presidencial nos meses seguintes -, acrónimo do partido que está a tentar legalizar: Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamalala).
De notar que Venâncio Mondlane foi derrotado por Daniel Chapo, atual presidente moçambicano, e não reconhece os resultados das eleições, que aconteceram a 9 de outubro de 2024, em Moçambique.
Moçambique viveu desde as eleições de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.
Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após um encontro entre Mondlane e Chapo, em 23 de março, repetido em 20 de maio, com vista à pacificação do país.
Recorde o que aconteceu
Os humoristas Hugo Sousa (português), Gilmário Vemba (angolano) e Murilo Couto (brasileiro) - 'Tons de Comédia' - foram retidos, no domingo, no aeroporto de Maputo, em Moçambique, quando tentavam entrar no país, para fazer um espetáculo agendado para a tarde desse dia (20 de julho).
"Antes de mais queremos pedir desculpa a todas as pessoas que já estão aí no teatro. Estamos aqui no aeroporto de Maputo e tivemos aqui um problema, que ainda não temos bem a certeza do que é", explicou Hugo Sousa, acrescentando: "Não nos deixam entrar no país".
Já esta segunda-feira, o diretor-geral do Serviço Nacional de Migração (Senami) moçambicano justificou a recusa de entrada no país a três humoristas por o terem tentado fazer com visto de turismo, quando pretendiam realizar um espetáculo.
"Vieram ao país mas não obedeceram aos critérios pelos quais eles vinham. Porque eles vinham para dar um espetáculo, um 'show'. É uma atividade cultural", disse o diretor-geral, Zainedine Danane, questionado pela Lusa à margem do evento que assinalou hoje os 50 anos do Senami, em Maputo.
Também esta segunda-feira, o 'Tons de Comédia', em comunicado, explica que, após o desembarque e antes de se dirigiram ao balcão de imigração, foi abordada "por um agente da autoridade" que lhes solicitou os passaportes, "alegando que lhes seria concedida prioridade devido à proximidade do espetáculo".
Quando a comitiva se dirigiu ao balcão de imigração, "o mesmo agente requereu o visto de atividades culturais".
"O grupo respondeu que havia solicitado o mesmo apenas para o Murilo Couto, dado que, por ser brasileiro, não poderia beneficiar da isenção de visto. Para tal, foi notificado a apresentar o comprovativo de estadia em Maputo, devidamente carimbado pelo hotel. Este documento foi enviado poucos minutos após a sua solicitação, nos dias anteriores à viagem, mas nunca houve qualquer resposta", pode ler-se.
Uma vez que "dispunham de toda a documentação necessária, o grupo mostrou-se disponível para proceder com o visto de fronteira e para efetuar o pagamento correspondente", tendo em conta que estava afixada uma "tabela de preços" nos balcões disponíveis para esse fim.
Note-se que à Lusa, um elemento da Showtime explicou que o objetivo era, no aeroporto, adquirir o visto de atividades culturais e prosseguir viagem e o espetáculo.
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