A divulgação dos registos de vigilância ao ativista Prémio Nobel assassinado em 1968 envolve cerca de 200 mil páginas que estavam sob sigilo judicial desde 1977, quando o FBI reuniu os registos e os entregou à Administração Nacional de Arquivos e Registos (NARA, na sigla em inglês).
A família de King, incluindo os seus dois filhos vivos, Martin III e Bernice, foi notificada com antecedência da divulgação e mandou as suas próprias equipas rever os registos antes da divulgação pública.
Num longo comunicado divulgado também hoje, os dois filhos de King enfatizaram a natureza pessoal do assunto e pediram que "estes ficheiros sejam analisados no seu contexto histórico completo".
"Pedimos àqueles que se envolvem na divulgação destes ficheiros que o façam com empatia, moderação e respeito pelo luto contínuo da nossa família", adiantaram Martin III e Bernice, que tinham respetivamente cinco anos e 10 anos quando o pai foi morto.
Donald Trump prometeu, enquanto candidato, divulgar arquivos relacionados com o assassínio do presidente John F. Kennedy em 1963.
Quando tomou posse em janeiro, Trump assinou uma ordem executiva para desclassificar os registos de JFK, juntamente com os associados aos assassínios de Robert F. Kennedy e King, em 1968.
O governo tornou públicos os registos de JFK em março e divulgou alguns ficheiros de RFK em abril.
A divulgação surge numa altura em que Trump tenta apaziguar apoiantes que protestam pela falta de transparência do seu executivo quanto aos registos da investigação de tráfico sexual de Jeffrey Epstein, que se suicidou na prisão enquanto aguardava julgamento em 2019.
O vice-procurador-geral Todd Blanche apresentou na sexta-feira uma moção instando o tribunal a divulgar as transcrições do grande júri do caso, depois de Trump ter instruído o Departamento de Justiça a fazê-lo.
As críticas de apoiantes de Trump escalaram depois de o Departamento de Justiça anunciar, há duas semanas, que não divulgaria mais nenhuma prova em sua posse relativa à investigação de Epstein.
Os registos de King, por sua vez, deveriam ser mantidos em sigilo até 2027, mas os advogados do governo solicitaram a um juiz federal que revogasse a ordem de sigilo antes da sua data de expiração.
Académicos e jornalistas esperam encontrar nos registos novas informações sobre o assassínio de King, a 04 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee.
A Conferência de Liderança Cristã do Sul, co-fundada por King em 1957, quando florescia o Movimento dos Direitos Civis afroamericano, opôs-se à divulgação, argumentando que o FBI monitorizou ilegalmente o ativista e outros dirigentes, colocando escutas nos seus escritórios e linhas telefónicas com o objectivo de os desacreditar, bem como ao seu movimento.
"A intenção da campanha COINTELPRO do governo não era apenas monitorizar, mas desacreditar, desmantelar e destruir a reputação do Dr. King e do Movimento Americano pelos Direitos Civis em geral", afirmaram os filhos de King.
"Estas ações não foram apenas invasões da privacidade, mas ataques intencionais à verdade - minando a dignidade e as liberdades dos cidadãos comuns que lutavam pela justiça, com o objetivo de neutralizar aqueles que ousavam desafiar o status quo", adiantaram.
James Earl Ray declarou-se culpado pelo assassínio de King, mas depois renunciou à confissão e manteve a sua inocência até à sua morte, em 1998.
A viúva de King, Coretta Scott King, solicitou a reabertura da investigação e, em 1998, a então procuradora-geral Janet Reno ordenou que o caso fosse revisto pela Divisão de Direitos Civis do Departamento de Justiça, que concluiu não haver "nada que perturbasse a decisão judicial de 1969" que condenou Ray pelo assassínio.
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